“O Governo Regional entrou em m de sobrevivência política; O PS está hoje mais preparado para ser Governo”
Diário dos Açores

“O Governo Regional entrou em m de sobrevivência política; O PS está hoje mais preparado para ser Governo”

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André Franqueira Rodrigues, Secretário Coordenador do PS da ilha de São Miguel

Foi nomeado recentemente Adjunto do Grupo Parlamentar do PS na Assembleia da República. Como tem sido a experiência?
Tem sido uma experiência muito interessante. Depois de vários anos no sector privado, e de, posteriormente, ter trabalhado na Assembleia Legislativa Regional e para o Governo dos Açores, a oportunidade de acompanhar mais de perto os trabalhos parlamentares a nível nacional e de trabalhar directamente com o Secretário-Geral Adjunto do PS tem-me permitido, também, aprofundar o conhecimento das diferentes realidades do país representadas na Assembleia da República e, com isso, aprender. Sempre que há a oportunidade de, simultaneamente, poder dar um contributo e também aprender, vale sempre a pena.

Mantém-se como Secretário Coordenador do PS da Ilha de S. Miguel. Como consegue conciliar os dois trabalhos, estando em Lisboa?
Divido o tempo entre São Miguel e Lisboa e acompanho diariamente a actividade política regional.
Para além disso, quer na equipa do Secretariado de Ilha de São Miguel do PS, quer ainda nos Secretariados Concelhios e de Secção, há uma partilha de responsabilidades e uma coesão muito significativa quanto ao projecto e aos objectivos políticos que temos pela frente.
Não sou certamente o primeiro - ou sequer o único - nem serei o último dirigente político a acumular temporariamente funções partidárias com responsabilidades profissionais que implicam deslocações frequentes.
Como insulares estamos muito habituados, em diferentes fases da vida, a deslocações mais ou menos frequentes não só entre ilhas como também de e para a Região.
 Não há, neste particular, nada que obste ao desempenho da função num órgão executivo que, para além disso, tem uma natureza colegial.

Com a ida de Francisco César para Lisboa e agora também do André, não há o risco dos socialistas de S. Miguel considerarem isso uma espécie de debandada, deixando o partido mais fragilizado?
Não só não há uma debandada como o partido não está nem ficou mais fragilizado.
Em primeiro lugar, desde logo, porque eu e também o Francisco estamos frequentemente em São Miguel e continuamos a trabalhar nas diferentes funções que desempenhamos no PS-Açores e a corresponder a todas as solicitações no âmbito das mesmas, quer no plano da ilha de São Miguel quer no contexto regional, uma vez que ambos somos membros do Secretariado Regional do PS.
Desde que este Secretariado de Ilha assumiu funções, em Abril de 2021, o PS em São Miguel tem vindo progressivamente a aumentar o seu número de militantes.  
Tivemos, entretanto, dois actos eleitorais, as autárquicas logo de seguida em 2021, nas quais o PS manteve o número de câmaras municipais em São Miguel e as legislativas nacionais, em 2022, em que o PS venceu em cerca de 90% das freguesias de São Miguel.
A par disso, temos vindo a realizar um conjunto de iniciativas e de reuniões por toda a ilha. Destaco, aliás, a este propósito a primeira Convenção Autárquica que teve lugar na Lagoa, para além do trabalho permanente de acompanhamento político no que a São Miguel diz respeito em termos da governação.

O seu mandato termina, se não erro, em Maio deste ano. Vai recandidatar-se? Que balanço faz deste mandato?
Quando, em 2021, me candidatei, a Secretário Coordenador de Ilha, o PS tinha acabado de deixar de ser Governo, pela primeira vez em duas décadas.
Na ocasião, e naquele que, porventura, foi um dos momentos mais difíceis para o partido nos últimos anos, uma vez que tendo sido o mais votado, ainda assim, não conseguiu formar Governo, assumi que tinha um projecto político para dois mandatos.
Se continuar a merecer a confiança dos meus camaradas, a minha intenção é concorrer a um segundo mandato e continuar o trabalho que iniciamos em Abril de 2021, o qual, para além da dimensão política, tem também uma importante tarefa no que concerne à reorganização e à dinamização das estruturas locais, procurando, para esse efeito, atrair cada vez mais pessoas à participação política.
Quem exerce funções dirigentes numa organização sabe que está sempre a prazo e, por isso mesmo, deve fazer o melhor possível para no final deixar uma estrutura mais preparada, mais dinâmica e mais capaz de responder aos desafios que tem pela frente. É isto que tenho procurado fazer com o apoio e em colaboração com os militantes e dirigentes das estruturas locais e concelhias do PS.  

Acha que o PS, liderado por Vasco Cordeiro, está a fazer uma oposição eficaz?
Uma análise justa terá sempre que reconhecer que, numa primeira fase, o PS teve que se adaptar e necessariamente reaprender a fazer oposição, sobretudo, depois de, repito, ter sido o partido mais votado e não ter formado Governo. Julgo que foi necessário um período de adaptação.
Hoje, é para mim claro que o PS é melhor oposição do que no início desta legislatura.
Foi indispensável fazer uma reflexão e ter a necessária humildade para aprender - e continuar a aprender – com as lições decorrentes das eleições de 2020.
Aprender com as falhas e com as omissões que, naturalmente, também tivemos durante o período em que o PS foi Governo.  
É exactamente por isso que não tenho dúvidas de que o PS está hoje mais preparado para ser Governo.
Mas, na geometria variável do xadrez político açoriano, o mais curioso é verificar que a curva de aprendizagem do PS na oposição é ascendente enquanto que, por outro lado, o Governo continua a não descolar e a não dar as respostas indispensáveis num momento decisivo e difícil com que todos estamos hoje confrontados.

Como analisa o estado da governação nos Açores pela coligação?
Os governos não fazem tudo bem nem tudo mal. Dito isto, a primeira conclusão é que os partidos da coligação foram muito rápidos a entender-se para formar Governo, mas a coligação tem sido muito lenta e ineficaz a governar.
Onde se exigia celeridade, temos hesitação. Onde se exigia ponderação, temos precipitação.  Este é um Governo grande na dimensão e curto, muito curto, nas soluções para os problemas que os Açores têm hoje pela frente.
Julgo que os açorianos não esperavam - nem desejavam - esta solução governativa e, numa primeira fase, até deram generosamente o benefício da dúvida.
Hoje, há mais desilusão do que satisfação face ao desempenho do Governo. Em tempos de dificuldades, as pessoas esperam soluções e uma acção concertada e decisiva dos seus governantes e não meros discursos gongóricos e um permanente e estafado autoelogio.

O que espera desta coligação? Acha que chegará ao fim da legislatura?
Acho que o Governo entrou em modo de sobrevivência política.
Já só está interessado em chegar ao fim da legislatura e, para isso, faz tudo o que pode para empurrar com a barriga para a frente os problemas que tem e aqueles que também criou. É evidente que este Governo não tem um projeto de governação para os Açores nem tem a vontade e o ímpeto reformista para fazer o que a realidade impõe.
Para além disso, para colmatar a total ausência de projecto e de estratégia, o Governo cometeu um erro capital: tarde percebeu - se é que já percebeu - que governar não pode ser um mero exercício de distribuir verbas do orçamento.
Resultado: temos hoje um Governo paralisado e sem rumo. Um Governo refém de uma maioria absoluta vincada pelo apetite voraz dos três aparelhos partidários que o suportam, perante a cumplicidade dos outros dois partidos que sabem perfeitamente que isto não está a correr bem, mas que também já só querem que a legislatura chegue ao fim.
Perante este estado de coisas, os Açores estão a perder oportunidades, como se tem visto com o atraso (possivelmente irrecuperável) na aplicação do PRR, com o desbaratar danoso das Agendas Mobilizadoras e com o escandaloso atraso na implementação de um sistema de incentivos à competitividade económica.
A esta incompetência do Governo Regional, acrescentamos uma inacção tão inexplicável quanto insensível face à subida exponencial dos preços do cabaz de consumo e à subida dos preços dos combustíveis e da eletricidade que tanto afetam a vida das famílias e empresas.
A este propósito, é incompreensível que, para além da inação, os partidos da coligação tenham rejeitado o Plano de Emergência Social e Económica dos Açores, apresentado pelo PS/A na ALRAA.
É pena que numa fase crítica da nossa vida colectiva, sobeje tanto oportunismo e tacticismo e escasseie coragem política para, pelo menos, complementar os apoios que o Governo da República está a dar para minorar os efeitos da inflação.

O PS, enquanto alternativa, vai apresentar-se em próximas eleições com os mesmos rostos ou considera que é preciso uma renovação nas listas de deputados?
No seu devido tempo, os órgãos competentes do partido farão essas escolhas.
De qualquer modo, e como princípio geral, considero que um partido político com a dimensão e a responsabilidade do PS tem a obrigação de apresentar listas e um programa político que traduzam a ambição de vencer as eleições.
Dito isto, num sistema parlamentar e numa democracia representativa, é crucial conjugar experiência e renovação, mas sobretudo, é fundamental dar respostas que estejam em sintonia com as preocupações e os problemas com que as pessoas se confrontam no seu quotidiano.
É essencial que na dialética político-partidária, mesmo nos debates mais acesos e polarizados, não se perca de vista que a política só realiza o seu propósito se responder aos problemas e aos desafios das populações a que se destina.
Se assim não for, os políticos estão apenas entretidos uns com os outros.

Vai candidatar-se nas próximas regionais?
É cedo para decisões definitivas que, ainda para mais, não dependem tão só da minha vontade, mas também da conjugação de uma série de factores, entre os quais a decisão de vários órgãos do partido. Dito isto, estarei naturalmente empenhado em dar o meu contributo para que o PS possa vencer as eleições porque estou convencido que este é o projecto que melhor serve e representa os interesses dos Açores e dos açorianos.

O Governo de António Costa está a passar por momentos de alguma turbulência interna. Isto prejudica o PS nos Açores? Como vê o relacionamento com o Governo dos Açores?
É evidente que o Governo não está a passar a sua melhor fase em termos de perceção pública. Daqui para a frente, só pode melhorar.
Aliás, estamos a viver tempos politicamente paradoxais, uma vez que os resultados da governação de António Costa comparam, muito positivamente, com outras experiências governativas.
Só para lembrar alguns dados: Portugal teve em 2022 um crescimento de 6,8%, o maior dos últimos 35 anos e superior à média da zona-euro.
Temos uma taxa de desemprego historicamente baixa, contas públicas em ordem e um conjunto muito significativo de investimentos em curso ou em preparação que, espera-se, terão um efeito muito positivo nos próximos anos.  Não é, por isso, coincidência que, ainda há muito pouco tempo, o PS tenha merecido a confiança reforçada da maioria dos portugueses.
Mas, também temos problemas e desafios muito sérios pela frente. É necessário foco no essencial em detrimento do acessório.  Quanto à relação com o Governo dos Açores, cito o atual Presidente do Governo que, a este propósito, disse que o Primeiro-Ministro e o Governo têm sido impecáveis com a Região.

jornal@diariodosacores.pt

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