Educação e complexidade na vida de Edgar Morin

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A prática da educação binária resume a dois valores de verdade que nos testes ou exame apareceverdadeiro versus falso, quando, na realidade lógica o simplismo que se pretende é incorreto. Tal simplismo roça a insensatez da vida porque a vida é incerta, complexa e imprevisível por natureza. Só nas sociedade ditatoriais e totalitárias é que se tira a cor complexa da vida e se a reduz a preto e branco, tudo se torna insípido e incolor. A vida é feita e apercebida com a complexidade dos cinco sentidos. Quem dá uma forte topada em criança fica a saber que o pensar é também da ordem da sensibilidade, do sentir, e não da ordem da cognição ou que a cognição mexe com a totalidade do corpo. Em Edgar Morin o Todo e a Complexidade faz parte da sua visão do Conhecimento. 
Edgar Morin é um autor que há muito me interessa. Já no ensino Secundário o estudei e dei a estudar e no Ensino Superior Universitário é uma Referência, dada a Complexidade do seu Pensamento, com incidência em várias áreas do Conhecimento. 
Da vida, de um Percusrso. (alguns aspetos), enunciado na contracapa do livro: Lições de um século de vida, na muita vida subjacente a tanta escrita e a tanto pensar: 
“EDGAR MORIN, nascido a 8 de julho de 1921, vive em Paris, resistiu ao nazismo e depois ao estalinismo, ator político independente, é sociólogo do contemporâneo, iniciador do pensamento complexo, é hoje diretor emérito de investigação no CNRS, onde preside ao Comité Científico Ciências e Cidadãos. É presidentes da Agência Europeia para a Cultura (UNESCO), presidente da Associação para o pensamento complexo, membro fundador da Latinidade, codiretor da revista Comunications. É investigador e membro honorário do Instituto Piaget, que lhe outorgou, em abril de 2002, o Prémio Poética do Pensar. De sua autoria as Edições Piaget já publicaram. Introdução ao Pensamento Complexo; Amor, Poesia, Sabedoria; O Desafio do Século XXI;Terra-Pátria; Vidal e os seus; Repensar a Reforma, Reformar o Pensamento; Os Sete Saberes para a Educação do Futuro; Educar para a Era Planetária; Diálogo sobre a Natureza Humana; Cultura e Barbárie Europeias; A Violência do Mundo; Filhos do Céu; Inteligência da Complexidade Epistemológica e Pragmática; O Meu Caminho; O Espírito do Tempo; A via e mudemos de via.”
Ora, toda a obra educacional e científica de Edgar Morin é atravessada pelo conceito vivo e dinâmico de complexidade. As As partes e o todo estão em constante interligação. Falar de Educação implica, na sua natureza, falar em complexidade e em conceitos crescentes de complexidade, como vamos ver. Não temos por um lado a educação e por outro e ciência da complexidade, sem a ciência da complexidade não se pode entender a educação no seu dinamismo e na sua interligação. 
Na base das conceções educativas estão conceções epistemológicas, que desafiam e sustentam os universos da educação. Na base de uma educação simplista está uma lógica binária, na base de uma educação complexa está uma abordagem complexa da realidade, uma abordagem que está para além de uma lógica binária, a realidade é multireferencial e diz-se de diversos modos. 
Vejamos a tese de que parte Edgar Morin: 
“Existe uma inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre os nossos saberes separados, partidos, compartimentados entre disciplinas e por outro lado realidades ou problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais, globais, planetários. (Morin.2002, p. 13). 

