Diário dos Açores

Tempos dispensáveis de inquietude, insegurança e injustiça…

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Um século depois, uma apoiante explicita do chefe do fascismo italiano Benito Mussolini, Giorgia Meloni, vai governar a Itália.
É mais um entre outros fascismos europeus que se têm vindo paulatinamente a instalar ou a ocupar posições preponderantes em governos da União Europeia, como recentemente aconteceu na Suécia, acompanhando os já instalados na Polónia, Hungria, Eslováquia e Eslovénia.
Todos eles, tal como Hitler e Mussolini, não chegaram lá nem sozinhos, nem por si próprios. A proporcionar-lhes o poder está em todos os casos a direita tradicional europeia (com a qual se identifica a atual presidente da Comissão, Ursula Von der Leyen), seja por consentimento, por aliança parlamentar ou por participação conjunta em governos de coligação.
São fascismos branqueados e amoldados aos tempos modernos, com as portas abertas pela União Europeia que lhes adoça o nome para “direita populista”, e que, ao contrário do que vai proclamando o atual diretório comunitário, não são rejeitados na prática pois, apesar da verborreia nacionalista exacerbada que os caracteriza, são fascismos que não preconizam a saída da UE e manifestam em geral respeito comum pelos ditames da NATO e dos EUA.
E isto acontece numa Europa que, através da Ucrânia, está cada vez mais direta e desnecessariamente envolvida numa escalada de guerra contra outro país europeu, a Rússia, que pode levar todos à recessão, a uma crise de oferta energética e alimentar sem precedentes e que já está a provocar, entre outros prejuízos de impacto mundial incluindo do ponto de vista ambiental, uma inflação galopante que atinge particularmente as populações europeias de menores rendimentos e que é acelerada pelos lucros exorbitantes das empresas dos setores onde é maior a (deliberadamente consentida) crise de oferta.
Ora isto exigia antes do mais que o governo português atuasse com medidas específicas sobre os rendimentos dos mais necessitados e sobre os montantes dos apoios sociais.
A esse nível, torna-se óbvio que os 125 euros conjunturais de outubro depressa serão cilindrados pela assegurada continuidade do processo inflacionário. Que atuasse sobre os impostos da energia, coisa que fez de forma apenas simbólica recusando-se a generalizar os 6%. Que atuasse diretamente sobre aumentos salariais intercalares (dos funcionários públicos em particular), ou acabasse com a caducidade da contratação coletiva para que os trabalhadores voltassem a ter poder negocial, o que não quis fazer. Que atuasse sobre as reformas e pensões para as subir de facto e não para adiantar meia prestação e obrigar à sua baixa (ilegítima) já em 2023, como tenciona fazer. Atuasse sobre os lucros extraordinários das empresas, especialmente do setor energético e alimentar, criando sobre elas um imposto também extraordinário, coisa que continua a recusar-se a fazer.
Todas estas medidas foram apresentadas na Assembleia da República pelos partidos à esquerda do PS, mas a todas o PS ora sozinho, acolitado pela sua maioria absoluta, ora acompanhado pelas direitas (PSD, Chega, IL), e mesmo num caso pelo PAN, respondeu não.
Infelizmente, ficou assim claro que as preocupações atuais do governo PS têm bem menos a ver com o combate à inflação e às suas consequências do que com a melhoria do rácio da dívida pública, mesmo que isso acarrete mais pobreza, desigualdades e estagnação…
Pelos Açores, o governo das direitas (também aqui, tal como em vários países da UE, a estender a mão à extrema-direita) encostou-se de imediato às medidas nacionais e, pasme-se, mesmo antes de surgir o galope inflacionário afirma que já o estava a combater com aquilo a que a IL muito gostou de apelidar de choque fi(a)scal.
Ora, como todos sabemos, a baixa decretada no resto dos escalões do IRS apenas beneficiou os rendimentos mais elevados, e a baixa do IVA apenas serviu para aumentar ainda mais as margens de lucro dos intermediários, provocando assim um efeito inverso sobre a inflação, isto é, pressionando-a a subir mais ainda.
Seria para rir, se não fosse tão triste…


Mário Abrantes *

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