Mário Correia: da restauração açoriana à mesa da “realeza” internacional
Diário dos Açores

Mário Correia: da restauração açoriana à mesa da “realeza” internacional

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Mário Nelson Machado Correia, 39 anos, natural de São Vicente Ferreira (São Miguel -Açores), director geral de comidas e bebidas, sommelier, mixologista e empreendedor em Bergen, na Noruega, é ainda director geral de restaurantes e bares do grupo Magic Norway.
Iniciou esta epopeia a 4 de Agosto de 2011. Decidiu por vários motivos e factores deixar a nossa ilha e rumou ao desconhecido.
Após alguns dias a pensar onde iria decidiu Oslo. Embarcou numa aventura com um bilhete de avião só de ida. Possui inúmeras estórias onde diversas personalidades marcam presença.
Partilhou com o Diário dos Açores um pouco das suas vivências nos países nórdicos ao longo da última década.

Mário explica-nos que “Oslo apareceu como “ponte” para chegar a Estocolmo, apesar de ter muitos amigos quer na Noruega, Suécia ou Dinamarca. Depois de algumas horas em Oslo telefonei a um amigo em Estocolmo e embarquei num avião para ir ter com ele. Aceitei o convite para lhe fazer uma visita e possivelmente trabalhar e ver como era. Vivi na Suécia de 2011 a 2017. Abri o meu próprio negócio.”, conta Mário.
“Já na Suécia e depois de dois dias de ter chegado fui ajudar um amigo num evento de catering. Passados outros tantos dias fui visitar um outro amigo em Estocolmo, tinha ouvido dizer que trabalhava no maior hotel de Estocolmo. Um amigo do tempo de escola (Escola Preparatória das Capelas que casou com uma amiga sueca). Recordamos momentos passados e uns dias depois ligou-me para fazer umas horas de trabalho neste hotel. Entretanto já estava também a ajudar outro amigo num outro espaço. Tratava-se de uma casa centenária com um leque exclusivo de clientes. Do nada já estava com três trabalhos e percebi que o mundo é pequeno, e que as minhas ligações e amizades eram para a vida, mas nem tudo foi fácil”, explica Mário.
“Quando saí dos Açores não levei muito dinheiro comigo, o custo de vida era e é muito diferente. Um país muito mais desenvolvido onde tudo se estava a transformar em digital. Tive uma grande amiga que me ofereceu um telemóvel (eu chamava-o na altura IPhone 10, pois era pequeno, de teclas, cabia na palma da mão e toda a gente à minha volta já tinha touch screen) mas era sempre a rir”, recorda.
Mário partilhou inclusive algumas dificuldades: “cheguei a dormir num banco de um metro, pois com três trabalhos e morando longe, às vezes não dava para ir a casa, ou por não ter dinheiro ou por ser conveniente, mas eu tinha vergonha de pedir alguma coisa às pessoas que conhecia, pois ajudavam-me imenso”, revela.
“Entretanto, conheci amigos de amigos, tive o meu primeiro contrato e comecei devagarinho a perceber como tudo se processava. Negócios, vida, transportes, etc.”, diz. “Surgiu a oportunidade de começar a fazer parte de projectos que se iam erguendo e comecei a aprender de raiz sobre o mercado nórdico. Em 2012 ajudei a abrir um bar de Rhum com cerca de oitenta variedades. Servíamos cerca de trezentos a quatrocentos Mojitos por dia. Depois ajudei a abrir dois Steak House. Entretanto comecei a trabalhar permanentemente num espaço em que fiz muitos contactos, desde CEO de empresas enormes como o grupo Volkswagen, Sony Eriksson, Tetra Pak. Comecei a servir celebridades locais, também a trabalhar com chefs de renome e as portas abriram-se”, confessa.
Em 2014 Mário mudou-se para o norte da cidade de Estocolmo, considerada uma das capitais da gastronomia pela UNESCO. “Trabalhei como gerente de restauração num restaurante “White Guide” que tinha uma estrela Michelin. Depois fui abrir um Spa Hotel para a maior companhia escandinava, um projecto de cinquenta milhões de euros, como food and beverage manager. Entretanto recebi uma oferta para abrir um sports bar com American Delux Cuisine e agarrei também. Aqui fiz alguns eventos como World Cup Biathlon em Ski (opening party, vip, derations events, etc.)”, elucida-nos Mário.
Em 2016 Mário teve a oportunidade de abrir o seu próprio negócio. Explica que a notícia foi partilhada e lida na comunicação social mais de 6 mil vezes em menos de 24 horas. Tratava-se de steak house. Por motivos pessoais optou por vender o negócio e depois regressou a Estocolmo. No mesmo ano, Mário, veio de férias aos Açores para rever a família e os amigos.
