Descendente açoriana é candidata a Vice-governadora de Massachusetts
Diário dos Açores

Descendente açoriana é candidata a Vice-governadora de Massachusetts

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Tami Gouveia é candidata a vice-governadora de Massachusetts nas eleições primárias democráticas do próximo dia 6 de setembro e candidata da comunidade portuguesa, sublinhe-se. Gouveia é apelido toponímico, sendo nome de cidades no distrito da Guarda em Portugal e no estado de Minas Gerais no Brasil. E por falar em Brasil, o navegador europeu que o descobriu, em 1500, era Gouveia.
Pedro Álvares Cabral era filho de Fernão Cabral e Isabel Gouveia, o seu nome completo era Pedro Álvares de Gouveia Cabral.
Moradora em Acton, mãe de dois filhos (Cam e Joey), Tami Gouveia tem um doutoramento (PhD) em Saúde Pública e é deputada estadual pelo 14º distrito de Middlesex.
Cresceu na Ludlam Street em Lowell e tem raízes açorianas do lado materno. A sua mãe e a avó trabalhavam nas fábricas ao longo do rio Merrimack, o avô pertencia ao sindicato dos carpinteiros. O pai, Robert Gouveia, quando foi despedido da fábrica, abriu um pequeno negócio de limpeza.
À medida que Tami crescia, viu como os apoios coletivos do governo, dos vizinhos e do ativismo comunitário podem fazer a diferença na vida das pessoas e criar condições que beneficiem todos. Foram essas primeiras experiências, combinadas com os exemplos de liderança feminina que ela conheceu quando aluna do Mount Holyoke College, que mais tarde a motivariam a candidatar-se a um cargo público.
Gouveia decidiu candidatar-se a vice-governadora de Massachusetts pelas mesmas razões pelas quais tem trabalhado em serviços sociais, o bem estar de todos.
“Crescendo em Lowell, sempre quis que todos prosperassem”, explica Gouveia e esse senso de justiça social era regularmente posto à prova. “Vi em primeira mão a xenofobia e a discriminação contra refugiados cambojanos traumatizados que fugiram de circunstâncias inacreditáveis para os Estados Unidos. Eu tinha amigos na escola primária que não tinham calor suficiente no inverno, que sofriam de violência doméstica, ou cujos pais tinham um transtorno por uso de substâncias”.
“Esses problemas não são novos e ainda lutamos com todos eles hoje em dia”, destaca Gouveia. “Experimentar esses problemas em primeira mão foi o que me fez tirar uma graduação em ciência política e estudos da mulher. Depois disso, trabalhei em tratamento residencial e fui exposta à necessidade de intervenção clínica. Fui conselheira de jovens que sofriam casos extremos de abuso e negligência.
Trabalhar com eles inspirou-me a procurar uma escola de pós-graduação focada na mudança de políticas nas populações urbanas, mas também no trabalho clínico. Fui atraída pela sólida reputação da BU School of Social Work em trabalho clínico, mudança de sistemas e mudança de políticas.”
Gouveia decidiu fazer dupla licenciatura em serviço social e saúde pública na School of Social Work classe de 2001. Trabalhou depois na Rethink Health, procurando melhorar a saúde pública. E agora, após quatro anos como deputada estadual, candidata-se a vice-governadora.
Além da deputada Tami Gouveia, há mais três candidatos democratas a vice-governador: a mayor de Salem, Kim Driscoll, e os senadores estaduais Eric Lesser e Adam Hinds.
Na corrida para governador de Massachusetts também começou por haver várias candidaturas democratas: a primeira foi a professora de Harvard Danielle Allen, depois a progressista senadora estadual Sonia Chang-Diaz e por fim a procuradora de justiça estadual Maura Healey. Mas Diaz e Allen já desistiram.
Há muito que havia rumores da candidatura de Healey, mas só decidiu concorrer em 20 de janeiro, muito depois das oponentes terem entrado na corrida.
Mesmo assim, como procuradora estadual desde 2015, Healey era a mais conhecida das três.
Segundo os analistas políticos de Massachusetts, o único possível candidato democrata que poderia bater Healey seria Marty Walsh, ex-mayor de Boston e atual secretário do Trabalho, se tivesse entrado na corrida. Mesmo assim, segundo as sondagens e independentemente do partido, 44% dos eleitores vêem a candidatura de Healey como “favorável”.
Healey ganhou atenção nacional como procuradora ao lançar mais de 100 processos ao governo do ex-presidente Donald Trump, contestando desde a sua política de separação de famílias de imigrantes até à falha em proteger os credores estudantis de fraudes.
“Não importa se é uma empresa que está fazendo isso ou o presidente dos Estados Unidos. Ninguém está acima da lei”, disse Healey em 2018.
Antes de entrar na política, Maura Healey foi capitã da equipa de basquetebol feminino da Universidade de Harvard e jogou profissionalmente na Europa.
Nascida em New Hampshire, formou-se em Direito na Northeastern University e foi procuradora distrital assistente no condado de Middlesex antes de ser eleita procuradora estadual em 2014.
Healey tornou-se a primeira procuradora estadual abertamente gay em Massachusetts e, se vencer a eleição de novembro, será a primeira governadora abertamente gay do estado e da nação.
