Diário dos Açores

Golpe de asa

Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Mário Sá Carneiro


Estando em curso a empreitada da proteção do porto de pesca e reforço do molhe das Lajes do Pico, necessário se torna olhar para este processo, de forma crítica. Um investimento de 13 milhões de euros deverá consagrar uma solução integral para um dos portos mais abrigados da região, não deixando para trás um “pormenor” que poderá ser da maior importância.
O que está planeado e a ser executado representa, sem dúvida, um enorme incremento para a qualidade e funcionalidade do porto de uma das baías mais belas dos Açores. Enquadrada, de forma única, pela Montanha e emoldurada pelas costas da Silveira e São João.
Contudo, e como não há bela sem senão, esta intervenção deixará - se não for revista - em aberto uma fragilidade que poderá ser eliminada com custos reduzidos (quase tudo ao nível do mar ou a menos de 1m de profundidade), e que daria uma muito melhor proteção ao Porto e às respectivas estruturas móveis e às embarcações, bem como à frente marítima adjacente.
Falamos da construção de um muro ou paredão de protecção que previna a livre entrada do mar, por cima da barreira natural da marina (conhecida por Lajido) que apenas funciona em maré baixa, não impedindo a agitação das marés, meia e alta, com impactos muito negativos nas estruturas flutuantes da marina e das embarcações ali sediadas.
Protecção que poderá ser executada, segundo os técnicos, quase toda à cota zero em seco. Defesa que será também uma valiosa protecção do porto e da Vila das Lajes, em temporais de Inverno.Que implicará, apenas, um muro de pouco mais de 1 metro que poderá ser mesmo de enrocamento de pedra para evitar um impacto visual e estético muito agressivo.    
Importa assinalar, como uma curiosidade, que os nossos antepassados, cientes dessa necessidade, iniciaram a construção de um muro em pedra, provavelmente há mais de 100 anos. Havendo vestígios bem visíveis dessa iniciativa que decorreu por força da experiência dos marítimos de então.
Dada a disponibilidade de meios altamente dispendiosos, agora existentes no local, estão reunidas condições únicas para assegurar a construçãode um verdeiro contra molhe que irá assegurar a estabilidade que o porto de recreio precisa e, simultaneamente como se disse, proteger, ainda mais, a Vila.
Solução que, obviamente, implica estudo e projecto que nos parecem, contudo, ser pouco mais do que uma gota de água no conjunto de tão volumoso investimento. Assegurando que a presente intervenção não fique ferida por uma falha que determinará, “ad aeternum”, limitações inexplicáveis de uma estrutura tão importante para a própria Ilha.
Falamos, como o poeta, de um golpe de asa que poderá fazer toda a diferença.

António Simas Santos *

Share

Print

Theme picker