Diário dos Açores

Os cabos dos Açores

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Os cabos submarinos modernos nos Açores não tiveram nascimento nem vida fácil que acompanhei primeiro do lado dos CTT/ PT e depois no ICP e Anacom.
Os Governos Regionais apesar de terem entrado com milhões de euros de fundos não acautelaram nem a propriedade parcial ou reserva de capital ou direitos na gestão dos cabos e as contrapartidas que pediram no Protocolo de Setembro de 1996 eram quase todas coisas relativamente insignificantes que seriam resolvidas por questões até de concorrência ou necessidade própria (tarifação interilhas, o SMT GSM, aumento dos Pop.s da internet).
É verdade que calhou no pior momento da mudança de Governo do PSD para o PS na Região e o Governo novo do PS ainda tentou alguns pontos como instalação de redes do próprio Governo, da Proteção Civil e Universidade bem como acesso ao cabo para transporte dos canais de TV dos operadores, ou uma reserva de 1GB/s onde esses e outros serviços, como a futura instalação de empresas que dependeriam de uso intensivo de dados, poderiam ser acomodados.
Do lado do ICP ainda tentei dar alguma ajuda mas os ventos não eram muito favoráveis e a privatização maioritária da PT não ajudou antes pelo contrário.
Aliás o que vinha a seguir viu-se num almoço com o Presidente da PT, o Secretário da área no Governo Regional e um Administrador do ICP bem como outros menos graduados como eu próprio.
Só se falava nas novas autoestradas da informação e como o ambiente era favorável foram surgindo perguntas até minhas de quais iriam ser as portagens ás quais o Dr. Murteira Nabo se esquivou habilmente.
Quando saímos só ouvi “ não estava a pensar que eles iam esmifrar vocês “.
E foi isso que aconteceu durante anos eu e o meu colega da Madeira fomos chamando a atenção para os preços dos circuitos que eram até 8 vezes superiores aos de outros semelhantes de comparações internacionais.
Para encurtar conclusões ficamos vinte anos ou mais com menos serviços, menos concorrência e menos operadores.
Poucos anos antes ainda na PT tinha ajudado a montar os últimos feixes hertzianos que á velocidade enorme de 140 MB/s transportavam todas as comunicações dos Açores (hoje há quem tenha essa quantidade de bits em casa) julguei que iam ter vida breve mas a realidade é que os últimos só acabaram há poucos anos com o fim da discriminação dos habitantes das Flores e Corvo que foram açorianos de segunda nas comunicações muitos anos, fiz questão de ser das últimas coisas que fiz na Anacom  ver pessoalmente essa chegada tardia dos cabos àquelas ilhas .
Agora só se fala nos novos cabos dos Açores (brotaram engenheiros de todo o lado nas CCI, nos turismos , nos partidos, nos Conselhos disto e daquilo) os antigos acabam em 2024 mas depois já é em 2028 e quem sabe se fossem nossos ainda se aguentavam mais uns anos.
Os novos são da IP qualquer coisa, coisa segura e á prova de Governos corruptos (não sou eu que o digo são os Tribunais todos os dias nos jornais mesmo se eles não vão para a prisão) a PT também era pública e não tinha perigo nenhum e acabaram outros a mandar nela emborarealmente tenha de reconhecer que a Portugal Telecom Francesa até acabou por sair melhor que esperava.
Não vejo ninguém preocupado com a existência ou não de garantias de que a empresa que vai deter os cabos não pode ser privatizada, liberalizada, concessionada ou á prova de greves e do incessante movimento de criação de tachos, institutos, organizações de acolhimento de amigos e correligionários que caracteriza o nosso Portugal e os nossos Açores.
Claro que parece que o dinheiro é deles da República e digo parece porque já vimos nestes muitos anos de Autonomia que umas vezes dão com uma mão e tiram com a outra pelas costas.
Para finalizar e não vos entediar ainda mais a realidade é que um cabo quanto mais curto, melhor encaminhado e mais direto aos criadores de maior tráfego, melhor, mais barato e mais seguro é,mas até é possível que se passem muitos anos com a configuração terceirense ( que aposto que sei as verdadeiras razões dela e não são de cá) sem grandes percalços, para isso é que há mais do que um encaminhamento e se os cabos não estiverem saturados até pode passar despercebido mesmo um evento de corte total num deles.
Se não for esse o caso e os cabos estiverem sobrecarregados é óbvio que o gerador de mais tráfego será o mais prejudicado em qualidade ou até serviço neste caso S. Miguel.
Finalmente a verdade é que apesar de alguns ou muitos milhões de euros dos Açorianos que lá caíram os cabos nunca foram dos Açores

João Paim Vieira *

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