Diário dos Açores

Turismo: Sazonalidade e qualidade

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Possivelmente, sazonalidade e qualidade são os dois grandes desafios que a nossa estratégia para o turismo deverá ter de assumir. Não é possível ter um negócio sustentável, com períodos de quase sem vendas, de cinco meses. Como não será possível manter o grande crescimento do nosso turismo, sem qualidade.
Sem esquecer que a previsível retoma do turismo em 2022, que veio a verificar-se, encontrou empresas financeiramente fragilizadas e com estruturas de custos mais elevadas, face à inflação e ao aumento do custo dos factores de produção. A retoma veio cruzar-se com os efeitos negativos da guerra da Ucrânia.
O mais que provável grande arrefecimento da actividade turística, a partir de Outubro irá a ajudar a comer os aumentos de facturação verificados na época alta. Estando as empresas, para alem de tudo mais, confrontadas, ainda, com as sequelas económicas da pandemia.
Isto é verdade para o país em geral e certamente, ainda mais, para os Açores. Daí que seja verdadeiramente estratégico o investimento na promoção da época baixa, em detrimento do muito que é gasto – quase desnecessariamente – na época alta, que se vende por si. 
A sazonalidade é, e sempre foi, o verdadeiro calcanhar de Aquiles do turismo regional. Desde o início tive a convicção de que os açorianos, em geral, se acomodaram à ideia de que turismo de inverno na Região não é possível e a isso se resignaram. Nunca, realmente, houve uma abordagem agressiva e destemida a este problema.
Grandes recursos são gastos em actividades culturais e festivaleiras no Verão que bem poderiam, e deveriam, em parte substancial, ser canalizados para uma política de animação de época baixa. De resto – e desculpem a heresia – muitos daqueles eventos de verão atrapalham, mais do que ajudam, o turismo.
A região tem todas as condições para ter um conceito de turismo de Inverno. Sobretudo tendo em conta as condições climatéricas da costa leste do Estados Unidos, do Canadá e mesmo da Europa Central e Nórdica. É possível um grande conjunto de actividades que tirem, justamente, proveito do nosso clima moderado e semitropical.
Que, obviamente, terá que ser pensado e desenvolvido por profissionais internacionais de gabarito que custarão os olhos da cara, mas que poderão providenciar um retorno inimaginável. Cada macaco no seu galho. Tem apenas que haver coragem política e visão de futuro.
Mas a outra grande questão – a qualidade – é indispensável para que a notoriedade a atractividade dos Açores se mantenham. E a qualidade passa, em primeiro lugar, pela qualidade dos profissionais de turismo, nas suas várias vertentes. Valorizando carreiras que sempre foram, bastante, negligenciadas.
A sazonalidade tem sido, justamente, um dos factores que tem impedido que essas carreiras sejam atractivas, quer ao nível dos salários quer ao nível da estabilidade profissional.  O que levou a que, muita gente, tivesse procurado outras actividades, durante o período negro da pandemia. 
Os próprios subsídios de desemprego e outros apoios ao emprego tornaram-se numa forma de desincentivar o brio profissional e a qualificação.   Mas, como é óbvio, a solução destas questões está longe de poder ser resolvida apenas pelas empresas. Recentes diplomas vão ao encontro destes problemas, mas muito tem ainda tem de ser feito.
Combate – profissional - à sazonalidade e garantia da qualidade dos serviços, são os dois grandes factores que poderão tornar o sector do turismo numa das mais eficazes alavancas do nosso desenvolvimento. Aproveitando as grandes potencialidades de um arquipélago europeu único, estrategicamente colocado entre o velho e o novo mundos.

António Simas Santos

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