O Mercado Público de Florianópolis é a vida, a alma da Ilha. Sempre foi assim desde a construção da primeira Praça do Mercado em 1851 e, depois, do atual edifício inaugurado a 5 de fevereiro de 1899, ampliado em 1931 e uma derradeira reforma em 2015. É o nosso endereço oficial, o lugar de todos, democrático, onde a cidade se encontra e se identifica. Por tudo que significa, o Mercado é um dos ícones da Ilha de Santa Catarina e patrimônio cultural da nossa gente. Espelha a multiculturalidade de seus frequentadores e dos comerciantes que negociam os seus produtos ou oferecem uma gastronomia regional muito rica. É também no Mercado Público que desfila os sentimentos de pertença dos moradores que, de forma consciente ou não, carregam no seu jeito de ser, de bem viver e que nesta tessitura da renda configura a identidade cultural da cidade – a cara de Florianópolis humorada e irreverente. É ali que é decretado o enterro da tristeza, entregue a chave da cidade para o Rei Momo e o desfile do “Berbigão do Boca” – tem início a grande festa de confraternização que marca a abertura do Carnaval da Ilha, como aconteceu nesta sexta-feira, 10 de fevereiro.
Alguém pode estar se perguntando a troco de quê a Lélia fala do aniversário do Mercado Público junto com o aniversário de 153 anos do “nosso” Diário dos Açores.
Ora,pois...aquela aventura iniciada por Tavares Resende mexeu com a vida insular colocando os açorianos a par do que acontecia para além da sua porta, envolvendo a cidade, o povo, a ilha e o seu cotidiano. “Um Diário”, com notícias frescas tal qual o balaio de peixes do Mercado a transbordar. Na difusão...da notícia, da reportagem, das informações, dos artigos e da sua própriae respeitada linha editorial.
Um jornal diário destacado por sua antiguidade e também por sua modernidade como importante veículo de comunicação da Região Autônoma dos Açores a fazer um jornalismo investigativo, comprometido com a verdade e por isso carregado de frontalidade. E aqui destaco a palavra sempre pronta, atenta, sábia e afiada de Osvaldo Cabral. Sem qualquer despiste, ele sabe atingir o assunto em pauta criticando e opinando de maneira justa. Lembro aqui o seu livro Os Açores e os Novos Média (2018), onde faz uma análise profunda dos caminhos trilhados pelos primeiros jornais açorianos até os Novos Média, o futuro que já chegou com as novas tecnologias, o livre acesso às plataformas digitais e o avanço da educação digital de forma universal e plural.
O Diário dos Açores é um jornal criativo, interventivo, atuante e presente nas Ilhas e nas comunidades açorianas. Em recente artigo comemorativo a magna data José Andrade, o competente Diretor Regional das Comunidades, assim se expressou: “ Do alto dos seus 153 anos de publicação ininterrupta, o Diário dos Açores é agora, porventura, o título açoriano mais comprometido com a nossa diáspora”. Sim, o Diário reflete a identidade mátria, neste ir e vir constante, na dinâmica fundamental do encurtar distâncias e de aproximar numa grande convergência de ideias.
Como o Mercado Públicoque com seu burburinho em constante movimento, ainda guarda muito do ontem. O passado está ali entre suas paredes amarelas desenhadas de memórias. O de hoje, flui gostosamente...fortalecendo a consciência coletiva.
Não tenham dúvidas que o Diário dos Açores é digno de uma maré cheia de afetos e merecidos aplausos e também ele, hoje, como importante meio de comunicação contemporâneo, a cada edição constrói pontes fortalecendo a consciência coletiva de açorianidade por todas as geografias.
Começa um novo ano para o Diário dos Açores.
Que ele tem o dinamismo pungente da bateria da minha Escola de Samba -a secular Protegidos da Princesa e a alegria do nosso Mercado Público, a casa do povo. Ambos, a enfrentarem as artimanhas do tempo, sem vergar jamais, independentes eamados.
Parabéns, Diário dos Açores, do século XXI, 153 anos de vida a ser Voz plural, desde a linda Ponta Delgada, na Ilha de São Miguel.
Viva!
Lélia Pereira Nunes *
*Vice Presidente do Conselho Municipal de Educação de Florianópolis