Diário dos Açores

Ilha Terceira - A ilha das oportunidades perdidas

Previous Article Previous Article Lagoa encerra época balnear com limpeza da orla costeira e subaquática
Next Article IL pede intervenção de Bolieiro no caso do Mercado da Graça IL pede intervenção de Bolieiro no caso do Mercado da Graça

A Ilha Terceira é bela, como são todas as ilhas deste majestoso arquipélago atlântico, a meio caminho das Américas. Mas, para além de bela, tem um património histórico e cultural, único nos Açores, que lhe pode abrir as portas – de par em par – da notoriedade e do sucesso.
Contudo para se vender o que quer que seja, tem que haver produto. Mas temo que esta ilha tenha perdido décadas de oportunidades, justamente por nunca ter conseguido estabelecer um produto próprio e forte. Que não passasse, quase exclusivamente, pelas touradas e pelas sanjoaninas. Mas não olvidando, jamais, a cidade património mundial.
Um produto, único e bem diferenciado, sem ter de recorrer a “imitações” do que se faz noutras ilhas com características inteiramente diferentes e que obviamente têm utilizado os recursos próprios, bem distintos, na construção de outros produtos que começam a conhecer grande notoriedade.
Tendo sido, por duas vezes, capital do reino, campeã do liberalismo europeu e entreposto das caravelas das índias, ocidentais e orientais, é possuidora de uma Angra do Heroísmo e de uma Praia da Vitória. Palmarés inigualável em todo o Arquipélago. Não esquecendo a presença/exílio, durante cinco anos, do Rei Afonso VI.
Angra do Heroísmo, pelo heroísmo demonstrado pela sua população durante as lutas liberais no princípio do século XIX. Praia da Vitória, pela importância que teve na contenção do desembarque das tropas miguelistas e no fracasso da causa absolutista.
Angra foi sempre um centro de cultura. E, ainda hoje, lá permanecem as sedes da Direcção Regional da Cultura e do Instituto Açoriano de Cultura. Um cadinho de grandes intelectuais, muitos deles ligados ao Seminário de Angra, instituição com uma história de mais de 150 anos.
Mas, para além de tudo isto, a Terceira tem um património artístico de representação, ímpar nos Açores. Os grupos de teatro abundam, desde o clássico Alpendre até ao recente Teatro de Variedades de Porto Judeu para não enumerar tantos outros. Talentos musicais  e de representação  que são uma imagem de marca da Ilha.
Mas, mesmo assim, parece ter-se abatido sobre esta ilha, de tantos valores, uma certa apatia e conformismo. Exemplarmente diagnosticados por Reis Leite no Inventario do Património Imóvel dos Açores, a propósito de Angra “… a cidade do séc. XIX é uma cidade em decadência, com falta de manutenção e investimento, procurando encontrar um lugar nos novos tempos, mas dificilmente conseguindo um autêntico progresso ou sequer desafogo económico.  Adaptou-se, contudo, com facilidade à mediocridade, que passou a cultivar como virtude.”
Espera-se agora que, em pleno séc. XXI, a Terceira esteja de cabeça levantada e pronta a utilizar, em seu proveito, todos esses muitos e valiosos recursos que facilmente podem fundamentar uma marca que bem poderia ser:  Terceira – a Ilha dos Reis. Dos reis que lá tiveram a sua capital ou do que lá viveu.
Seguindo a ideia de um ilustre terceirense, a Ilha poderia tornar-se num grande parque temático. Não no sentido “disneilandianesco” ou pejorativo, mas no sentido histórico recriando - a título de exemplo - as chegadas e saídas das caravelas das Índias, a vida na corte real, o exilio de Afonso VI, a resistência da Praia da Vitoria ou o heroísmo de Angra e tantas outras situações daqueles tempos históricos inolvidáveis.        
Mantendo - também a título de exemplo - uma caravela quinhentista no porto de Angra, de visita obrigatória, e tudo mais que um bom guião poderá proporcionar já que o material disponível é soberbo e inesgotável. Um guião a ser elaborado por uma equipa multidisciplinar e que deveria desenvolver o acesso a um conjunto de emoções e experiências, só possível numa ilha como a Terceira.
As visitas Guiadas à Fortaleza de São João Batista do Monte Brasil organizadas pelo Museu de Angra e com a colaboração do Núcleo de História Militar Manuel Coelho Baptista de Lima, são já uma iniciativa que vai no sentido de valorizar um património que, de outro modo, ficaria no esquecimento.
Dadas as riquíssimas tradições de representação da ilha, o recrutamento de figurante e actores terá a maior facilidade com garantias de excelente desempenho. Sendo mesmo possível a montagem de um grandioso espectáculo, de todo o ano, dando uma excelente oportunidade a uma comunidade ávida disso mesmo e consolidando uma atractividade turística única.
Claro que esta visão/estratégia implicará grandes investimentos e muita criatividade. Mas, para isso, aí estarão abundantes fundos comunitários desde que haja a incontornável vontade política, dos municípios e do governo. E que aos historiadores, antropólogos, etnógrafos e tantos outros, seja dada uma oportunidade de ganharam asas e voarem numa viagem de talento e sonho.

A Ilha Terceira bem poderá ter um futuro brilhante no turismo regional.

António Simas Santos *

Share

Print

Theme picker