O cenário de imigração nos Açores, um ano após o início da guerra na Ucrânia
Diário dos Açores

O cenário de imigração nos Açores, um ano após o início da guerra na Ucrânia

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Em 2022, passaram pela AIPA 78 refugiados ucranianos

A invasão à Ucrânia pela Rússia despoletou uma guerra que causou uma das maiores crises de refugiados dos nossos tempos. Actualmente, o cenário de guerra, que deixou inúmeras pessoas desalojadas, sem a possibilidade de regresso a casa, ainda continua.
A Ucrânia foi invadida a 24 de Fevereiro de 2022 e, desde então, o mundo manifestou uma onda de solidariedade ao povo ucraniano. Vários países prestaram ajuda de diversas formas e abriram as suas fronteiras para os acolher. Os Açores não foram excepção e também abriram as suas portas.
Após um ano de guerra, sabe-se que os Açores acolheram cerca de duas centenas de refugiados ucranianos e várias associações contribuíram para a integração dos mesmos. Leoter Viegas, Vice-presidente da Direcção da Associação de Imigrantes dos Açores (AIPA), conversou com o Diário dos Açores sobre o cenário actual de imigrantes no arquipélago.
 
Pode fazer um balanço sobre o 1º ano da guerra na Ucrânia? Faça uma estimativa de quantos imigrantes ucranianos chegaram aos Açores, ao fim de um ano.
Como todos sabemos, a invasão da Ucrânia pela Rússia ocorreu a 24 de Fevereiro de 2022 e, infelizmente, um ano depois, ainda continuamos com a guerra que, além de provocar a fuga de mais de 7 milhões de cidadãos ucranianos que se refugiaram noutros países, provocou, também, o aumento de preço de matérias-primas, géneros alimentícios e energias, originando, desta forma, uma crise inflacionista com consequências dramáticas, principalmente para os países mais pobres do mundo.
Perante a crise de refugiados, vários países demonstraram solidariedade para com a Ucrânia e o povo ucraniano, disponibilizando-se para acolher refugiados ucranianos. Os Açores também participaram neste processo e, segundo as informações que dispomos, a Região acolheu cerca de duas centenas de cidadãos ucranianos que fugiram da guerra.

Também receberam imigrantes russos?
Certamente que sim. Além de cidadãos refugiados ucranianos, a Região recebeu alguns cidadãos russos e bielorussos também. Nos nossos Centros Locais de Apoio à Integração de Imigrantes (CLAIM), em Ponta Delgada e em Angra do Heroísmo, atendemos alguns cidadãos desses países, recém-chegados, que solicitaram apoios para o processo de regularização.
Mas, é necessário ressalvar duas coisas: em primeiro lugar, os cidadãos russos e bielorussos que foram atendidos nos CLAIM não tinham estatuto de cidadãos refugiados. Por outro lado, antes da guerra, já residiam nos Açores cidadãos ucranianos, russos, bielorussos e outros que aqui têm feito a sua vida normal enquanto cidadãos imigrantes.

Os imigrantes ucranianos que chegaram aos Açores encontram-se de momento a trabalhar? Tiveram dificuldades em arranjar emprego?
Durante o ano de 2022, passaram pela AIPA 78 cidadãos refugiados ucranianos, adultos e crianças, e alguns já não se encontram na Região. Todos esses cidadãos tiveram a Declaração de Protecção Temporária e os adultos, se quisessem, podiam integrar-se no mercado de trabalho, porque, automaticamente, tinham o número de Contribuinte, o número de Segurança Social e o número de Utente. Temos informações que alguns desses cidadãos conseguiram emprego, mas a maioria não. Dos contactos que tivemos com cidadãos refugiados ucranianos, acreditamos que não era o objectivo desses cidadãos trabalharem em Portugal, mas sim, regressar à Ucrânia logo que possível.

Como se adaptaram as crianças que chegaram ao arquipélago?
Como referimos anteriormente, dos cidadãos refugiados que recorreram aos nossos serviços, alguns são crianças e temos informações que estão integrados no sistema de ensino. Há situações em que alguns continuaram a ter acesso ao ensino do país de origem (Ucrânia) na modalidade de ensino à distância.  

Acha que alguns dos refugiados ucranianos têm intenção em permanecer na Região?
Acreditamos que a maioria dos cidadãos ucranianos pretendem regressar ao seu país logo que possível. A saída desses cidadãos não foi voluntária, mas sim, forçada. Tiveram de sair por causa da guerra, de forma inesperada, e muitas dessas pessoas deixaram os seus familiares, as suas casas, os seus empregos e os seus bens. Portanto, é natural que queiram regressar e, se possível, em segurança.

Ainda continuam a enviar ajuda para a Ucrânia?
O povo açoriano mostrou uma enorme solidariedade para com o povo ucraniano, através do envio de várias toneladas de materiais, equipamentos, roupas e alimentos para a Ucrânia. A AIPA, particularmente, não promoveu campanhas, mas participámos em várias campanhas promovidas por outras instituições e organizações. Essas instituições e organizações merecem votos de louvor.
Participámos sim, e continuamos a participar activamente, no acolhimento e integração dos cidadãos refugiados que vieram para os Açores. E este trabalho tem sido feito em estreita cooperação com o Governo dos Açores e as Câmaras municipais.

Os Açores vão receber mais imigrantes nos próximos tempos?
É público que Portugal, e em particular os Açores, têm falta de mão-de-obra. Diariamente, a AIPA tem recebido ofertas de emprego das empresas que manifestam interesse em contratar cidadãos. Assim sendo, e tendo informação que os Açores precisam de mão-de-obra, os cidadãos imigrantes mostram interesse em vir para os Açores.
Nos últimos 10 anos, o número de estrangeiros residentes nos Açores aumentou 32%, passando de 3.402 em 2011, para 4.480 em 2021 (últimos dados oficiais). Não temos qualquer dúvida que os dados de 2022 vão indicar um crescimento de mais de 10% em relação a 2021.
Os Açores precisam de pessoas e os imigrantes vêm contribuir com o seu trabalho para a criação da riqueza em Portugal e cá na Região. Dados de 2021 indicam que os imigrantes são contribuintes líquidos para o país, contribuindo com mais de 968 milhões de euros para as contas da Segurança Social, além da sua importância para contrabalançar o envelhecimento da população.

Recentemente, um sismo abalou a Turquia e a Síria, deixando milhares de pessoas em dificuldades. Pretendem ajudar o povo turco e sírio de alguma maneira?
Ainda não pensamos sobre qualquer campanha de apoio ao povo turco e sírio atingidos pelo sismo, mas estamos abertos a contribuir se houver alguma coisa nesse sentido.

por Nicole Bulhões *

jornal@diariodosacores.pt

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