Diário dos Açores

Contra a “cartilha” de que a população só é boa para votar e obedecer

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Proponho-me fazer uma breve análise à política açoriana, como cidadão destas ilhas descontente com certos aspectos que, no meu entendimento, não favorecem nem dignificam a nossa amada terra açoriana. 
O líder do PS-Açores alertou para “uma degradação crescente das finanças públicas regionais”. Só pode ser “crescente” porque já vem de trás. Ou o PS quer fazer crer que deixou as contas públicas regionais no melhor dos mundos? 
Vasco Cordeiro, que é boa pessoa e honesto, sobre isso penso não existirem dúvidas, ainda não desceu das nuvens, onde aparentemente se refugiou após PSD-CDS-PPM, em estranha coligação e com apoio parlamentar também de mais dois pequenos partidos, terem assumido o poder no arquipélago, repetindo, de algum modo, o modelo de “geringonça” à esquerda já experimentado em Lisboa, no plano nacional.
A coligação PSD-CDS-PPM está no poder na Região Autónoma dos Açores não por mérito próprio, mas por demérito do PS, que é, até ver, o maior partido nas ilhas açorianas. O PS convenceu-se que o poder estava sempre no “papo”, mas enganou-se completamente. Faltou ao PS lucidez política e humildade democrática.
Vasco Cordeiro vem dizer que há “uma degradação crescente das finanças públicas regionais”. Não possuo competência técnica para avaliar dessa falada “degradação”. Agora o que é notório é que o PS ainda não assumiu nem se redimiu dos muitos erros cometidos durante 24 anos de governação regional, tendo também - há que reconhecer com toda a justiça - alguns aspectos positivos muito relevantes.
Um Governo Regional socialista entregou sob concessão a um privado as centenárias termas públicas das Furnas para serem transformadas num “hotel-spa” para ricos. Isso é socialismo? E vários militantes socialistas discordaram, entre outros. Um Governo Regional socialista mandou destruir a maior parte do igualmente centenário e belo jardim do Museu Carlos Machado para construir um pavilhão subterrâneo, que está concluído, mas não pode ser aproveitado, porque alegadamente o projecto foi mal concebido e há infiltração de águas. Agora é preciso corrigir com mais um investimento. Esse atentado à Cultura e ao Ambiente é socialismo? E muita gente não concordou. Um Governo Regional socialista elaborou e aprovou um projecto escandaloso para os terrenos públicos da Calheta de Pêro de Teive, impedindo que aquele espaço conquistado ao mar seja devolvido na sua totalidade à população para ser transformado numa zona de fruição pública, que podia ser, nomeadamente, uma praça ou um jardim. Isso é socialismo? Neste último caso, o PS, estranhamente, contou com a concordância e o apoio do PSD, ambos muito “amiguinhos” contra os interesses da população. Entre outros, muitos socialistas e muitos sociais-democratas discordam do que vai ser feito na Calheta - um monstruoso hotel vai ser construído por um privado sob concessão em terrenos públicos -, mas os chefes partidários, instituídos em funções públicas, é que mandam, sem ouvirem a população, apesar de se apregoarem de muito democratas. O actual Governo Regional podia muito bem travar esse projecto de hotel para a Calheta de Pêro de Teive em franca negociação com o concessionário, mas, como se vê, em certas matérias, PS e PSD seguem a mesma “cartilha” política: a população só é boa para votar e obedecer... A Autonomia político-administrativa regional não é isso, não é para isso e é contra isso, porque os seus alicerces e os seus objectivos são inteiramente democráticos.  
Além dessas tristes e lamentáveis situações em São Miguel, muitas outras ocorreram quer nesta ilha quer em outras ilhas dos Açores, em vários sectores e em diversos aspectos, durante os anos de governação socialista regional. Mas o PS continua a não assumir os erros cometidos, até parece que se orgulha deles. Portanto, não se pode queixar de a direita coligada ter chegado ao poder, de onde não vai sair facilmente, apesar de os resultados não serem famosos.
De resto, enquanto Vasco Cordeiro continuar, como pelo menos parece, às ordens de um cansativo “clã” familiar socialista regional, não vai conseguir regressar ao cargo de presidente do Governo Regional. Tem que se libertar primeiro dentro do seu próprio partido, para se apresentar aos eleitores com renovadas ideias e uma renovada equipa, completamente livre de peias de qualquer espécie. Boa pessoa e honesto são muito apreciáveis qualidades, sem dúvida, mas por si só não dão garantia de fazer regressar o PS ao poder regional. É preciso muito mais. Onde está aquele PS - pleno de ideais generosos de democracia, de liberdade, de progresso e de amor ao bom povo destas ilhas - de Angelino de Almeida Páscoa, de Francisco Macedo, de Silvano Neves Pereira, de Avelino Rodrigues e de outros verdadeiros e genuínos socialistas? Enquanto o PS não recuperar o seu valioso património original, não assumir os erros cometidos e não se redimir, pode esperar sentado, porque ao poder regional não terá acesso nem tão cedo. Assim sendo, o melhor “seguro de vida” da coligação PSD-CDS-PPM é o próprio PS, apesar de queixas e críticas, umas acertadas e outras não tanto.
Será bom que a coligação política açoriana, em que ao certo ninguém sabe quem verdadeiramente manda, não se coloque a “dormir à sombra da bananeira”. Há muito trabalho a realizar, em prol dos Açores e da sua população. A secretária regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas, Berta Cabral, e o secretário regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública, Duarte Freitas, revelam determinação e dinamismo nas suas funções, concordando-se ou não com as políticas seguidas e as medidas adoptadas. Quanto ao restante Governo Regional, vamos andando... Alguns são mesmo muito fracos.

Tomás Quental Mota Vieira

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