Passei aqui a minha infância como aluno da Escola de Música de Rabo de Peixe. A biblioteca deste espaço recebeu tantas vezes os meus sonhos e a minha vontade de ler e escrever. Este teatro é, para muitos jovens, o seu principal acesso à cultura na nossa Vila. Um espaço que reúne associações, grupos musicais, teatrais, entre tantos outros. Um lugar que estimula a criatividade e abre um caminho alternativo àquele que, inúmeras vezes, erradamente, os estigmas de forasteiros nos apontam como único caminho. Aqui, a cultura é acessível a todos, sem que o lugar de nascença importe.
Tendo conhecimento que o Governo Regional tenciona vender o espaço em hasta pública, não podia deixar de manifestar-me, publicamente, contra esta decisão inaceitável.
Vender o cine teatro miramar é roubar os sonhos de tantas crianças de Rabo de Peixe que, como eu, encontraram (e continuam a encontrar) neste lugar uma forma de se manifestar culturalmente. Um atentado à cultura que EXISTE em Rabo de Peixe. Ignorar isto é, novamente, passar um atestado de imbecilidade a esta Vila ostracizada.
Não só é extremamente importante a manutenção deste espaço, como também é urgente uma maior aposta na sua dinamização.
O Cine Teatro Miramar, construído com verbas do fundo EFTA, com o claro objetivo de servir a população da nossa Vila, é nosso e não pode ser vendido. O acesso à cultura de diferentes gerações em Rabo de Peixe, que tem neste edifício a sua embaixada, não pode servir de pneu de socorro do Teatro Micaelense. A Câmara Municipal da Ribeira Grande deve assumir, com a maior celeridade, o controlo deste espaço e reunir as associações que aqui laboram, garantindo a sua continuidade e programando, anualmente, um cartaz cultural que possa aproximar, mais, a sociedade a este espaço.
Rabo de Peixe merece mais.
Rúben Pacheco Correia *