Diário dos Açores

Parar o monstro

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A nossa Autonomia foi uma das maiores conquistas dos açorianos nos últimos séculos.
Trouxe-nos a histórica e tão ansiada livre administração dos Açores pelos açorianos.
Estes anos de desenvolvimento, em todos os sectores, são a prova de que somos capazes de gerir os nossos destinos e só não vamos mais além porque o preconceituoso centralismo dos partidos políticos em Lisboa não nos deixa.
Nesta caminhada histórica há que reconhecer, no entanto, que cometemos um erro de deslumbramento.
Os governos regionais foram-se tornando coutadas de clientelas de amigos, parentes e conhecidos, copiando o que de pior têm os governos nacionais.
A máquina monstruosa que criamos ao longo destas quatro décadas, que começou muito comedida, nunca mais parou.
A administração regional é um sorvedouro de gente - atenção: muitos deles altamente capazes e que estão lá por mérito próprio -, que descambou sem apelo nem agravo.
É o nosso maior calcanhar de aquiles, o nosso gigante que nos devora toda a riqueza e ainda temos que nos endividar para alimentar o monstro.
As nossas receitas já não dão para pagar o funcionamento da galáxia regional, que representa - fixem bem esta parte - mais de um terço da população activa dos Açores.
É verdade que os mais de 30 mil funcionários públicos incluem os imprescindíveis profissionais da saúde e do ensino, mas mais de metade estão noutras áreas da administração regional.
Se juntarmos às despesas de pessoal, que já somam mais de 500 milhões de euros (85% das receitas fiscais), as duas centenas de imóveis da administração regional e mais de mil e duzentas viaturas oficiais, é só imaginar o polvo que criamos e os respectivos tentáculos que entram pelas nossas vidas dentro todos os dias.
Agora que se está a discutir a proposta do Plano e Orçamento para o próximo ano, não ouvimos nenhum partido preocupado com esta matéria.
Pelo contrário, há até quem propõe a criação de mais organismos, mais despesa e mais gordura para a administração pública.
O aumento escandaloso do orçamento do nosso parlamento é apenas uma amostra simbólica de como fez escola, na nossa pequena dimensão geográfica e política, o desvario dos partidos na criação das suas sinecuras, com assessores, consultores, secretárias e por aí fora, enquanto os contribuintes fazem contas à vida no meio de mais uma crise provocada por líderes medíocres.
Ou a região põe travão a tanto desmando ou vamos pagar a factura com mais pobreza.
O que vamos deixar aos nossos filhos e netos não é muito honroso se continuarmos a criar gerações de dependentes.
A endividar-nos desta maneira para pagar os erros que se cometeram e não corrigirmos este caminho ruinoso, vamos ter, mais dia menos dia, uma região intervencionada.
Basta olhar, quase todos os dias, para o Jornal Oficial, para perceber que continuamos a trilhar o caminho errado.
Haverá alguém com coragem para parar o monstro?


                                            ****

MAIS UMA MINISTRA DISTRAÍDA - Tivemos por estes dias mais uma visita de uma ministra. Há poucos dias a da Defesa veio queixar-se que devíamos 10 milhões de euros à Força Aérea, devido ao transporte de doentes, uma função que pertence ao Estado. Ou o Estado cobra a alguém quando evacua doentes de Trás-os-Montes?
Agora foi a da Justiça, que veio ver a desgraça vergonhosa em que se encontram os serviços da sua tutela, nomeadamente tribunais e conservatórias.
Sobre as cadeias, que vão de mal a pior, diz que está a fazer um levantamento sobre a falta de guardas prisionais, que ainda não está pronto.
Digam à senhora que já em 2010 os delegados sindicais da cadeia de Ponta Delgada enviaram uma petição a queixar-se da dita falta e já com o levantamento feito.
Muito gostam os ministros de engonhar.

Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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