Healey espera quebrar o enguiço de vários dos seus antecessores. Desde 1990, os ex-procuradores Frank Bellotti, Scott Harshbarger, Tom Reilly e Martha Coakley falharam nas suas tentativas de serem eleitos governadores.
Em 2006, Tom Reilly parecia ser o favorito para suceder a Mitt Romney como governador, mas teve os seus planos frustrados nas primárias por um político desconhecido chamado Deval Patrick, que se tornaria o primeiro governador negro de Massachusetts.
Em novembro, Healey enfrentará o vencedor das primárias republicanas, mas do lado republicano estas eleições transformaram-se numa disputa entre a ala Trump e os republicanos moderados da Nova Inglaterra. Tudo começou quando o popular governador republicano Charlie Baker anunciou que não concorreria a um terceiro mandato. Baker é um republicano moderado que é mais popular entre democratas e independentes do que entre membros do seu próprio partido.
Baker está cada vez mais em desacordo com o partido que se uniu em torno do ex-presidente Trump. Em 2016 e 2020, Baker não votou em Trump, foi seu crítico persistente, apoiou o seu segundo impeachment e rejeitou as falsas alegações de que a eleição de 2020 foi repleta de fraudes, o que lhe valeu ataques diretos de Trump que o levaram a anunciar no início de dezembro que não se candidatava ao terceiro mandato, algo sem precedentes em Massachusetts. E a vice-governadora Karyn Polito, a potencial herdeira de Baker, também decidiu não tentar a reeleição ou concorrer a governador. Há dois candidatos republicanos a governador de Massachusetts: Geoff Diehl, ex-deputado estadual e candidato fracassado ao Senado dos EUA, que é endossado por Donald Trump e cuja campanha é dirigida por Corey Lewandowski, ex-gerente de campanha de Trump; e Chris Doughty, um republicano moderado, empresário sócio da Capstan Industries, e neófito político que investiu mais de dois milhões do seu próprio dinheiro na sua campanha. A candidatura de Diehl ganhou o apoio do Partido Republicano na convenção estadual em maio, mas perdeu a sua última candidatura estadual para a senadora Elizabeth Warren em 2018. Massachusetts apresenta um enigma político para os republicanos: os seus eleitores não apoiaram Trump nas duas candidaturas presidenciais. No entanto, os mesmos democratas e independentes que rejeitaram Trump votaram nos republicanos Charlie Baker e Bill Weld para governador durante quase 30 anos. Os republicanos representam menos de 10% dos eleitores de Massachusetts e o trumpismo mostrou ser difícil de vender aos independentes, que representam 57% dos eleitores do estado, e aos democratas, que representam 32%.
Se, como as sondagens sugerem, Healey for eleita, não será a primeira governadora de Massachusetts, mas a segunda mulher a ocupar o cargo, uma vez que a republicana Jane Swift foi governadora interina de 2001 a 2003, quando Paul Cellucci renunciou para se tornar embaixador no Canadá. Será um pouco o que aconteceu em Rhode Island, onde Elizabeth Roberts foi vice-governadora de 2007 a 2015 e com dois diferentes governadores (Donald Carcieri e Lincoln Chafee). Em 2010, chegou a ser noticiada a candidatura de Roberts a governadora, mas ela entendeu que não teria hipóteses e preferiu recandidatar-se a vice-governadora. Contudo, em 2015, Gina Raimondo, 51 anos, mãe de dois filhos, foi eleita 68º governador de Rhode Island e esteve em funções até 2021, quando o presidente Joe Biden a convidou para secretária do Comércio. Em Massachusetts, a provável eleição de Healey será a sequência natural e um caminho aberto por outras candidaturas, algumas sem sucesso. Martha Coakley foi procuradora estadual de justiça de 2007 a 2015, mas em 2010 candidatou-se ao Senado sem sucesso e em 2015 a governadora, igualmente sem sucesso. Martha acabou por deixar a política e dirige hoje uma importante firma de advogados de Boston, mas dois anos depois dela ter tentado, em 2012, Massachusetts elegeu pela primeira vez uma mulher para o Senado, a professora de Harvard Elizabeth Warren. E agora, sete anos depois de Martha se ter candidatado a governadora, Massachussetts deverá eleger a primeira governadora e muitas outras mulheres serão eleitas no futuro, nomeadamente para a Casa Branca. As mulheres são 53% do eleitorado americano, as solteiras representam dois terços e são fiéis eleitoras democratas. Desde as eleições de 1984 que nenhum candidato presidencial republicano consegue obter a maioria dos votos das mulheres e por essas e por outras há quem pense que não foi Trump que foi burlado nas eleições de 2020 e que Hillary Clinton é que foi burlada em 2016. Com efeito, nas eleições de 2016 Hillary Clintonteve 65,8 milhões de votos, três milhões de votos a mais que Trump, uma vantagem de 2,1 pontos percentuais, mas não ganhou. Nunca nenhum outro perdedor teve tantos votos como ela na história do país. Porém, pelo sistema eleitoral indireto dos EUA, Trump ganhou com 56,5% dos delegados do Colégio Eleitoral, contra 42,2% dela. Nem sequer é piada, é mais uma ironia. Os americanos, sempre dispostos a ajudar os outros a elegerem os seus presidentes, quando é a vez deles elegerem não sabem contar.


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