Diário dos Açores

A política de terra queimada

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Os políticos estão a matar a política.
Os  “casos e casinhos “, como desdenhou António Costa, estão a provocar uma onda de revolta no país, contribuindo para o agravar do descrédito da política e dos políticos portugueses.
É um ambiente de podridão política que se vive por estes dias.
O que se vai descobrindo, dia sim, dia não, é que o sistema político no nosso país está muito desprotegido, fruto da captura do parlamento português pelas oligarquias partidárias, que abrigam os maiores lobistas a fazerem as leis que os protegem e lhes interessam.
O sistema precisa de uma grande varridela, introduzindo novos protagonistas e novos métodos, que permita a adesão de cidadãos independentes à causa pública, sem estarem vinculados aos partidos.
Nos Açores já conhecemos esta discussão há longos anos e os partidos fazem tudo para atrasá-la ou dificultar a sua introdução numa urgente revisão do nosso sistema eleitoral.
Nenhum governo está livre da desconfiança ou suspeita dos cidadãos quando os partidos que o suportam não abdicam de prerrogativas éticas essenciais à credibilidade da política.
Quando a casa está a arder é que os políticos correm atrás do prejuízo, como se vê, também por cá, com o atrasado anúncio da reactivação do Conselho Consultivo da Administração Pública Regional, depois de, lá fora, ter surgido aquela lista maquiavélica das 36 perguntas.
A questão das nomeações familiares no Governo Regional não é novidade na governação açoriana, sendo uma prática comum a todos os governos que já conhecemos.
O problema é que esta coligação prometeu ser diferente e não está a ser.
Aliás, há nesta coligação uma tendência suicida praticamente sem cura, cujo remédio final poderá ser receitado em próximo acto eleitoral.
Integrar um governo tem estes riscos e condições de prática ética, com sacrifícios pessoais, mesmo que as famílias, por mais competentes que sejam, sejam admitidas legalmente, mas nunca se livrarão de todas as suspeitas.
É uma cultura errada? Poderá ser, mas foi a que os políticos incutiram nos cidadãos ao longo da nossa democracia, acusando os outros de enormes suspeições de favorecimento e, depois, praticarem o mesmo quando estão no poder.
Não admira a revolta e desilusão dos cidadãos, que já nem sabem em quem confiar.
Se não houver coragem para mudar o sistema e a qualidade dos protagonistas, é a própria democracia que apodrece.
O que não é bom para ninguém.

Osvaldo Cabral *
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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