Diário dos Açores

Dois enguiços urbanos por resolver em Ponta Delgada…

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Na Calheta de Pero Teive, com todos os prazos esgotados por mais uma vez (já lhes perdi a conta), a atual proprietária, a ASTA Atlântica, anunciou na passada semana, a pretexto do seu compromisso, assumido desde 2005, da requalificação daquela área urbana, que irá dar início este ano à construção de mais um hotel na área contígua ao Casino. Uma responsabilidade que, na sua interpretação muito particular do interesse público, e que sempre contou com o aval ou a tolerância lamentáveis e ultrajantes da Câmara Municipal e do Governo Regional em exercício (fossem da responsabilidade do PS ou do PSD), começou por desembocar numas galerias comerciais que nunca abriram e emporcalharam toda a zona desde 2008 até hoje…
A este hotel com 220 camas agora anunciado, está associado, de acordo com um novo projeto de “requalificação” apresentado pela ASTA e aprovado em 2018/19 pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, um espaço verde e pedonal público com 4800 m2, mais pequeno que os 5700 m2 aprovados para o hotel. Parecendo ainda assim aos seus promotores demasiado espaço “desperdiçado”, reza o mesmo projeto que 20% dessa área verde (960 m2) será direcionada para o hotel.
Uma conclusão se tira de imediato. Do espaço público inicialmente requalificável, no respeito pela cidade, pela sua história e pela qualidade de vida dos seus cidadãos e visitantes, cerca de metade foi logo à partida surripiado pelo monstruoso paralelepípedo de betão que alberga o casino e o hotel (ex-Azor e agora da OctantHotels). Da metade sobrante, após a longa agonia das galerias nado-mortas ali implantadas pela ASTA, mais de metade vai para um novo hotel, restando pouco mais de um quarto de toda a área inicial para espaço público e de lazer, com o benemerente aval dos dois partidos responsáveis pelo Município e pelo Governo Regional...
Se parece estarmos obrigados, pelo menos de momento, a ficar reduzidos a esta piedosa esmola urbanística, ainda falta saber, já agora, se as obras se vão efetivamente iniciar este ano, como anunciado, e se, começando pelo hotel, a ASTA deixará o resto para o ano do logo se vê!Vai já longo e doloroso otempo sofrido com trapaças e enganos na Calheta de Pero Teive…
Em Santa Clara, desde que a freguesia foi pela primeira vez a votos em 2005, todos os sucessivos programas e reivindicações dos seus órgãos autárquicos, bem comoas demonstrações contínuas de forte empenhamento dos santaclarenses nesse mesmo sentido, têm colocado como prioritária e indispensável ao bom ordenamento urbano da cidade de Ponta Delgada, da sua porta de entrada aos visitantes, e da sua viragem para o mar, a requalificação da degradada e esquecida orla marítima da freguesia.
Só no último mandato do governo do PS de Vasco Cordeiro esta necessidade foi reconhecida no concreto pela administração portuária sob sua tutela, através da elaboração de um projeto de requalificação, ainda que parcial, da orla marítima(desde a rotunda de Santa Clara até cerca do farol), o qual foi no entanto adiado para o mandato governamental seguinte.
Apesar de algum empenhamento anterior de vários presidentes de Câmara, só com a atual presidência de Nascimento Cabral (PSD) foi claramente assumida a parceria do município com a junta de freguesia (lista unitária) para pressionar o governo regional com vista à efetiva concretização do projeto.
Na passada semana, confrontada com a Junta e a Câmara para este desiderato, Berta Cabral (atual secretária regional da tutela) comprometeu-se publicamente com a execução urgente do projeto. Aguardemos…

Mário Abrantes *

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