Uma boia por uma vida
Diário dos Açores

Uma boia por uma vida

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Peixe do meu quintal

Há cerca de um ano que o jovem casal Alexandra Rose e Jakub, de origem polaca, vive feliz nos Açores. São artistas plásticos e não só. Com vários trabalhos feitos em São Miguel, acabaram por despertar o desejo da mãe de Jakub – Barbara - a visitá-los. Esta, por sua vez, trouxe a amiga de longa data - Joana - e ambas estavam adorando os poucos dias em que descobriam os recantos ilhéus.
Neste 10 de dezembro, sábado, aparecem na praia e decidem comer no conhecido bar local. E foram passear pela borda da água, tirando fotos.
As ondas muito agitadas, encrespadas, ofereciam um bonito espetáculo. 
Num descuido imprevisível, Barbara é arrastada por uma onda maior. Sem saber nadar e apanhada de surpresa, entrou em pânico. O filho Jakub atira-se ao mar e por mais que tentasse não consegue ver a mãe. A amiga Joana faz o mesmo, mas enrolam-se todos no mar carregado de areia que assim dificulta o resgate.
Cá em cima, no bar, estão todos a assistir ao jogo Portugal-Marrocos e ninguém se dá conta do que se desenrola lá na praia. Jakub, perante a sua impotência de trazer a mãe para terra, decide vir a correr ao bar e só então o alarme é dado. O proprietário imediatamente manda a proprietária telefonar ao 112 a dar conta da situação – estamos pelas 14h15 - e pede ao seu funcionário para o acompanhar. Ambos vão a correr para a praia e deparam-se, no meio das grandes ondas, com dois corpos. Ora desapareciam no marulhar, ora boiavam por momentos.
Jakub tenta ajudar novamente e desta vez com a ajuda de António e do seu patrão. António é um jovem de 25 anos e fisicamente bem composto. O patrão tem 74 anos. 
Entretanto, Jakub começa a perder o controlo e vê-se aflito na água. Agora são três a resgatar. António atira-se à água e depois de algumas tentativas, consegue trazer Jakub e afastá-lo da borda. De seguida vai novamente à água e agarra uma perna de Barbara, enquanto o patrão se encarrega de Joana que luta com as ondas. António consegue trazer Barbara, mas outra onda maior arrasta ambos novamente para fora. António aparece fora de água e procura Barbara. De novo agarra-lhe num braço e trá-la para terra. Entretanto, o seu patrão consegue agarrar Joana que, exausta, se deixava levar pelas ondas.
Na varanda da praia, a cerca de 50 metros do local das vítimas, reúnem-se curiosos que se limitam a observar de longe. O patrão grita para que venham ajudar a puxar as vítimas da água, mas só uma senhora o faz - Célia. Ela estaria depois sempre ao lado do corpo de Barbara e consolando Joana. Depois de várias tentativas, conseguem trazer as vítimas para lugar mais afastado das ondas. Na areia, o patrão diz ao António para começar a massagem cardíaca. 
Conseguindo finalmente trazer Joana para lugar seguro, António e o patrão verificam que esta está respirando. Deitam-na de lado e António continua a massajar Barbara. O patrão constata que Barbara não dá sinais de vida, embora expelindo água e areia pela boca, mas guarda isso para si e incentiva António na reanimação. De regresso a Joana, esta começa a recompor-se e vai para junto de Barbara e ajoelha-se. Chora e reza para que a sua amiga se salve. Jakub, já recomposto, anda de um lado para o outro e pede que salvemos a mãe.
No meio de todo este alvoroço, a experiência do patrão, enquanto ex-combatente da guerra colonial, diz-lhe que Barbara não vai conseguir. E chegam, por fim, dois bombeiros com algum material de primeiros socorros. António e o patrão dirigem-se a Joana, já acompanhada por Célia, a única pessoa que veio da varanda ajudar nesta operação. Os bombeiros chamam em seguida os paramédicos que, passada outra meia hora, chegam na pessoa de uma jovem carregada de apetrechos de socorro.
Uma boia e uma corda teria dado muito jeito no início. 
Com cada vez mais gente a visitar os Açores, necessário se torna tomar precauções, pois estes episódios vão acontecer cada vez mais. Uma boia e uma corda de 20 metros, pendurada numa caixa junto aos balneários, eis um objeto de grande utilidade para casos análogos, em muitos sítios onde o perigo é maior e não há vigilância.
Barbara Niedorezo era uma artista. Aqui deixo um dos seus inúmeros trabalhos, propício para a quadra natalícia que ela, por pouco, não irá viver. 
José Soares

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