Diário dos Açores

Escolas Infantis

Previous Article Previous Article Câmara do Nordeste inaugura obra de requalificação do centro urbano da Achada
Next Article Escola Secundária da Lagoa promove Semana Mundial do Espaço Escola Secundária da Lagoa promove Semana Mundial do Espaço

Opinião

Tenho uns quantos sobrinhos-bisnetos frequentando ou recentemente saídos de escolas infantis, dois deles numa escola pública, uma num colégio privado e ainda um outro num jardim de infância na Inglaterra, onde nasceu e os Pais se encontravam estabelecidos e trabalhando até surgirem as grandes incertezas do período posterior à saída do Reino Unido da União Europeia, que os trouxeram de regresso à Pátria.
Do que vou recolhendo deles próprios e dos Pais deles, meus sobrinhos-netos, o ambiente é bom em todos os casos, mesmo na sua grande variedade; as crianças são muito bem tratadas pelos seus educadores, a maior parte por sinal educadoras, passam um bom bocado de tempo brincando umas com as outras, como se impõe, criam as suas primeiras amizades com os e as coleguinhas, são bem alimentadas e aprendem os rudimentos da convivência, essenciais para a vida em sociedade, sendo certo que vários deles são filhos únicos e não convivem habitualmente com outras crianças da sua idade.
Os Pais e os Avós são convocados para uma assistência atenta nessa fase de crescimento muito importante e todos se sentem contentes com os progressos que as crianças vão demonstrando e se comovem com as prendas que elas próprias fazem (ou serão as educadoras, sobretudo quanto às mais pequenas?) para lhes oferecer nas datas assinaladas das suas festas próprias. 
Sempre que lhes surge ocasião é certo e sabido que vão espreitar os meninos e as meninas no recreio e deliciam-se vendo-os correr e jogar, cheios de espontânea alegria, quando o tempo está bom. E isto compensa-os de algumas vezes os deixarem à porta da escola lavados em lágrimas, por não quererem ir para lá, e terem de seguir para os seus trabalhos com o coração apertado, mesmo sabendo que a birra lhes passa depressa e logo entram de cabeça nas actividades previstas, como se nada se tivesse passado antes.
Julgo que as crianças de hoje são muito privilegiadas por terem acesso as escolas infantis tão adequadas e com bom funcionamento assegurado. No meu tempo não havia nada disso, mas em contrapartida tínhamos em nossa casas Mães em full time, permanentemente disponíveis para atenderem as nossas necessidades e satisfazerem até os nossos caprichos, desde que fossem razoáveis...
Quando chegava o tempo julgado adequado para cada um, lá nos levavam os Pais a uma Mestra para nos ensinar as primeiras letras do alfabeto e a fazer os algarismos. Estive em duas escolas dessas, ambas na Rua da Vila Nova de Baixo. A primeira, quase no canto em cima, era a da Dona Maximiana, bastante velhinha, e andei por lá pouco tempo, talvez por ela ter morrido, já não me lembro; tinha sido ela a ensinar os primórdios a meu Irmão mais velho e a minha Irmã, salvo erro.
Levou-me depois meu Pai à escola da Dona Maria do Carmo, um pouco mais abaixo, na mesma rua, numa casa alta e com varanda que ainda lá está, como há dias pude comprovar quando fui à Junta de Freguesia de São José, na Rua Lisboa, para obter um atestado de residência e estacionei o carro nas traseiras do velho Hospital, perto do Quarto dos Mortos, nesse dia por acaso aberto e em utilização... 
Para a escola levava cada aluno a sua própria cadeirinha, daquelas que se compravam na Praça ou à porta da Cadeia, feitas pelos presos nas oficinas então existentes no velho Presídio da Boa Nova. E todos os dias levávamos no saco de pano a pedra e o lápis de pedra, que eram então os instrumentos ideais para ir aprendendo a escrever alguma coisa, sem gastar papel.
A sala de aula ficava no primeiro andar, no quarto da varanda. E havia numa das paredes um grande quadro de ardósia preta, onde escrevia a Mestra o que nós depois tínhamos de tentar copiar para as nossa pedras. Não me lembro de ter aprendido muita coisa nessa escola e não guardo memória dos meus companheiros e companheiras de estudos, que recordo sim serem numerosos, possivelmente oriundos da vizinhança. Devo lá ter parado pouco tempo, porque não gostava de ir para a escola e também chorava para não ir, o que não impedia meu Pai de lá me deixar todas as manhãs, enquanto achou apropriado, no seu caminho para a Fábrica do Açúcar, que era onde trabalhava.
Realmente, a única recordação que mantenho vivamente da passagem pela Escola da Dona Maria do Carmo é a da voz da empregada de limpeza que cantava umas quadras dedicadas a São José, que eu já tinha ouvido na Igreja Paroquial, enquanto ia lavando as escadas... Pouca coisa, mas enfim importante!
A frequência dessas escolas particulares era paga, poucochinho certamente; hoje as escolas públicas são gratuitas e educam as crianças brincando. Outros tempos, novas possibilidades, oxalá que bem aproveitadas!

   João Bosco Mota Amaral*
* (Por convicção pessoal, o Autor não respeita o assim chamado 
Acordo Ortográfico)     

Share

Print

Theme picker