Diário dos Açores

Os ‘inspectores do cacimbo’

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Ficaram célebres os ‘inspectores do cacimbo’ no tempo das antigas colónias, sobretudo em Angola.
Eram pessoas que, sob a capa de uma função ou título importante, como eram os mandantes do governo central de Lisboa, visitavam amiúde as colónias, mas nada faziam nem deixavam fazer.
Por estes dias estamos a assistir ao regresso dessa gente, agora com outras vestes e com outro palavreado, mas com o mesmo desígnio.
Refiro-me às visitas amiúde de alguns ministros, que chegam recheados de oralidade, as promessas do costume... e depois não fazem nada!
António Costa é o primeiro-ministro de um governo desacreditado e o pior primeiro-ministro que alguma vez as Regiões Autónomas conheceram (a par de Cavaco Silva), provavelmente aquele que mais prometeu, juntamente com os seus acólitos de cá e de lá, e nunca cumpriu.
O desfile de ministros por estas ilhas é apenas uma forma de desestabilizar a política regional e um sinal de que, aquela forma arrogante como falou o da Administração Interna, vai perdurar até às próximas eleições regionais.
Um governo que não consegue tapar os buracos do tecto das instalações que tem à sua responsabilidade, desde tribunais a cartórios, que não consegue preencher os quadros tão necessitados de polícias, que cavou o maior buraco de bagacina da nossa história para atrasar a construção da nova cadeia, que não consegue melhorar e aperfeiçoar o subsídio de mobilidade que ele próprio apelidou de “absurdo e ruinoso”, que não consegue transferir os milhões que prometeu para a Universidade dos Açores, que não cumpre com a solidariedade nacional prometida para as obras do porto das Lajes das Flores, que faz discriminação com os empresários das Regiões Autónomas, não se pode esperar coisa diferente dessas visitas que nada trazem, a não ser mau feitio, política recalcada e favores partidários.
Já somos suficientemente adultos e autónomos para regressarmos ao tempo dos ‘inspectores do cacimbo’.
Alguém explique a estes ministros sem história que as Regiões Autónomas não são colónias.

Assistir aos plenários do nosso parlamento regional é um acto de paciente coragem.
Há Assembleias Municipais com conteúdo mais rico do que a mediocridade generalizada que se verifica na Assembleia Regional.
Esta semana os deputados perderam horas a fio para falar... do arroz e do esparguete!
A maioria dos deputados que ali está não vive nem sente a realidade dos seus eleitores.
Estão ali por razões do partido que os escolheram, para dizerem ‘amén’ aos respectivos líderes e contentar os aparelhos.
Longe vão os tempos dos grandes tribunos e senadores da política regional, agora transformada num campo de batalha sobre quem mais entende de lombo de vaca, de frango congelado e demais especulação nos preços das massas alimentícias.
É isto a política açoriana, a política do esparguete, que os cada vez menos eleitores vão engolindo à beira de se engasgar, só de saber que o cozinhado tem um custo anual acima dos 14 milhões de euros!

O governo da coligação está a perder a batalha da pobreza. Não vale a pena apontar a redução dos beneficiários do RSI, porque a pobreza não se mede (apenas) por aí. É óbvio que estamos pior no combate à pobreza e à toxicodependência, como muito bem sublinhou o Dr. Fernando Diogo no CESA.
A situação em que vivemos, consequência da aspiral inflacionista e do aumento das taxas de juro, veio agravar o já frágil rendimento das famílias e a dinâmica das empresas.
É nisto que o governo tem de se focar e não está a fazê-lo com rapidez e eficácia.
Anda a passo de caracol no apoio às famílias e empresas, que vão ficar pior com o aumento brutal do preço da energia, que se vai reflectir no consumidor final.
Não admira que o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento das Famílias, do INE, nos coloque entre os piores e com a maior desigualdade em todo o país. Os governos do PS não entenderam isso e afundaram-se de eleição em eleição. O governo da coligação vai pelo mesmo caminho.

Osvaldo Cabral *
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

 

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