O Jornalismo já não é o que era. Mas ainda há jornalistas que não vergam, que vestem a camisola e honram a profissão.
Num mundo cada vez mais perigoso, onde reinam nas redes sociais os vários discursos de ódio e insulto, esta profissão tornou-se ainda mais nobre, mais exigente na credibilidade, mas também mais escrutinada e odiada pelos corruptos e ditadores.
Há poucos dias o Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, cancelou uma entrevista com a jornalista da CNN, Christiane Amanpour, após esta ter recusado usar um lenço na cabeça, em Nova Iorque.
Um assessor de Raisi dirigiu-se a Amanpour, 40 minutos antes do início da entrevista, pedindo que usasse um véu, “por serem os meses sagrados de Muharram e Safar”.
A conhecida jornalista respondeu que “estamos em Nova Iorque, onde não há lei ou tradição sobre lenços na cabeça. Nenhum outro presidente iraniano exigiu isso quando realizei entrevistas fora do Irão”.
A entrevista não se realizou, o que é pena, mas o Jornalismo ficou mais rico e mais honrado.
É raro assistir a momentos de coragem para que o Jornalismo sério não se vergue à vontade dos poderes instituídos.
Em Portugal tivemos um exemplo, há poucos dias, nada dignificante para o mundo do futebol, esta indústria que enche os bolsos de alguns e que se aproveitam do poder que detêm para fazer o que muito bem entendem.
A jornalista Rita Latas, da Sportv, fez uma pergunta ao treinador do Sporting, no fim do jogo, que o delegado ao jogo e o Conselho de Disciplina não gostaram e levantaram-lhe um processo!
Perante a incredulidade do país e as vozes que se insurgiram contra esta pouca vergonha, foi tudo arquivado.
É o resultado da podridão que se vive nas instituições do futebol português, com imensos interesses pessoais instalados, onde reina a impunidade, querendo mandar na consciência das pessoas livres e condicionar o trabalho do jornalismo livre.
Isto de censuras é um hábito muito português e na política há casos de bradar.
Na passada semana tivemos o caso de uma deputada do PS, que também não gostou de uma pergunta de um deputado do IL dirigida à Ministra da Coesão, sobre uns subsídios atribuídos ao marido pelo seu próprio ministério.
Queria a deputada que a pergunta fosse “varrida” da gravação e das actas da comissão parlamentar, o que diz bem do pensamento de alguns políticos que elegemos.
É verdade que o PS veio logo pedir desculpas, mas num país a sério a senhora deputada já tinha sido banida da casa da democracia, por querer impor métodos do tempo da ditadura. É muito provável que, a seguir, também mandasse os jornalistas “esquecer” o relato do triste episódio.
Outro acto inqualificável, que confirma como o jornalismo sério incomoda os ditadores, é a decisão do carniceiro de Moscovo em ilegalizar o Sindicato de Jornalistas na Rússia.
Ainda há jornalistas credíveis no país do Hitler do século XXI, mas este cala-os à bruta, perante o estranho silêncio dos seus apoiantes que vivem por cá, no mundo livre.
É interessante que nenhum queira ir viver para lá.
É disto que se vai fazendo o mundo de hoje, cada vez mais incongruente, hipócrita e com coisas inacreditáveis, mas também com coisas boas.
E uma delas é que ainda há gente que não se verga.
O Jornalismo sério precisa muito de gente assim.
Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt