Diário dos Açores

Unanimismo sobre a Universidade dos Açores

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Até parecia que os discursos feitos na Sessão Solene comemorativa do 47º aniversário da Universidade dos Açores tinham sido combinados, mas não foram: - apenas exprimiram a unanimidade de pontos de vista existente entre os mais altos responsáveis da nossa Região Autónoma e da própria Instituição sobre a decisiva importância da mesma para a sociedade açoriana, no presente e no futuro!
A mais incisiva de entre os diferentes oradores foi, como era de esperar, a Magnífica Reitora, Professora Doutora Susana Mira Leal. Referiu-se ao contributo já dado pela nossa Universidade na qualificação de quadros, indispensáveis para o desenvolvimento regional; mas não deixou de elencar os problemas existentes na fase actual, englobáveis na carência de um tratamento adequado, por parte do Estado, para com a Universidade dos Açores.
 Os recursos em cada ano alocados, em sede orçamental, têm mantido a Instituição a funcionar em patamares mínimos de eficiência, o que não é aceitável. Acresce que as sucessivas promessas sobre melhorias nesse domínio têm sido sistematicamente postergadas, em alguns casos com requintes de autentica malvadez... Refiro-me, naturalmente, à encenação de uma majoração de apoios, que acabou deixando o Presidente do Governo da nossa Região Autónoma, ao tempo em funções, a fazer má figura, perante o cinismo dos responsáveis nacionais, que recusaram na prática o que tinham assegurado com papeis assinados e tudo.
A Universidade dos Açores tem de ter reconhecido o seu papel fundamental da realização dos nossos objectivos de desenvolvimento. Nela se reúne um escol de professores e investigadores com altas capacidades, que nos estão ajudando a avançar nas vias do progresso. É de saudar o novo esforço em curso de passar para a sociedade em geral e de modo especial para as empresas os resultados da investigação já consolidada nas várias faculdades, institutos e laboratórios que nos seus edifícios se abrigam. A Incubadora de Empresas é neste domínio uma iniciativa pioneira e tem já resultados a apresentar.
A Universidade dos Açores rejeita ficar encerrada numa espécie de “torre de marfim”, antes se abre decididamente a um frutuoso diálogo com a sociedade açoriana, concretizado também em diversas iniciativas de divulgação científica, patente já hoje em dia em meios de comunicação social das nossas ilhas. Além disso, a nova Reitora Magnífica incluiu entre a sua equipa de colaboradores mais próximos um encarregado de divulgar as diversas iniciativas programadas e já em curso, de modo que possam os interessados acompanhá-las, directamente ou mesmo à distancia, pelos canais adequados da Internet. É que de pouco vale reunir verdadeiros mestres do pensamento, reconhecidos no âmbito regional, nacional e até internacional, para falarem uns para os outros e no fim publicarem um livro que ninguém lê... O que se passa no campus da Universidade tem de passar cá para fora, ilustrando e estimulando todos os que nisso estejam comprometidos!
Com as dificuldades experimentadas nos últimos anos, a Universidade tem vindo a envelhecer nos seus quadros, porque os recursos têm sido escassos para abrir os necessários concursos, que em tão altos graus só com provas públicas é admissível aceder e progredir na carreira. E não falemos das oportunidades perdidas em arrojadas formas de cooperação inter universitária, em tempos de maior abundância iniciadas, com destaque para aquelas, viradas para o lado americano, em que esteve envolvido o Professor Doutor Vasco Garcia, mais recentemente suspensas e postas em ponto morto, sempre susceptível de um frutuoso reinício. Para além disso, têm surgido iniciativas novas e de relevante interesse, nomeadamente a criação de uma rede envolvendo as universidades das Regiões Ultraperiféricas, impulsionada pelo Professor Doutor Carlos Amaral, presentemente Director Regional dos Assuntos Europeus, que já promoveu uma primeira reunião nos finais do ano passado e tem dinamizado a articulação da mesma com as entidades europeias interessadas no respectivo financiamento.
A Universidade dos Açores enfrenta a concorrência na captação de alunos, num quadro demográfico desfavorável a nível regional, nacional e europeu, e as várias iniciativas de entidades públicas da nossa Região Autónoma empenhadas na promoção do acesso aos estudos universitários não lhe têm dado a natural prioridade. A questão não é de solução fácil, porque os direitos dos jovens açorianos incluem a liberdade de escolha do local onde querem continuar a sua formação. Resta-lhe mostrar-se competitiva na qualidade e diversidade do ensino oferecido e oferecer também boas condições de fixação para os que nela escolham estudar, área onde a questão das residências universitárias assume crucial relevo, já percebido pelas autarquias locais, mencionadas no discurso da Magnífica Reitora, comprometidas em assegurar dos seus recursos próprios os fundos financeiros necessários.
Ocasiões de pompa e circunstância, como a referida comemoração do aniversário, que incluiu o desfile dos Doutores e a sua entrada solene na Aula Magna, ao som do Hino Académico, cantado em latim, como mandam as regras da tradição, são importantes para fortalecer o espírito universitário e dar maior visibilidade à nossa Universidade. Mais importante é, porém, a inserção reconhecida dela na dinâmica da sociedade açoriana e o reconhecimento do seu valor, traduzido na garantia dos recursos financeiros adequados, pelos responsáveis nacionais, regionais e locais.

João Bosco Mota Amaral*
* (Por convicção pessoal, o Autor não respeita o assim chamado Acordo Ortográfico)    

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