Diário dos Açores

Cine -Teatro Miramar - não vendam a Esperança!

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Há algumas semanas, através de conversa com pessoa amiga, tomei conhecimento de um dos trabalhos recentes do realizador açoriano Francisco Rosas, promovido pela produtora regional Palco de Ilusões, e intitulado Cine Esperança.
Trata-se de um documentário onde, com baixo orçamento, o cineasta conseguiu percorrer os caminhos da memória do audiovisual em São Miguel.
Apresenta-nos as várias fases cronológicas e os diferentes espaços que acolheram e deram luz à Sétima Arte naquela ilha, sem receio de nos revelar as suas deficiências e decisões menos ponderadas, mas, acima de tudo, destacando o fortíssimo papel social destas instituições. Para muitas e muitos micaelenses, foi nos cinemas, nos cine-teatros e noutras casas da Cultura que encontraram a esperança que lhes traçou o caminho para escaparem às escarpas de uma vida condicionada pela dureza de morar numa periferia no meio do oceano.
Recordei o propósito do Cine Esperança ao saber da intenção de venda do Cine-Teatro Miramar, em Rabo de Peixe, que se tornou pública através da comunicação social, por estes dias. Até porque esperar algum comentário formal da parte deste Governo Regional já se tornou quase numa fantasia que só parece possível às suas hostes de correligionários em negação.
Para quem não sabia, os dados avançados indicam que existe, por parte deste Governo Regional, a intenção de colocar à venda em hasta pública o Cine-Teatro Miramar, que é pertença da Região e parte integrante das responsabilidades de gestão da Direção Regional dos Assuntos Culturais, através de assuntos protocolados com o Teatro Micaelense.
Como não há comunicados oficiais nem gabinetes que saibam comunicar, podemos apenas extrapolar que este processo será executado no sentido de reduzir a despesa de Plano e Orçamento de uma direção regional que viu o seu orçamento efetivo passar de “8 para 80”, no espaço de menos de dois anos.
Podemos, também, mais uma vez, assumir que este Governo Regional não se preocupa com o valor intangível deste equipamento cultural, cuja história e a importância social marcou, e marca, a Vila de Rabo de Peixe.
Foi no Miramar que, pelo menos, duas gerações de gente micaelense encontraram caminhos legitimados para fugir de uma realidade cruel, penalizada pelos estereótipos, agora recuperados pelo atual governo em funções com o apoio do chega e da IL. Foi no Miramar que as e os mais jovens encontraram um espaço recreativo, mas principalmente socioeducativo, de grande importância para aquela ilha. Quem o escreve é o próprio Governo, na página do Teatro Micaelense! Mas, tal como acontece com quase tudo, nesta solução governamental desgovernada, a coligação PSD, CDS, PPM parece desconhecer as suas próprias decisões e ignorar a importância das suas próprias instituições.
Na Cultura, este trajeto já deixou feridas graves no nosso futuro. Escusado será relembrar o episódio a que assistimos com a inspeção de segurança da Proteção Civil no Coliseu Micaelense, onde foram preciso horas perdidas, recursos realocados e pareceres atrás de pareceres preparados e disseminados pelos vários gabinetes envolvidos...
Com a possível venda do Miramar, ficamos cada vez mais com a certeza de que a política cultural deste Governo Regional é feita para salvar a vontade de continuar no poder de alguns, para preparar sucessores, e para dar continuidade a estratégias que muito antecedem as atuais instâncias decisórias.
Aos que mandam, interessam mais os que podem pagar o “peso de ouro” para entrar no Coliseu do que as e os que precisam do Cine-Teatro Miramar para continuar a ter esperança.
Esperamos que, no dia 27 em Assembleia Geral, haja o bom senso de rejeitar esta venda. Rabo de Peixe, São Miguel e os Açores merecem mais e melhor.
Quem ainda não percebeu o papel determinante que a Cultura tem na inclusão social, não está apto a governar uma região pobre!

Alexandra Manes*

*Dirigente do BE/Açores

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