Carnaval em 3 Actos  (Acto I-Mandingas)
Diário dos Açores

Carnaval em 3 Actos (Acto I-Mandingas)

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No Sul da Macaronésia XXII

Divagação XXII(I)

Ariah!
Homens, mulheres e crianças mascarados de guerreiros, acompanhados por tresloucados rufos de tambor, desafiam as gentes dos lugares de Mindelo – Ariah!!
Partindo do centro de cada lugar, os Mandingas convocam habitantes a cada esquina, dilatando-se pelos largos, comprimindo-se nas ruelas.
Ariah, ariah, ariah!.

Coisinhas, curiosidades XXII(I)

Reza uma versão da História que, em 1940, um grupo de bailarinos do arquipélago dos Bijagós (Guiné Bissau), a caminho da Exposição do Mundo Português em Lisboa, deu um espectáculo numa praça de Mindelo, alimentando assim a curiosidade e criatividade dos seus habitantes. Provavelmente uma confusão habitual entre as etnias de Bijagós e de Mandingas fez o resto, e os dançarinos actuais pintados de pretos são erradamente - mas definitivamente - apelidados de Mandingas. Outra teoria fala de influências da cultura de outros povos Africanos nos cabo-verdianos desterrados ou forçadamente emigrados. Outra ainda fala de homens em São Vicente mascarados de diversas formas, os mascrinhas, dos quais se destacavam os mandingas, pintados de preto, com tangas de corda e empunhando longas lanças.
De acordo com a tradição actual, os Domingos de Mandinga, desfiles em vários lugares de Mindelo, começam cada ano no primeiro Domingo de Janeiro e terminam no enterro do Carnaval ou enterro dos Mandingas. A marcha fúnebre, que transporta um caixão até ao mar, acontece no Domingo após a 3ª feira de Carnaval.
O ingrediente base da tinta preta tem evoluído - fuligem das panelas, carvão (no tempo do dito!), pó de pilhas de carros (felizmente em desuso), areia e tinta em pó - por vezes misturado com óleo vegetal.
Quanto à origem ou significado do grito Ariah, ele é múltiplo, contraditório e energético: identifica a chegada do Mandinga; serve para incitar ao ritmo e movimento; expressa Sabura (alegria); é um chamamento à participação; é um grito de guerra; deriva de “arredá” (arreda) ou ainda, quem sabe, do francês “arrière”. Na verdade, se uma pessoa não se afasta, acaba misturada na multidão e, muito provavelmente, besuntada de tinta preta!

Abraço
Ana

por Ana Roque de Oliveira *
ana_roque_oliveira@yahoo.com

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