“Em todo este período de cinco anos passei por Áustria, Dinamarca, andei de norte a sul na Suécia, Alemanha, Portugal continental e Espanha. Tive a oportunidade de visitar, trabalhar e aprender um pouco mais da minha arte. De 2016 até 2017 trabalhei como gerente de bebidas numa unidade que tinha e tem um dos mais emblemáticos edifícios escandinavos. Conheci muita gente influente e as portas abriram-se rapidamente, desde músicos, empreendedores, personalidades famosas. Recebi muitas recomendações por escrito. Em 2017 embarquei num outro projecto, agora como director de restaurante e bebidas numa unidade hoteleira em Stavanger na Noruega, considerada a capital do óleo. Projecto muito interessante e internacional! Muitas celebridades, muita história, projecto fascinante. Desde Mariah Carey, Chick Koria, Macklemore, Jess Glynn, Tiesto, French Montana, Bryan Tanaka, à família real norueguesa, a visita oficial do Ministro da Economia chinesa, entre outros”, relata Mário.
Recebeu uma menção do grupo de gastronomia internacional “Chaine du Routisseurs”, recebeu também uma menção honrosa do CEO da “Rezidor” do Radisson Hotel por todo o serviço de excelência demonstrado. Fez parte do projecto de um grupo internacional constituído por restaurantes de elite em Minnesotta, nos USA; Rostov do Don e outro em Moscovo, na Rússia, no Dubai e em Stavanger, cidade da Noruega.
“Em 2019 mudei de cidade e vim viver e trabalhar para a segunda maior cidade norueguesa como director de restaurante para Holding Company que detém os melhores restaurantes de sushi escandinavos. Têm também o Jamie’s Oliver Italian Restaurant Patent na Noruega, entre outros projectos. Ganhamos o prémio de melhor chef de sushi escandinavo em 2020 e o melhor restaurante da cidade em 2021. Apesar da pandemia conseguimos sobreviver e vencer. Durante estes últimos 10 anos trabalhei em projectos directa e indirectamente com as seguintes personalidades/ chefs: Paul Svensson (é dono do melhor restaurante de museu do mundo, o Fotografisk Museum Stockholm); Johan Jureskog (tv chef, Best Burger nos USA, Best Steak House na Europa); Mattias Ljundberg (Best World Pastry chef e chef pasteleiro da família real sueca); Daniel Rouge Madsen (Top chef da Noruega); Sergey Pak (Best Nordic Sushi chef e um dos melhores do mundo). Fui responsável por várias adegas com 100 mil, 400 mil e mais de 600 mil euros em vinho. Já trabalhei em espaços em que a comida e bebida custaram mais de 1000 euros por pessoa e também já trabalhei em espaços onde fizemos caridade, sempre com a mesma que paixão e dedicação”, exprime Mário.
Mário elucida-nos sobre a sua formação profissional, alegando que a sua formação era de uma área diferente. “A minha formação era outra. Estava a estudar desporto, adorava a escola, o desporto, futebol, btt e motas. Entretanto em 2001 comecei a trabalhar na Adega Regional e adorei. Apaixonei-me pela restauração - sempre fui uma pessoa de pessoas - eduquei-me na área, quer através de workshops, quer através de colegas com mais experiência e conhecimento. Aprendi a ver e a fazer, e também a utilizar todo o know how das formações que ia fazendo. O meu percurso nos Açores vai desde a Adega Regional, Colégio 27, empreendimentos do Colégio, Colmeia Grill e Confeitaria, Pónsi, Açor Sonho Hotéis e Vale do Navio”, indica.
“Em todos os espaços em que trabalhei e geri nos Açores, aprendi com muita gente e cresci, errei, caí e levantei-me, mas nunca desisti apesar de às vezes a vida parar de me sorrir. Michael Smith, Emelie Smith, Pedro e Hélder Dutra, Iracema, Acácio Oliveira, Fernando Neves, Vítor Câmara, Chef Paulo Freitas, Fernando Braga, Chef Vincent, entre muitos outros amigos, colegas e clientes foram e sempre serão uma inspiração. Hoje levo um pouco de mim, das pessoas que me ajudaram, das pessoas que comigo se cruzaram no coração. Hoje sou um açoriano pelo mundo. Devo tudo à minha família e amigos ou conhecidos que me ajudaram. Tenho orgulho de ser um açoriano pelo mundo”, explana Mário.
Por fim, Mário faz questão de afirmar que “a vida de emigrante não é fácil. Muitas lágrimas se derramam, muitas feridas não se fecham, muita dor não se acaba. Tenho dois filhos lindos que infelizmente não estou 100% com eles, mas que no meio disto tudo sempre nos vemos e passamos poucos, mas bons momentos juntos! A vida é uma jornada e não um momento!”, declara.
Como projectos futuro apenas aponta a felicidade. Ser feliz através do trabalho, através da divulgação da magia dos Açores, no entanto, a região é mencionada apenas como destino para matar a saudade da família e dos amigos.

por: Creusa Raposo

jornal@diariodosacores.pt

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