Diário dos Açores

Um Governo em decomposição

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O acontecimento da viragem na degradação acentuada do Governo foi, sem dúvida, a entrevista que António Costa deu à revista Visão, com a sua postura de arrogância e de desprezo pela oposição.
Parece que se cumpriu o princípio bíblico “quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”. Pois é! É a partir daí, coincidência ou não, que os “casos e casinhos”, como lhe chamou o próprio Costa, se foram sucedendo a um ritmo alucinante. Costa era humilhado, depois de tanta sobranceria, pois não sabia o que dizer, nem como reagir, quando confrontado com os casos sobre vários membros do Governo, sacudindo, como é habitual, a “água do capote”.
Com efeito, não havia dia, semana ou mês que não estivesse algum membro do Governo sob suspeita, fosse por incompatibilidade, corrupção, tráfico de influências, etc. Tudo isto resultou em treze saídas do Governo entre Secretários de Estado e Ministros, em apenas dez meses. A indemnização pela TAP, com meio milhão de euros à senhora Alexandra Reis foi, sem dúvida, o caso com mais impacto no Governo, tendo resultado num “tiro no porta-aviões“, isto é, a saída do todo-poderoso e influente Pedro Nuno Santos, putativo candidato à sucessão de Costa. A mulher sacou quinhentos mil euros (pelos vistos de forma ilegal e imoral) de uma empresa pública falida, vai para outra empresa pública, a NAV, que dá apoio à aviação, e depois é premiada ao ser nomeada Secretária de Estado do Tesouro que tem a tutela financeira sobre a TAP. O Conselho de Administração da TAP foi incompetente e também não teve sensibilidade política nesta questão, por isso devia ser demitido em bloco. Inicialmente ninguém sabia de nada, nem o Ministro das Infraestruturas, nem o Ministro das Finanças, cuja mulher era a Chefe do Gabinete Jurídico da TAP. Entretanto, a amnésia de Pedro Nuno Santos terminou um dia destes, pois afinal ele reconheceu que tinha dado o aval à escandalosa indemnização.
Soube-se agora que a tutela fez uma promessa contratual de um bónus por objetivos à Presidente do Conselho de Administração da TAP, a francesa Christine Ourmières-Widener, de dois milhões de euros, o que, numa empresa pública falida, é um escândalo, é ofensivo e imoral, tanto mais que os objetivos serão atingidos à custa de despedimentos, cortes salariais e injeção de dinheiro dos contribuintes.
Também, segundo alguma imprensa, a TAP recusa divulgar o valor das indemnizações pagas a ex-administradores e diretores, que já terão ultrapassado as duas dezenas e que saíram com indemnizações milionárias, tudo depois da nacionalização.
Quanto a Medina, no referido caso e agora na investigação à Câmara Municipal de Lisboa, no tempo em que ele foi Presidente, em que terá contratado um boy partidário, que se suspeita, que era para angariação de fundos para o saco azul do PS, nunca sabe de nada. Parece que está submetido à lei da Omertà (código de honra das organizações mafiosas do sul de Itália), não sabe de nada, não viu nada e não ouviu nada. Como habitualmente se diz, “o pior cego é aquele que não quer ver”. Mas a verdade é que Fernando Medina quer queira, quer não está por um fio. Isto tudo demonstra uma enorme falta de vergonha de todos os protagonistas envolvidos e é revelador que o nosso país está “entregue à bicharada.”
Sem necessidade de estar a referir ou a enumerar cada um dos casos que se sucederam e continuam a suceder, destacaria também o caso bizarro da Secretária de Estado da Agricultura que durou apenas cerca de 24 horas.
 Sobre os casos e escândalos que têm ocorrido, com destaque para o da TAP, Sérgio Sousa Pinto, deputado do PS (um dos poucos que pensa pela sua cabeça), questionou como é que se restabelece a confiança dos portugueses nas Instituições do Estado? E perguntou também, em direto na CNN, se “somos ou não uma República das Bananas?”
