Diário dos Açores

O que é a Lusofonia - Parte 7 20 anos de colóquios de 2002 - 2022

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Opinião

Santa Maria ilha-mãe
Santa Maria e o 16º Colóquio da Lusofonia estavam pejados de incertezas, dúvidas meteorológicas, mas com a esperança de que fosse um sucesso. Chegamos à Ilha-Mãe depois do luxo oriental de Macau em abril, convictos de que também Santa Maria iria marcar indelevelmente pela sua beleza, sortilégio, hospitalidade e simplicidade. O Município de Vila do Porto teve a inovadora ideia de colocar este Colóquio no Roteiro Cultural do Turismo da ilha. As nossas sessões refletiam já a mudança de paradigma, havendo mais tempo para visitar e aprender, com Daniel Gonçalves, Daniel de Sá, João Santos e Joana Pombo para nos guiarem.
Visitei pela primeira vez o Museu em Santo Espírito, em 2006, e em longa conversa com o Diretor, João M Trindade Reis dos Santos, fui convidado a trazer os Colóquios. Cinco anos depois concretizou-se o sonho com patrocínio do município e apoio da Direção Regional da Cultura. Ao longo da vida, aprendi linguagens e culturas enriquecendo a bagagem que comigo transporto, caixeiro-viajante de sonhos que insisto em tornar realidade. Assim se explica que o 16º Colóquio tenha chegado nas asas do sonho a que chamamos Lusofonia. Os únicos corsários que encontramos nos mares foram os que não reconhecem o valor dos Colóquios, e a necessidade da defesa intransigente da língua e cultura de todos nós. A nossa artilharia de mais de 200 milhões de lusofalantes, a Gramática de Evanildo Bechara, os Dicionários de Malaca Casteleiro e obras da novel Academia Galega da Língua Portuguesa foram suficientes para evitar a abordagem. Os monstros adamastores, para os quais nos haviam alertado, soçobraram com as primazias do Acordo Ortográfico de 1990 e foram juntar-se em triste carpideira aos Velhos do Restelo. E da ocidental praia Lusitana, por mares nunca dantes navegados, passamos além da Taprobana, em perigos e guerras esforçados, mais do que prometia a força humana, e entre gente remota edificamos o Novo Reino da Lusofonia, que tanto sublimámos.
 O poeta devaneia, deus concilia e o homem cumpre. Bem-haja o Município de Vila do Porto por reconhecer a capacidade dos Colóquios que por obras valorosas se vão da lei da morte libertando. A Ilha-Mãe abre-se ao mar. As inquietas ondas apartando, os ventos brandamente respiravam, das naus as velas côncavas inchando; da branca escuma os mares se mostravam e a bandeira da Lusofonia se enfunando, as nossas naus não buscam as Índias, antes se deslumbram espalhando as palavras dos mestres Malaca e Bechara. Viemos prestar a justa homenagem a Daniel Augusto Raposo de Sá, nosso convidado e o escritor micaelense mais mariense. Parafraseando o grande vate Luís Vaz de Camões termino dizendo
Tão brandamente os ventos os levavam,
Como quem o céu tinha por amigo:
Sereno o ar, e os tempos se mostravam
Sem nuvens, sem receio de perigo.”
É este espírito que nos trouxe à Ilha-Mãe. Bem-haja o Município de Vila do Porto.

Manifesto AICL 2012, a Língua como motor económico
O 17º Colóquio na Lagoa foi um sucesso com mais de 5 dezenas de participantes. 
Na Homenagem contra o Esquecimento presentes: Eduardo Bettencourt Pinto (Canadá), Caetano Valadão Serpa (EUA), Eduíno de Jesus, Daniel de Sá, Viúva de Fernando Aires, Dra. Idalinda Ruivo Medeiros de Sousa e filha Maria João Ruivo de Sousa (S. Miguel); Vasco Pereira da Costa e Joana Félix (Poetisa, filha de Emanuel Félix) (Terceira); Urbano Bettencourt (Pico), Isaac Nicolau Salum (Brasil, descendente, presença da filha Mª Josefina Salum).
Foi lançado o 14º Caderno de Estudos Açorianos dedicado a Mª de Fátima Borges, e um MANIFESTO da Lusofonia em tempo de crise. Houve poesia açoriana, um recital do Cancioneiro açoriano com Ana Paula Andrade e duas alunas (flauta e viola da terra). Igualmente atuou o grupo musical infantojuvenil Velvet Carochinha (EBI Maia) na abertura no Convento dos Franciscanos onde estiveram o secretário do Governo Regional, Dr André Bradford (falecido em 2019), o Presidente da Câmara Municipal da Lagoa, os patronos dos Colóquios, Malaca Casteleiro (Academia das Ciências de Lisboa), Evanildo Bechara (Academia Brasileira de Letras), Concha Rousia (Academia Galega) e o escritor moçambicano João Craveirinha em substituição da Dra. Maria de Jesus Barroso (por impedimento médico). 
Foram apresentadas 3 obras literárias, uma mostra de livros açorianos e duas representações do grupo Teatro & Cia do Rio Grande do Sul. 
A AICL, preocupada pelas recentes decisões que põem em causa a continuidade da Língua e Cultura, apresentou ideias que visam um estímulo económico. Perante a existência de estudos que apontam a importância do setor de 17% do PIB e dado que Brasil e Portugal são os que reúnem melhores condições, fica a ressalva de que se deverão juntar os países da CPLP quando estiverem dispostos a fazê-lo sem receios de Quintos Impérios e neocolonização cultural.

Chrys Chrystello*

*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

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