Diário dos Açores

Adeus sentido e emocionado à Calheta de Pêro de Teive

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Infelizmente, conforme foi anunciado, sempre vai ser construído um monstruoso hotel na Calheta de Pêro de Teive, em Ponta Delgada, pelo que não será possível devolver à população o amplo espaço público conquistado ao mar. Como todos sabem, com base no projecto já conhecido, restará um limitado espaço verde (azul, amarelo, vermelho ou como quiserem...) para alegado usufruto da população. Uma treta!
O projecto em causa vem de trás, pois teve a aprovação do anterior Governo Regional socialista, que, numa política errada de “quero, posso e mando”, nunca quis ouvir os apelos da opinião pública para que aquele espaço na Calheta de Pêro de Teive fosse transformado numa praça, num jardim ou numa zona de lazer com vários aproveitamentos para a população, principalmente para os moradores locais, como inicialmente estava previsto. O Governo Regional socialista preferiu satisfazer os apetites de investimento da empresa à qual foi concessionado aquele espaço, sob elevadas contrapartidas financeiras. Não é por acaso que se diz que o dinheiro manda.
Com o actual Governo Regional de coligação PSD-CDS-PPM surgiu uma nova esperança, pois foi prometido que seria promovido um concurso público de ideias para a Calheta de Pêro de Teive, sempre na perspectiva de satisfazer os legítimos interesses da população. Afinal, foi conversa fiada. Quem pode acreditar em políticos? Esta situação é ainda mais grave porque o CDS, durante a campanha eleitoral nas últimas legislativas regionais, surgiu como grande defensor da ideia de a Calheta de Pêro de Teive ser efectivamente devolvida à população para usufruto geral, sem mais mamarrachos à mistura. Mas, afinal, o CDS também virou as costas à população. Lamento imenso!
Cabe aqui uma palavra de justo louvor à drª Maria José Lemos Duarte, do PSD, que, enquanto presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, obrigou administrativamente à demolição das construções inacabadas, abandonadas e ilegais que foram erguidas no espaço público concessionado da Calheta de Pêro de Teive. No seu limitado mandato de dois anos aproximadamente, pois foi em regime de substituição, ela fez mais do que vários presidentes da Câmara Municipal que a antecederam quanto à questão da Calheta, que se arrasta há mais de doze anos. É uma nódoa muito negra no regime autonómico regional.
Com o tal grande hotel, será, pois, construída uma autêntica muralha de betão na Calheta de Pêro de Teive, retirando a actual ampla vista para o mar e ficando o casario histórico praticamente todo tapado. Isso é progresso! Isso é que é fazer de Ponta Delgada uma cidade sustentável ambientalmente? Isso é que é defender a história da capital da ilha de São Miguel? Nada, de modo algum!!!
Estamos perante um erro de dimensões enormes, patrocinado fundamentalmente pelos principais partidos nos Açores: PS e PSD. De facto, sempre estiveram estranhamente muito “juntinhos”, na Câmara Municipal de Ponta Delgada e/ou no Governo Regional, contra os interesses da população nesta questão, mais preocupados em apoiar interesses financeiros.
Se houvesse boa-vontade de todas as partes, que nunca houve, esse grande hotel, que alguém classificou de monstruoso, poderia ser construído em outro local de Ponta Delgada. Existem, de facto, outros espaços mais apropriados para o efeito. De resto, a construção do referido hotel representa, para todos os efeitos, uma doação de espaço público, considerando que, quando e se terminar a concessão, a empresa não vai demolir o edifício.
Por exemplo, ninguém aceitaria que um privado construísse um hotel no logradouro do Palácio de Sant´Ana, residência oficial do presidente do Governo Regional, mas permite-se a um privado a construção de um hotel nos terrenos públicos da Calheta de Pêro de Teive. Importa lembrar e realçar que a Calheta de Pêro de Teive é propriedade da Região Autónoma dos Açores, ou seja, é dos açorianos. Não pertence ao Governo Regional, à Câmara Municipal, à empresa concessionária, aos partidos políticos ou a quaisquer outras entidades públicas ou privadas. Está claro ou não?
Tenho uma ligação forte à Calheta de Pêro de Teive, por vários motivos. Vou chorar sempre pela Calheta, que acaba para sempre às mãos de políticos que não merecem confiança alguma, porque não defendem, como deviam, os interesses da nossa terra e da sua população. E aqueles deputados todos da Assembleia Legislativa Regional não têm nada a dizer em defesa da Calheta de Pêro de Teive?
Fica, pois, aqui um adeus muito sentido e emocionado à velha Calheta de Pêro de Teive, onde, de resto, nasceu há vários séculos a cidade de Ponta Delgada e que, por isso, deveria merecer mais respeito. Mas os políticos, como está claro, não querem saber disso para nada. Vergonha!!!

Tomás Quental Mota Vieira *

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