Foi na sequência desta decomposição do Governo, que resultou em várias saídas extemporâneas, que Costa tirou da cartola o célebre questionário das 36 perguntas, com o “alegado apoio de Marcelo”. No entanto, não se aplica aos atuais membros do Governo, mas apenas para os que hão-de entrar. Como já se viu, estas perguntas não resolvem o problema essencial e são uma devassa e uma humilhação para gente séria, honesta e prestigiada. O que Costa pretendeu foi desresponsabilizar-se e lavar as mãos como Pilatos. Ainda não está claro o que é que verdadeiramente se pretende com estas 36 perguntas, que crivo será feito após as respostas ao questionário? O problema é que não se consegue atrair para a causa pública gente de bem, séria e com provas dadas. Além disso, houve uma indiferença, designadamente, por parte do Primeiro-Ministro e alguns Ministros perante a informação já conhecida de algumas figuras que entraram para o Governo que revelaram desconhecimento da lei, falta de ética e de moral.
 Perante este cenário, já não se pode só dizer que, apesar de ter apenas dez meses, o Governo está desgastado. Diria mesmo que este Governo está ferido de morte (com diagnóstico de septicémia), ligado às máquinas com alto patrocínio do presidente Marcelo, pois foi ele que afirmou, após a última remodelação de Costa, que ou resulta ou não, na medida em que o que houve foi uma promoção de um Secretário de Estado e de uma Chefe de Gabinete a Ministros, recrutados no Largo do Rato. Temos um Governo a prazo, apesar de ter maioria absoluta.
O regime está a apodrecer e sem solução à vista. Tudo isto contribui para criar um ambiente deprimente e de desilusão no país onde a classe média está frustrada e a empobrecer cada vez mais.
A revolta dos professores contra a sua situação está a por em causa a escola pública. Apesar da mudança do Ministro da Saúde, como as políticas são idênticas para os velhos problemas, não há melhorias significativas. A situação económica vai-se degradando, apesar da visão descolada da realidade anunciada pelo Primeiro-Ministro que pensa que resolve os problemas dos portugueses mais carenciados, concedendo-lhes uma esmola esporádica que não dá para uma semana. A persistência da inflação e da subida das taxas de juro irão deixar, infelizmente, muitos portugueses com a “corda ao pescoço”. A inflação poderia ser substancialmente mitigada com a descida significativa ou mesmo abolição do IVA nos produtos essenciais, como fez o Governo Espanhol, mas sabemos que o Governo Socialista em Portugal tem uma fome insaciável de impostos, que não lhe permite adotar solução idêntica.  Os jovens estão sem perspetivas de futuro. Em Portugal, segundo estudos recentes, saem de casa dos pais aos trinta anos, só lhes restando uma saída acelerada do país, que, com este Governo, a partir de 2016 ultrapassou, de longe, os números do tempo de Passos Coelho. Para mal do país, vamos continuar nesta “pocilga” socialista de um capitalismo periférico atrasado e de mão estendida aos Fundos Europeus, em que para ter sucesso é preciso ter contactos políticos e ligações ao poder instalado, além de ter que pertencer à família socialista para entrar no elevador social.
Finalmente, apesar de todo este pântano e de eu considerar que Costa foi o pior Primeiro-Ministro para Portugal, a seguir a Sócrates, causa-me alguma angústia e revolta saber que a criatura que dá pelo nome de Pedro Nuno Santos (representante da ala mais esquerdista do PS) está, segundo dizem alguns socialistas e comentadores, na Pole Position para ser o sucessor de Costa como líder do PS e ser esta figurinha, um dia, candidato a Primeiro-Ministro: “Meu Deus!”. Ele que não deixou legado nenhum na TAP, para além da injeção de 3,2 mil milhões de euros, da nacionalização e agora, novamente, a privatização, quando antes era um crime de lesa-pátria. Também não fez nada para melhorar a ferrovia e na habitação, ainda pior. Em resumo: um autêntico desastre.
Todo este cenário é dramático e, lamentavelmente, com o Presidente Marcelo a ser o seguro de vida de Costa e do Governo, não vislumbro no futuro próximo um caminho de esperança para Portugal.

Luís Resendes *

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