Diário dos Açores

Detestar o “pecador-profissional” versus amparar o “pecador-amador

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1 ... sair da Ilha e’ a pior maneira de ficar nela (Daniel de Sa’)       
.../... na modesta qualidade de imigrante, continuo aprendiz do alfabeto da distância.
Há mais de quatro décadas (Outubro,1980) optei pela não repetição do modesto percurso parlamentar, iniciado em Junho de 1976. Naquela época, procurei serenar as mais urgentes convicções políticas (mesmo aquelas consideradas mais afectas às inexperientes ambições de cariz ideológico) aspergindo por sobre elas o modesto orvalho poético:  
              ... agonia cósmica da ilusão do seguro   
              junto ao degrau da inesperada vertigem
              onde o presente é mero pingo do futuro
              na luz gelada da distância da Origem...  
Entretanto, vamos digerindo o princípio anteriano segundo o qual a humanidade é mais ignorante do que má. A propósito, não raro sou apanhado boquiaberto perante a tenacidade da natureza humana, cuja sobrevivência sob o pálio da ditadura biológica (genética?) é deveras aliciante. Apesar dos seres humanos procurarem proteção no ninho original da inocência, muitos apresentam-se como crudelíssimos gestores da opressão ideológica sobre os seus conterrâneos. Haja paciência!  Como estamos em época pré-quaresmal, apetece destapar a seguinte questão: como entender o paradoxo de considerar o ser humano (gênero imperfeito, dotado de notória fragilidade) a ‘obra-prima’ do Criador? Nada de sustos: creio que a conflitualidade humana deriva de um vírus inevitável gerado pelo frenesim entre o pluralismo dos meios e a unicidade dos propósitos.  
Afinal, apesar da dolorosa suspeita do “ser humano” ser irmão-gêmeo da ‘imperfeição’, há sempre a ilusão da “paz” oriunda do gracioso lugarejo para nós reservado no paraíso. Enfim, Haja Esperanca!
É comum dizer-se que o fumo denuncia a existência do fogo: assim dizem os mordomos catedráticos que monopolizam vastos conhecimentos adquiridos, com o apoio e licença do patrão! Todavia, o humilde privilégio do aprendiz é de natureza eviterna: àvante! Estou a falar comigo. Caminha em frente: aprende, aprende  para mereceres morrer aprendendo...
Pessoalmente, ainda não parei de aprender o alfabeto da história norte-americana: ficou-me colada à memória, esta lasca do famoso bilhete de Martin Luther King Jr. (escrito há 60 anos, na prisão de Birmingham): “Freedom must be demanded by the oppressed”. Virando a página, diria que o conflito social vigente na diáspora açoriana não poderá ser anestesiado enquanto persistir a ditadura da infalibilidade dos poderosos. Como sói dizer-se, a melhor maneira de prevenir falhas humanas é entender as suas causas originais...
Para quem continua vivo (nesta complicada alvorada do século XXI) a mais angustiante ameaça é a suspeita de que existimos sob os auspícios duma ditadura genética e/ou biológica. Pior ainda: até mais ver, continuamos colonizados pelo neo-tribalismo financeiro que adora ‘coisificar’ a natureza humana.         
2 -  Afinemos a nossa voz pelo eco histórico de Mahatma Gandhi:
“let’s make injustice visible”
No quotidiano sócio-político-cultural açoriano, a interrogação acontece: aonde encontrar o ‘rés-do-chão’ para reavivar o debate comunitário? Pelos vistos, cada qual vai falando com o eco da própria voz.
Haverá motivos “açor-patriotas” para manter obediência ao curioso pensamento:  Acaso são as condecorações que geram a credibilidade ao genuíno heroísmo? Foi a Trindade quem inventou o Espírito Santo?  Morrer antes da morte, nunca! Quando ela chegar eu já não estou...  
          Haja sensatez! Afinal, a crise actual esperguiça-se sob o pálio da divina autonomia, ou gargalha-se na democrática plateia da divina comédia da Espera? Desde 1999, olhando o Atlântico de costas voltadas ao Pacífico, confesso desconhecer a ladaínha dos subsídios. Depois do conhecido folclore académico da diarreia verbal marxista (décadas1960-80), os tecnocratas pós-abrilistas desembarcaram no carnaval da mentalidade inspirada no ‘pop-spirituality’ –  fingindo detestar o materialismo, mas sempre a cooperar na euforia drogada de exaltar os seus campeões...
Vamos procurar ser pragmáticos gestores da dúvida. Se optarmos pela paz amedrontada, os problemas serão adiados, mas não resolvidos. Temos de abraçar a humildade de aprender o mais pragmático processo de substituir a confrontação sistemática pela cooperação selectiva. Estamos chegados à hora de dizer BASTA: sim, dizer basta ao desfile dos ‘putinistas-de-serviço’ que se rebolam por aí a ecoar as sapateias financeiras cantaroladas pelos mordomos da ‘paz-reumática...”  temerosa do balho-furado da revolução cultural adiada sine die...

João Luís de Medeiros*

* Excerto do poema do autor / O cronista não aderiu ao recente acordo ortográfico

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