Diário dos Açores

A Saúde do nosso descontentamento

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Opinião

Começa a ser preocupante o que se está a passar no Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada. Há doentes a viver longos meses de espera angustiante por falta de resposta do serviço de Imagiologia. O exame mais requisitado é o TAC, essencial no diagnóstico de muitas doenças graves, principalmente doenças do foro oncológico. Os doentes suspeitos de doença oncológica aguardam cerca de um ano para fazerem o exame, determinante para confirmar, ou não, a doença. Para além de meses de ansiedade e angústia à espera, o diagnóstico tardio da doença oncológica pode pôr em causa o sucesso do tratamento e fazer a diferença entre viver ou morrer.
A principal causa da demora de atendimento dos doentes no serviço de Imagiologia do Hospital de Ponta Delgada prende-se com a sua baixa produtividade, fortemente penalizada pelo seu reduzido horário de funcionamento, vinculado apenas a um turno de trabalho das 8:30 às 15:30, de segunda-feira a sexta-feira. O resto do dia e aos sábados, domingos e feriados a Imagiologia só funciona para o serviço de urgência, recorrendo para a pessoal de prevenção. Este é o trabalho produzido por equipamentos que custaram milhões (dois aparelhos TAC, ecógrafos e da ressonância magnética) e que não estão a ser rentabilizados, para mal da nossa saúde. 
Mas se no Serviço de Imagiologia há equipamentos que não são rentabilizados por falta de médicos especialistas, no Serviço de Nefrologia do HDES vive-se a angústia de ter de rejeitar doentes que precisam de fazer hemodiálise pois já há muito tempo que funciona com a capacidade esgotada. O alerta foi lançado em Março de 2021 pela Administração do Hospital. 
O assunto mereceu destaque esta semana no Telejornal de terça-feira da RTP-Açores que abriu com uma reportagem emitiu entrevistando um turista do Continente de férias em São Miguel. Doente dependente de hemodiálise foi recusado pelo Hospital de Ponta Delgada e encaminhado para o Hospital de Angra, por sua conta. O entrevistado admitiu nunca ter imaginado ter de sair da maior ilha para poder ter acesso ao serviço de hemodiálise, do qual não podia prescindir. Episódios como este irão repetir-se com outros turistas e são vexatórios para a ilha de São Miguel. 
Surpreendentes, foram as declarações do Director Regional da Saúde, quando questionado no mesmo telejornal sobre a capacidade esgotada do Serviço de Hemodiálise do Hospital de Ponta Delgada. O Director Regional informou que o Governo Regional já tinha decidido uma estratégia, que é convencionar o serviço de hemodiálise a entidades privadas interessadas. Ou, seja, o Governo Regional não está disponível para investir na Hemodiálise do Hospital de Ponta Delgada e apresenta uma solução a médio prazo, que não vai resolver o problema da falta de capacidade do Hospital de ponta Delgada, para receber novos doentes nos próximos anos. Até lá é melhor informar os turistas que necessitem de hemodiálise que não venham para São Miguel. E pode acontecer que surjam novos doentes de São Miguel que tenham de ir viver para a Terceira para fazer hemodiálise. Ao que havíamos de chegar!
Mais surpreendente, ainda, é a recusa deste Governo Regional em investir no Hospital de Ponta Delgada quando, através do PRR, não falta dinheiro para investir na Saúde. Num determinado Hospital já foram investidos mais de cinco milhões de euros em equipamentos de última geração ao abrigo do PRR. E no HDES? É altura de apresentar contas. 
Tudo isto só acontece porque a ilha de São Miguel é a única ilha que não tem deputados, num parlamento onde até já foi apresentado um requerimento por falta de um parafuso numa cadeira de dentista. 

Teresa Nóbrega *

*Jornalista
A autora escreve de acordo com a anterior ortografia

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