Diário dos Açores

“Ponta Delgada não merece nada disto” (2)

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No final de agosto do corrente ano, após assistir a um “espetáculo” muito triste em plena Assembleia Municipal de Ponta Delgada, escrevi um texto intitulado “Ponta Delgada não merece nada disto”.
Ora bem, como já levo uns anos de acompanhamento do fenómeno político, era para mim óbvio que o triste “espetáculo” protagonizado pelo Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada não ficaria por ali. A minha certeza residia no facto de ser dos que acredita que é sempre possível escavar mais fundo. E temo bem que o fundo ainda esteja bem, bem, longe…
A opinião pública, sem necessidade de qualquer estudo de opinião, está garantidamente, de forma esmagadora, do lado da Dr.ª Maria José Duarte. E isso é dramático, uma vez que acelera a vontade de se continuar a escavar. Vai daí, foi sem qualquer tipo de estupefação que ouvi os primeiros relatos de uma famigerada reunião preparatória do PSD. Os relatos, obviamente não assumidos publicamente por nenhum dos participantes (testemunhas) na “peixeirada”, vieram à luz do dia através da carta de renúncia ao mandado da Dr.ª Maria José Duarte. A carta é demolidora e, simultaneamente, dramática. Vamos lá por partes.
A Presidente cessante da Assembleia Municipal começa por recordar que foi convidada pelo atual Presidente da Câmara para o cargo que ora renunciou. Em seguida, faz questão de escrever que aceitou o convite “com sentido de serviço (…) e não por ambição ou vaidade política”. E, uns parágrafos à frente, consta o seguinte: “Mas deu-se um acaso infeliz, na passada segunda-feira, na reunião preparatória para a próxima Assembleia Municipal, de eu ter sido abordada de forma desrespeitosa e agressiva por parte do Sr. Presidente da Câmara Municipal, Dr. Pedro Nascimento Cabral, que recusou-se a estar na mesma sala do que eu e inclusivamente, ameaçou abandonar os destinos da Câmara Municipal de Ponta Delgada.”
E aqui, precisamente aqui, passamos para o lado dramático. Esta é a segunda vez, no primeiro ano do mandato (!!), que o Senhor Presidente ameaça abandonar a presidência. A primeira foi a respeito de uma eventual aprovação da petição sobre o trânsito. Provavelmente poucos terão levado a sério. Mas esta repetição da ameaça, curiosamente não objeto de desmentido nas múltiplas declarações, comunicados e esclarecimentos, já configura um padrão de atuação. A cada trapalhada, criada pelo próprio, segue-se uma ameaçazinha de saída. E aí é que está o drama.
Ponta Delgada não merece nada disto. Ponta Delgada não pode ter um Presidente que desmente a realidade dos factos. Ponta Delgada não pode ter um Presidente a viver numa realidade alternativa. Ponta Delgada é uma missão. Não uma ponte ou mera passagem. E, nunca, nunca, um local para acertos de contas.
Até porque, no caso em apreço, a Dr.ª Maria José Duarte, no exterior de salas e corredores com demasiadas amarras e onde reinam silêncios cúmplices, dá a 15 a 0 ao atual edil de Ponta Delgada!


*Jurista

Hernani Bettencourt*

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