Para o Autor, de facto, “a hiperespecialização impede ver o global (…)” “Os problemas essenciais nunca são parcelares e os problemas globais são cada vez mais essenciais. “ (Morin.2002, p. 13). Deste modo, os conhecimentos e saberes disciplinares são insuficientes, urge uma interdisciplinaridade crescente, em “inter-poli-disciplinaridade”. Na gnoseologia de Edgar Morin assumem relevo o “contexto”, a “globalidade” e a “complexidade”. Tudo isso é importante para o “conhecimento pertinente”. Por detrás dos problemas do ensino há uma complexidade em interligação e em interconexão, sem essa inteligibilidade tudo fica fragmentado. O que se passa, por exemplo, com as questões do planeta e com o ambiente. 
Como devemos, então, pensar o ensino, que é parte integrante da Educação?
Afirma Edgar Morin: 
“Devemos, então, pensar o problema do ensino por um lado a partir da consideração dos efeitos, cada vez mais graves, da compartimentação dos saberes e da incapacidade de os articular uns aos outros, por outro lado, a partir da consideração que a aptidão para contextualizar e integrar é uma qualidade fundamental do espírito humano, que trata mais de desenvolver do que atrofiar.” (Morin, 2002, p. 16). 
Numa reflexão holística e de confronto com a realidade de exames, temos de levantar a questão: como conjugar essa conceção contextual e aberta com uma lógica restrita e estreita dos saberes? A disciplina tem de ser confrontada com outras lógicas. Por isso no ensino se fala cada vez mais em interdisciplinaridade. O ensino interdisciplinar é uma saída prática e conceptual. Talvez por isso Edgar Morin afirma: “os conhecimentos parcelados servem para utilizações técnicas”. (Morin, 2002, p. 17). Como são as lógicas de formação? O documento sobre o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória teve também como referência conceptual aspetos do Pensamento de Edgar Morin, através do seu concetor, Guilherme D’Oliveira Martins, ex-Ministro da Educação, que cita Edgar Morin com frequência. 
No centro do paradigma inter-Poli-Disciplinaridade está a Cultura. Outro pensador que tematizou e desenvolveu o paradigma Cultural foi Manuel Ferreira Patrício que via na concetualização epistemológica de Edgar Morin Bases fundamentais articuláveis com o seu próprio pensamento. 
A atravessar a dinâmica epistemológica está a incerteza, pese, embora, a busca das permanências nas dinâmicas da vida.
Afirma Edgar Morin: 
“A condição humana está marcada por duas grandes incertezas: a incerteza cognitiva e a incerteza histórica. 
Existe no conhecimento três princípios de incerteza: 
- “o primeiro é cerebral”
- “o segundo é psíquico
- “o terceiro é epistemológico”
Neste sentido, “Conhecer e pensar não é chegar a uma verdade absolutamente certa, é dialogar com a certeza”. (Morin, 2002, p. 65). 
Ora, de facto é certo que a vida é incerteza. 
Essa incerteza também atravessa a educação e temos sempre a tarefa continua de nos formarmos. Afirma Edgar Morin: 
“A Educação deve contribuir para a autoformação da pessoa (aprender e assumir a condição humana, aprender a viver) e aprender a tornar-se cidadão” (Morin, 202, p. 719. Tudo tarefas a que o ser humana se põe a si mesmo. 
Mas esta tarefa pessoal de educação não deve fazer esquecer que nos educamos connosco, com os outros, com as coisas, com os livros, nas comunidades, na busca da Verdade e da Transcendência. De contrário poderíamos cair numa mesmidade. A Educação é abertura ao Todo, um Todo complexo que encontramos na Obra e no Sentido de Edgar Morin. E um dos pequenos mas mais fortes livros de Edgar Morin já foi enunciado mas agora ganha outra visibilidade: Amor, Poesia, Sabedoria. E tudo isto promana da vida e irriga o conjunto dos saberes, em interligações sapienciais. 
Há uma ligação entre a conceção do que significa o conhecimento e a educação em Edgar Morin, o que torna o Todo para sua interligação com as diferentes partes e fragmentos da realidade. No fundo, a realidade é una e múltipla mas essa unidade é em si um modo dinâmico de ser. Esse movimento transpõe-se para a Educação. No livro “Os sete saberes para a educação do futuro” transportam consigo o dinamismo do próprio conhecimento. Por falta de espaço apenas enunciamos os tópicos para compreender a problemática. Fazemo-lo enunciando os capítulos do livro: Um dos saberes 1. “As cegueiras: o erro e a ilusão” 2. Os princípios de um conhecimento pertinente 3. “Ensinar a condição humana”. 4. “Ensinar a identidade terrestre”; 5. “Enfrentar as incertezas”. 6. “Ensinar a compreensão” 7. “A ética do género humano”. 
Vejamos o seguinte saber: “Ensinar a compreensão”. De quanto e complexo conhecimento não é necessário para ensinar esse saber mas, no fundo, trata-se de um saber a transmitir ou de saber a vivenciar em sabedoria? Quanto está longe o nosso ensino dos Fundamentos necessários! Não haverá mais conhecimentos inertes e menos conhecimento com vida, na vida e para a vida? Precisamos de recriar o ensino e a Escola. 

Emanuel Oliveira Medeiros

*Doutorado e Agregado em Educação e na Especialidade de Filosofia da Educação

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