Em diversas capitais da União Europeia, como Londres, Berlim, Paris, Varsóvia ou Praga, ainda que praticamente omitidas pelos jornais e televisões portugueses, sucedem-se as manifestações populares e as greves, por vezes de dimensão gigantesca (como sucedeu em Praga em 3 de setembro), protestando ora contra a guerra ora contra o crescimento dos preços da energia e dos bens alimentares essenciais dela consequentes ou da especulação a ela atrelada, promovida pelas grandes empresas ligadas àqueles setores.
De facto, as nuvens belicistas carregam cada vez mais de negro e de insegurança o nosso quotidiano e futuro próximo, enquanto uns poucos se aproveitam disso mesmo para acumular lucros de forma acelerada. Entre os envolvidos direta e indiretamente na guerra, desencadeada em 2014 dentro do próprio território da Ucrânia (pelo golpe de estado apoiado pelos EUA e o ataque militar Ucrâniano à população russófona da região de Donbass) e que se agravou depois com a invasão da Rússia, predomina a insensatez criminosa e ameaçadora para o mundo inteiro de considerar como solução exclusiva para o conflito a continuidade da guerra até à destruição total de uma das partes.
Nessa linha o Nobel da Paz de 2022, em vez de apontar para uma outra saída como lhe exige o nome que carrega, fez mesmo discutíveis fretes ao fundador de um partido bielorrusso alinhado no parlamento europeu com a extrema-direita do VOX de Espanha, dos Irmãos de Itália e dos Democratas da Suécia, e à organização liderada por uma ucraniana que desde 2014anda a pedir armas a Joe Biden para combater a Rússia…
Mas à medida que os efeitos colaterais do conflito se vão fazendo sentir com cada vez maior intensidade no nosso dia a dia, mais condições se criam para, em natural legitima defesa como já estão fazendo, as populações reagirem e manifestarem o seu descontentamento e insatisfação com o rumo dos acontecimentos e a falta de resposta adequada de vários governos da União Europeia à nova crise que se segue imediatamente à da pandemia. Na passada segunda feira foi isso mesmo que mobilizou para a rua em Angra do Heroísmo os trabalhadores do comércio, e à semelhança de outras cidades europeias, também em Lisboa e no Porto, já neste sábado (15) os portugueses, por convocação da CGTP, vão sair à rua para protestar contra a nova política de empobrecimento que ficou oficialmente consagrada, na sequência do recente acordo na concertação social, do qual aquela central sindical se desvinculou.
Na verdade e em resumo, o OGE para 2023, prevendo algumas compensações, insuficientes para repor sequer os rendimentos anteriores à crise inflacionária, preconiza para as pensões um grave corte, em termos reais, face à inflação acumulada de 2022 e 2023. Para os salários a previsão é de que não aumentarão senão nos números e, em muitos casos vão mesmo baixar, enquanto todo um conjunto de benefícios, descontos fiscais e outros serão encaminhados para o setor empresarial, mesmo que estejamos no melhor ano de sempre para o turismo ou para os resultados financeiros dos grandes grupos económicos e das empresas alimentares e de energia.
Em nota de rodapé merece referência uma outra manifestação. A dos trabalhadores do IROA e do IAMA contra a proposta leviana do deputado da IL no parlamento dos Açores que tem em pouca conta os efetivos direitos e garantias desses trabalhadores, os objetivos públicos das duas instituições e a virtual poupança de recursos resultante da sua fusão, tal como muito bem considerou o Conselho Económico e Social.
Mário Abrantes *