Diário dos Açores

Estamos a ficar para trás!

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Editorial

O INE e o SREA acabam de divulgar os dados do PIB reportados a 2021 e as notícias não são boas para os Açores.
A Região voltou a divergir da Europa passando para 65,8% da média do PIB per capita da Europa (67,2% em 2020; 69,7% em 2019; 75% em 2010).
Com o todo nacional a Região mantém-se nos 88% da média do PIB per capita do país (88% em 2020; 89% em 2019; 91% em 2010).
A produtividade aparente do trabalho nos Açores é a mais baixa do país, com um índice de 88% da média nacional.
Isto é o que acontece quando se desbarata dinheiro, ainda por cima quando é pedido emprestado, para sustentar, ao longo dos anos, projectos ruinosos e outros mal geridos.
Os dados daqueles organismos só vêm confirmar, com segurança, aquilo que já vimos alertando todos os anos.
Estamos a desperdiçar oportunidades atrás de oportunidades, com milhares de milhões de euros em transferências europeias, em nome de uma coesão que nunca mais alcançamos.
Bem pelo contrário, os outros estão a avançar e nós a ficarmos cada vez mais para trás.
Aqui está um tema que merece profundo debate e reflexão por parte de toda a sociedade açoriana, a começar pelos responsáveis políticos, que não têm sabido utilizar as oportunidades que nos dão.
O parlamento açoriano, que ainda esta semana promoveu uma discussão de tasca sobre a saúde, bem poderá dedicar-se, nos outros 15 dias em que pouco faz, a um debate exclusivamente destinado aos caminhos (errados) que esta Região está a tomar, com estratégias de desenvolvimento altamente duvidosas e com um desempenho medíocre no que toca à geração de riqueza.
Como escrevemos aqui na semana passada, quase como um presságio, não surpreende que os jovens destas ilhas estejam a sair para não mais voltar.
Uma Região que se mantém no último lugar do país na criação de riqueza não atrai ninguém e só se perspectiva como herança para as próximas gerações dívidas e mais dívidas, com o natural empobrecimento da população.
Veja-se a Madeira, em primeiro lugar no crescimento do PIB.
O que é que temos de diferente para não termos o mesmo sucesso na geração de riqueza? Mais ilhas? Menos gente? Ou haverá outros factores?
É isso que é preciso debater e reflectir.
A não ser que continuemos a enterrar a cabeça na areia, como gostam os nossos políticos.

A trapalhada (mais uma) dos cabos submarinos não surpreende ninguém.
Tudo em que o Governo da República mete a mão, em relação às Regiões Autónomas, nasce torto e mal feito.
É uma sina dos governos de António Costa e todos sabemos porquê.
Foi com a cadeia e a vergonha da bagacina, foi com as mentiras do financiamento à Universidade dos Açores, foi com a badalada descontaminação na Terceira, as promessas da gestão partilhada do mar e por aí fora.
É um histórico vergonhoso para os últimos governos, que nos tratam como autênticas colónias à espera das migalhas da soberania.
Agora é o projecto dos cabos submarinos, que já todos percebemos estar envolto numa grande embrulhada, com interesses políticos a sobreporem-se às orientações técnicas.
A arrogância do desastrado Ministro das Infraestruturas explica tudo: não há interesse da República em que as Regiões Autónomas se envolvam nesta matéria, porque suas excelências, lá no Terreiro do Paço, é que sabem tudo, com a agravante de serem aplaudidos pelos seus acólitos de cá.
O futuro cabo submarino é matéria tão importante para ficar apenas nas mãos dos políticos, sobretudo quando já deram provas de uma enorme incompetência, e deixar que os técnicos e especialistas na matéria nos esclareçam o que há a esclarecer.
O Eng. João Quental Mota Vieira, um dos mais reputados especialistas nesta matéria, ex-Chefe da Estação de Cabos Submarinos dos Açores, publicou um interessante artigo no “Correio dos Açores” sobre todo este imbróglio, alertando para uma série de questões graves que ninguém ainda soube responder com clareza.
As notas emitidas pelo Governo da República e pelo Governo Regional são demasiado técnicas para a população perceber que algo de grave se está a passar com este projecto dos cabos submarinos.
O Eng. João Mota Vieira devia ser chamado a colaborar com o tal Grupo de Trabalho e seria, certamente, uma voz autorizada a ajudar-nos a todos, cidadãos açorianos, a perceber o que está em causa em todo este projecto.
Até lá, certamente que se sentirá a pregar no deserto.
Sei o que isto é, neste país e região de políticos iluminados.
Como diz o primeiro-ministro, com a sua habitual arrogância: habituem-se!

O aumento brutal das tarifas de electricidade anunciado pela ERSE para Janeiro próximo é um autêntico murro no estômago de muitas famílias açorianas, mas especialmente para as empresas.
Se aquilo que os empresários de S. Miguel alertaram se concretizar, vamos assistir a graves problemas na nossa economia, já de si debilitada, como se vê pelo crescimento anémico do PIB. 
Se as empresas se lembram de transferir os custos para os consumidores, então é quase certo que vamos assistir a muitas falências e a despedimentos.
Nós, nos Açores, não temos alternativa à EDA e à energia eléctrica, ao contrário do Continente. 
A ERSE parece que não sabe disso. 
Pudera, estão sentados em Lisboa a decidir como devemos viver aqui, tal e qual como no tempo das caravelas.
 Se o Governo Regional não der o murro necessário, espera-se um vendaval para as empresas, consumidores e economia regional.


O que se está a passar nos Açores e na Madeira sobre o consumo de drogas sintéticas é, simplesmente, alarmante.
Não se percebe a passividade das autoridades nacionais e regionais nesta matéria, que se limitam a comentar os estudos sobre o fenómeno e a lamentar a situação desastrosa nos dois arquipélagos, mas quanto a intervenções de fundo... nicles!
O facto das duas regiões insulares liderarem o consumo de drogas sintéticas merecia uma atenção urgente por parte das autoridades nacionais, porque é um assunto, também, de natureza nacional, pelo que é inconcebível que a inércia se deva a razões de cariz político, com governos de diferentes cores políticas.
Nos Açores, por sua vez, o Governo Regional já devia estar mais activo no terreno, com toda a sua rede de apoio social, intervindo ainda mais junto das famílias e dos doentes.
É arrepiante constatar que até crianças de 13 anos já estejam envolvidas no consumo dessas drogas e não se conheça o que é que está a ser feito para combater o flagelo, para além dos habituais tratamentos de metadona e outras substâncias, por vezes em situações humilhantes, nos locais habituais, em fila e sem privacidade.
Como alguém comentou, estamos a formar autênticos “jovens zombies”, sem que se conheça uma estratégia de esperança e de luz ao fundo do túnel.
Pelo contrário, os números engrossam cada vez mais e não se entendem as causas.
Alguma coisa está a falhar.
Provavelmente a começar por todos nós, sociedade, mas as autoridades nesta matéria não se livram, igualmente, da responsabilidade.
Osvaldo Cabral
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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