Diário dos Açores

Linguagem, Verdade e Formação de Professores: Raiz de Sentido. Biobibliografia e Fundamentos (I)

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Na Educação e Formação de Professores, uma das abordagens com grandes virtualidades são os estudos das Biografias, das Histórias de Vida, do conhecimento que se enraíza nas experiências e nas vivências. Um dos Investigadores Portugueses que se tem dedicado a esta metodologia, plena de potencialidades, conteúdos e conhecimentos, é o Professor Doutor António Sampaio da Nóvoa, seguindo, aliás, também, investigações de estudiosos de outros Países. A atualidade de uma publicação não está no facto de ela ter saída na véspera. O que importa é que cada livro, se é bom, tem atualidade, independentemente da sua antiguidade no tempo cronológico. O fundamental é o tempo do Logos, que lhe dá sentido para os vários tempos. A atualidade de um livro está na profundidade das ideias, dos saberes e da novidade que pode sempre renascer, em tempos intemporais, de tempos memoráveis e primeiros onde as coisas apareceram pela primeira vez ou foram revisitadas com sistematicidade. Tenhamos presente alguns exemplos, entre muitos outros. A República de Platão ou a Suma Teológica, do Magno S. Tomás de Aquino, Teólogo e Filósofo, tão profundamente estudado pelo Professor José Enes, em À Porta do Ser (1969), ou a Ética a Nicómaco, de Aristóteles. Cito o livro coletivo Profissão Professor (1991), organizado por António Nóvoa, com textos de António Nóvoa, Daniele Hameline, J. Gimeno Sacristán, José M. Esteve, Peter Woods, Maria Helena Cavaco e o livro, também coletivo, também coordenado por António Nóvoa, intitulado Vidas  de Professores (1992), com textos de António Nóvoa, Michaël Huberman, Ivor F. Goodson, Mary Louise Holly, Maria da Conceição Moita, José Alberto M. Gonçalves, Maria Madalena Fontoura, Miriam Bem-Peretz. Cada sujeito é singular mas tem uma dimensão universal.
A Singularidade e a Universalidade eram sempre dimensões correlacionadas pelo Saudoso Professor Machado Pires, mas fazia notar na expressão “à medida”, que o que tem peso é a singularidade, aquele Professor, em concreto, e não um coletivismo que muitas vezes esconde, de modo disfarçado, incompetências individuais, eventualmente promovidas, sem mérito, à custa dos outros. O Sujeito assume, tem de assumir, a Verdade da Linguagem e a Linguagem da Verdade. O verdadeiro conhecimento tem um vínculo à verdade, assim como os ramos da videira têm ligação ao tronco e raiz, da qual vem a seiva, o alimento, que faz crescer e ser, em substância e beleza.
Têm-se multiplicado os livros de Homenagem. Isso é bom, é, até, uma questão de justiça mas se constituir uma força ética de seguir os exemplos e práticas. Mais do que dar exemplo, que é fundamentalíssimo, o mais relevante, ainda, é Ser Exemplo, o que obriga a uma autoformação – e heteroformação - e a uma consciência profunda do Dever. A dita sociedade líquida, longe de dispensar, obriga retomarmos a ética kantiana, de sentido universal: “Age de tal maneira que a máxima da tua ação se torne uma lei universal”, não por opinismos, nem relativismos – que recusamos – mas, pelo contrário, pela força ética da subjetividade que se compromete com a objetividade e os valores universais, na pluralidade das razões e dos fundamentos, que não são incompatíveis com a relatividade fundamentada.
O pensar plural não dispensa o pensamento nem a linguagem, com esforço de objetivação e de objetividade, que se conjuga com a subjetividade, como nos ensina a Fenomenologia.
Ora, tenhamos em conta “Linguagem e Formação de Professores”. Para além da linguagem temos as linguagens que são modos pessoais e individuais de cada um procurar aceder à experiência de si e ao universal. Miguel Torga afirma: “O universal é o particular menos os muros”. Vergílio Ferreira afirma: “Uma Verdade é tanto mais universal quanto mais nos fala à individualidade que somos”.
A Quebra do Valor da Educaçãoe a necessidade fundacional do Valor da Educação. Só com pessoas de crédito temos formação idónea, alunos, professores e demais agentes educativos, motivados e trabalhadores, é que a Educação pode regenerar, revigorar e, voltar, um dia, a ser levada a sério, como tem de ser, resgatar o Sentido. Não podemos permitir que medíocres, alheios à Educação, - seja onde for - estraguem o trabalho de quem sabe, de quem tem Conhecimento, e trabalho de quem leva anos e anos a dar provas de elevada competência. Mas a Verdade é filha do tempo e quem age por maldade, seja onde for, e em que setor for, vai ser capturado na sua própria armadilha. Quem ama e sabe, constrói, dá vida, quem não sabe e tem inveja destrói. Depois de tantos fenómenos de bullying e perseguição – as notícias mostram -, a maldade já não tem para onde fugir. “A verdade é filha do tempo”. Só os bons triunfam, só as pessoas movidas pelo Bem são credíveis e levadas a sério. As Grandes Figuras, em toda a parte, não dão tréguas à maldade, que fustiga e destrói a Educação. “A maldade merece castigo”. Os professores e os líderes têm a obrigação moral de serem exemplos. É uma Obrigação que não tem de estar escrita em lado nenhum. O regulamentalismo é um vírus que há de destruir nas instituições. Somos, todos, sujeitos morais. O ato acompanha o agente e, mais cedo ou mais tarde, só os valores da