Diário dos Açores

Orvalho de ideias

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Memorandum

1 – “Porque razão fomos amaldiçoados com o poder de pensar?”
           
       ... francamente, não sei. Continuamos a observar a tremenda poluição escrita e verbal do discurso da crise, ou seja: ouvir falar da imparável germanização da Europa; observar os erros gramaticais da cartilha oficial das virtudes alheias; todavia, pouco se fala da açorianização da nossa Diáspora insular. Ora, passada que foi a dinastia espalhafatosa dos milhafres, dos hinos paralelos, das bandeiras, das bandeirolas (e da xenofobia do ananás contra o abacaxi). agora, o tempo é de militância na açorianidade... 
Apesar da minha bússola existencial me furtar o privilégio das rotas fáceis da vida, permaneço alheio ao costume de culpar os fados da boa/má sorte pelo sucesso ou retrocesso do meu percurso imigrante. Para gáudio dos antigos adversários políticos (e para desapontamento de alguns companheiros partidarios) mantenho intacta a reputação de ter nascido desajeitado na arte de mendigar boleias institucionais, para encurtar os itinerarios da cruzada emigrante. Exceptuando aqueles que continuam a ser deportados para o torrão de origem (devido à doutrina selvática do recente legalismo norte-americano) não considero os ilhéus-emigrantes vítimas da emigração. Creio que as comunidades devem proceder à selecção democrática dos seus conselheiros, e reeducá-los face a a indiferença dos instalados e atenuar o medo dos indecisos...
Exceptuando os poucos que procuram cumprir o serviço público sob o pálio da dignidade democrática, assiste-se ao desfadado pulular dos legionários da mediocridade, quase sempre ocupados na tarefa de ‘gritar penalty’, nesmo antes do início do jogo cívico-politico.
           Gostaria de acreditar que a Autonomia e os Partidos políticos são instituições de fraca memória colectiva. Daí a pergunta sacramentada: será que há açorianos com saudades da doce-tirania-maioritária que, durante quase vinte anos (1976-1995) tutelou a vontade cívico-cultural da Região? Afinal, que tipo de fome há nos Açores? E que tipo de bem-estar FLAmeja no horizonte da impaciência açoriana...?
Cá está a arte de bem perguntar: o ecrã televisivo pode ser um astuto detector de mentiras. Uma comunidade incapaz de formular perguntas é uma comunidade sofredora de gaguez política, ou seja, padece de asma cívica...
Aparentemente, a conhecida opinião pública parece fixada na classe política. Mas... seria gostoso saber se haverá outras curiosidades na lista d’espera da comunicação social da nossa praça. Por exemplo: quem são os melhores professores da Ilha? Quem é considerado (pelos colegas e pelos clientes) o mais prestimoso taxista da cidade?... Quem são os mais talentosos jardineiros da ruralidade micaelense? Seria possível conhecer os mais competentes enfermeiros do Hospital de Ponta Delgada?   

2 – novos ricos – novos pobres... 
 
No meio do anedotário social vigente, atrevo-me a sugerir que ainda vale a pena ‘amarmo-nos uns aos outros’, mesmo que tenhamos de ir espiritualmente a pé, para não chegar atrasado à praça da reconciliação étnica. De resto, até mais ver (e acreditar) não aceito o boato da sentença celestial que reserva o planeta Terra  para servir de hospital planetário aos malucos do sistema solar...
Com que então – somos todos iguais? Cuidado! A igualdade é um produto (aliás maravilhoso) da imaginação humana. Já ouvi dizer que somos co-herdeiros da Terra, mas temos de ter merecer a nossa quota-parte.
Porventura, ainda mal refeita das ‘curvas’ do próprio percurso existencial, a minha geração fez parte daquelas que irao  regressar ao berço natal (vivos por fora) todavia com a pele da alma ressequida pelas conhecidas contrariedades oferecidas pelo longo ‘cruzeiro’ colonial. Curiosamente, muitos dos que nos precederam na vida têm tido o generoso cuidado de nos ‘animar’ com a notícia de que a vetustade humana (embora irreversível) não se nos apresenta como fenómeno de repentina crueldade. Aliás a velhice não é defeito de nascença...! 
Habituei-me a trazer o ouvido sintonizado para melhor entender o murmúrio dos deserdados. A receita é simples: ajudar a juventude no acesso meritocrático ao capital humano; não disfarçar o bornal dos nossos erros políticos; reforçar os alicerces da autonomia pessoal, para melhor resistir ao namoro maligno da subserviência política...
De resto, meus caros, a humanidade não é mera colecção de indivíduos – é uma ideia em marcha. Avante!

  JoãoLuís de Medeiros

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