Diário dos Açores

Diagnóstico

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Conselhos de médico

1 – Em medicina o diagnóstico é a consequência e a conclusão de um processo científico de análise de que o médico utiliza na avaliação de um doente. Tem de haver um diagnóstico correto para que o tratamento a propor tenha lógica e sucesso. Sem um diagnóstico de certeza qualquer tratamento é como um tiro de caçadeira no escuro, que até pode acertar, mas de certeza que foi apenas sorte.
2 – Para o médico chegar ao diagnóstico tem que observar uma série de procedimentos. Em primeiro lugar o doente tem que contar a sua história (história clínica). Quando começaram os sintomas, se o doente associa esse início com alguma “coisa”, como é que tem sido a evolução, fatores que agravam ou aliviam as queixas e se o doente tem ou não alívios com alguma medicação que já tenha feito. O médico vai orientando a consulta de forma que o doente “não se perca” com pormenores que podem não ter relevância nenhuma para o caso, mas convém deixar o doente dizer o que sente por palavras suas e não com termos médicos. Por exemplo o doente com uma dor lombar irradiada à face posterior da coxa, deverá descrever o tipo de dor (“queimadura, picada, agulhada, mordedura de cão, etc.”) e não dizer que “tem uma ciática”, e muito menos ainda que “tem uma hérnia discal”. Deve também ser perguntado se tem mais alguma doença conhecida (antecedentes pessoais) e que medicação regular faz e ainda se sabe que doenças tem a sua família mais direta (antecedentes familiares).
3 – Depois de registar as queixas e a sua evolução, os antecedentes pessoais e familiares o médico “parte” à procura de sinais que possam ajudar na elaboração do diagnóstico. Febre, tensão arterial, cor da pele, da língua e das esclerótidas, inchaço, rigidez articular, dificuldades na marcha, palpação dolorosas e testes específicos de cada doença devem ser devidamente observados pelo médico. Já escrevi neste Conselhos de médico que existem sinais que são patognomónicos de certas doenças. Na presença destes sinais o médico tem a certeza absoluta que se trata de determinada doença. Não são precisos exames complementares.
4 – Em caso de dúvida deverão ser pedidos exames complementares de diagnóstico. São assim chamados porque complementam o diagnóstico. O médico que pede os exames é que os deverá observar e então confirmar ou não a sua suspeita de diagnóstico. Um exame pode dizer que um doente tem uma patologia e isso não ser verdade, ou o doente ter essa patologia, mas as queixas que motivaram a consulta terem outra origem. Não esquecer também que os resultados dos exames podem dar falsos positivos (o doente tem positivo, mas não tem a doença) ou falsos negativos (o doente tem a doença, mas o exame “diz” que não tem). Com os testes no início da Covid-19 houve muitos falsos negativos e também falsos positivos. É preciso estar sempre atento.
5 – Com um diagnóstico de certeza o médico tem à sua disposição uma série de tratamentos químicos (farmacológicos), físicos (gelo, calor, hidroterapia, fisioterapia, radioterapia, etc.), mecânicos (imobilização gessada, talas, ligaduras, etc.), cirurgia, psicoterapia ou outros consoante o tipo de doença. Muitas vezes a associação de técnicas de terapêutica é que conduz ao sucesso.
6–Em medicina quem faz o diagnóstico é o médico. A sua preparação científica, o conhecimento da anatomia, da fisiologia e das outras ciências básicas médicas, associada à clínica é que leva ao pensamento médico lógico na busca de um diagnóstico correto. Nenhuma outra profissão na área da saúde tem esta capacidade.

Nota 1 – Um mecânico de automóveis não pode fazer uma reparação no motor se não souber qual é a avaria. O dono do carro também refere as “queixas”. Um bom mecânico só de ouvir o barulho que o motor faz pode fazer logo um diagnóstico correto. Um bom médico pode fazer um diagnóstico correto “só” de ver a forma como o doente anda!
Nota 2 – Um cirurgião cardiotorácico levou o seu carro a uma oficina porque o motor do seu carro “falhava” muitas vezes. O mecânico estava a acabar a reparação quando o médico chegou para ir levantar o carro. O mecânico disse ao Dr. que as duas profissões eram parecidas. Ele (mecânico) reparava o motor do carro e o médico reparava o coração. O médico disse que sim, que era parecido, mas tinha uma diferença muito grande. O mecânico reparava o carro com o motor parado e o médico tratava do coração do doente com este a trabalhar…!!! Espero que o seu motor (coração) não falhe.
Nota 3 – Os políticos gostam muito de fazer o diagnóstico da situação. Por vezes até referem que foi feito um diagnóstico “ao RX”, que significa que foi com precisão. O “problema” é que consoante a cor política o diagnóstico pode ser muito diferente e a “terapêutica” proposta ser até completamente oposta.
Nota 4 – Haja saúde, haja saúde, haja saúde.

António Raposo*

* Médico fisiatra e especialista em Medicina Desportiva

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