Justiça, do Bem, da qualidade, etc, é que têm de se afirmar na Educação, “afastando a má moeda”, que neste domínio da Educação e Formação de Professores também se aplica. O Importante é manter viva a Esperança. O Bem triunfa sempre. João Paulo II afirma que “de um mal sai sempre um Bem Maior”. É uma questão de Ser (ontológica). É  a civilidade e civilização do humano, das pessoas e das instituições que já começam a estar em causa e a vacilarem, perigosamente, nos Princípios e nos Fundamentos. Por todo o lado, muito tem de mudar, para melhor. A Educação só se afirmaem ambientes humanos de qualidade, promotores de formação pessoal, interpessoal e profissional, que reconstruam as Sociedades, seja onde for. Ao mesmo tempo a Educação, desenvolvida por profissionais responsáveis, na palavra e na prática, gera ambientes saudáveis. Educação e Saúde estão ligados, em todos os sentidos, para que haja realização, ser, bem-estar e produtividade. Respeitar o outro não é uma Opção, respeitar o Outro é uma Obrigação Moral e Ética, e todos têm de ser exemplo edificante para todos. É tempo de “Aprender a Ser”, como tanto defende e fundamenta a UNESCO.
Não há, apenas, uma crise da e na Educação, há um descrédito da Educação e Formação em vários setores, devido, muitas vezes, à falta de credibilidade de pretensos/as líderes, de muitos professores/as e outros agentes educativos, cuja qualidade, na palavra e na ação, fica muito aquém do que exigível. Os padrões de exigência têm de ser elevados, com sentido humano e desenvolvimento integral. Mas na Educação, seja onde for, existem pessoas com muitas potencialidades. É no centro do centro da pessoa que se edifica o cidadão e o profissional. Ninguém é líder, nem professor/a, de Referência, - e só a Referência é credível - só por ocupar um cargo, que tanto pode ser exercido de modo edificante como de modo danoso, no sentido de não criar as condições favoráveis a que todos se sintam bem e participantes.
Falta muita discrição na forma de ser e de estar em Educação e na Sociedade. O crédito não se improvisa nem decorre do exercício de uma função, seja ela qual for. É tempo de dignidade e de dignificação da Educação e da Formação. A Educação tornou-se ausente de si mesma. Onde está o conteúdo e a seiva, onde está o Compromisso de Ser em Dever? Onde está o compromisso ético com o futuro das gerações, das profissões, do Planeta, etc?
Há uma crise profunda na Educação e há falta de Professores, em especial bons Professores. A escassez de Professores talvez possa, de novo, mostrar que, em si, os graus e os títulos – embora necessários e respeitáveis – não são uma garantia intrínseca de qualidade. O grau tem de corresponder à substância. Se houver inteligência e aconselhamento com quem sabe, e é Professor de Vocação, - só ouço e dou valor a esses - é possível encontrar pessoas, sem as qualificações exigíveis com capacidades para ser professor e formar-se, de modo permanente. Também se aplica às Instituições de Educação (formal, e não só) a condenação, severa, do Papa Francisco ao mexerico. Também na educação, o mexerico é um vírus que o Papa está a atacar à escala global, ele que lançou o “Pacto Educativo Global”. Aliás, Educação e mexerico sãoin compatíveis., em pessoas credíveis, e em educação e formação têm de ser credíveis. Um professor não se forma com modelos que formatam e deformam. Os Professores formam-se potenciando e desenvolvendo virtudes, conhecimentos, valores, capacidade, atitudes, capacidades, competências, interrogando e questionando-se.
Somos seres de imperfeição, mas sempre na Busca de Ser e Fazer Melhor, isto é “Educação da Filosofia”, uma expressão do Professor Doutor José Ribeiro Dias, Professor Catedrático Jubilado, com 92 anos de idade, que tem sido um Exemplo Notável nas Universidades porque, antes, é um Exemplo Notável como Pessoa, com Humildade, como e Cidadão, sempre na busca de novos conhecimentos mas também no encontros de novas sínteses, recuperando e regenerando conhecimentos que nunca perdem validade de formação humana. Há muitos anos, talvez há quase trinta anos, o Professor José Ribeiro Dias disse-me – em ambiente de reflexão - que para Educar e Formar seria muito útil ver e refletir sobre muitos Documentários do Mundo da Vida Selvagem. Quanta atualidade tem esta sugestão, sábia e rigorosa. Infelizmente, uma sugestão que será cada vez mais uma realidade, se tivermos em conta o descarrilamento, a desorganização e disfunção da Educação e da Formação, a inoperância dos sistemas educativos e formativos, que têm de ser corrigidos iluminados pela Sabedoria, orientados por professores e investigadores sábios, pessoas que não fazem da Educação oportunismos de promoção, na tática migratória das conveniências. Só quem tem Autoridade Moral, Auctoritas, tem legitimidade para falar. Na realidade só essas pessoas são ouvidas. Os sistemas educativos têm de ser guiados por Personalidades de Categoria, com profundo Conhecimento e Humildade, verdadeiros protagonistas para revitalizar os sistemas educativos, que requerem uma Política Educativa de Exigência e Valores, fundada numa Filosofia da Educação e Filosofia do Currículo.

*Doutorado e Agregado em Educação e na Especialidade de Filosofia da Educação

Emanuel Oliveira Medeiros
Professor Universitário*

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