Diário dos Açores

Contas e calotes

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Vasco Cordeiro e o PS estão a percorrer os concelhos açorianos para reunir com militantes e fazê-los crer que o actual governo tem as contas públicas descontroladas, criando o maior défice de sempre das finanças regionais.
É um discurso que não cola, porquanto todos sabemos que o défice regional já vem acumulado desde a governação do PS, que nos deixou a todos, contribuintes açorianos, um calote na SATA com mais de 400 milhões de euros, que estamos agora a pagar por via dos nossos bolsos.
Aliás, foi por causa desta desastrosa gestão dos governos do PS na transportadora regional que as agências de notificação internacionais quase nos meteram no  lixo, recuperando-se agora o ‘rating’ de ‘negativo’ para ‘estável’, porque  a “dissolvência de curto a médio prazo do Grupo SATA e os riscos de liquidez diminuíram” (DBRS).
A oposição tem montanhas de assuntos para chamar a atenção deste governo, que andou nestes dois anos a coleccionar trapalhadas, mas teima em focar-se exactamente naqueles em que não tem boca de abrir.
Podia começar, por exemplo, pelo comunicado estrambólico da Comissão Política Regional do PSD, que se reuniu no passado fim de semana, e que não diz uma palavra que seja sobre a situação aflitiva por que estão a passar as famílias açorianas, perante a presente crise, dedicando um capítulo inteiro à viagem que suas excelências estão a fazer à Madeira, como se isto fosse o assunto do momento e que tenha algum interesse para as famílias e empresas desta região.
Uma Cimeira sem urgência, ainda por cima marcada no dia da abertura das aulas! Não havia outra data?.
Precisamos é de mais acção nos momentos de crise e de menos palavreado e posições sem sentido.
O PS até tem razão ao alertar que o Governo Regional tem um excedente de 50 milhões de euros em impostos extraordinários que devia devolver às famílias, mas devia levantar ainda mais a voz ao seu governo da República, que consegue fazer pior, pois tem um excedente de 10 mil milhões de euros e só devolveu 2,4 mil milhões, acompanhados de medidas que vão prejudicar os pensionistas.
O PSD, por sua vez, faz uma festa com o facto da actividade económica dos Açores estar a crescer há 14 meses consecutivos, como se isto fosse um grande feito, depois de dois anos de pandemia em que a economia esteve nos piores índices que há memória.
A recuperação é apenas um acerto da economia, bastante alavancada pela recuperação do turismo, mas que vai abrandar nos próximos tempos com a pressão inflacionária e a época baixa.
O que nós, contribuintes e eleitores, precisamos dos políticos e da política, é que se mexam rápido e sejam mais assertivos nas decisões.
Não se compreende que as populações afectadas por catástrofes naturais tenham esperado um ano inteiro para se legislar o enquadramento dos apoios às vítimas (Sete Cidades e Feteiras).
Nem se percebe para quê mais estudos sobre transportes, quando está tudo mais do que diagnosticado e entra pelos olhos dentro de qualquer cidadão que, por exemplo, a falta de transporte marítimo de passageiros e carga entre S. Miguel e Santa Maria é uma aberração incompreensível.
Esta é a região dos estudos, uma habilidade dos políticos medrosos quando não querem decidir e tratam de engonhar com a papelada do costume.
É como o governo da República, há quase um ano para decidir como e quem vai lançar o concurso para construir os novos cabos submarinos, para além de continuar embrulhado naquele escandaloso monte de bagacina para a construção da nova cadeia.
É nos momentos de aflição que se vêem os grandes políticos, mas infelizmente as lideranças do presente, cá dentro e por essa Europa fora, deixam muito a desejar.
Já não há líderes como antigamente. 
E não é uma questão de nostalgia.
É uma realidade que enfrentamos todos os dias, deixando-nos uma perspectiva pouco animadora como serão os dias piores.
Se os povos não acordarem a tempo, não haverá despertar cívico que nos salve.
Palavra de um optimista!...
Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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