Diário dos Açores

Uma questão pungente: a imigração clandestina na Europa

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Opinião

Agora que se aproxima já a Primavera e as condições no mar vão melhorando, volta a surgir a onda de imigrantes clandestinos, provenientes de países pobres da África e da Ásia, navegando em condições muito perigosas em direcção às costas europeias. Nos Estados Unidos o mesmo fenómeno se verifica, mas a origem dos imigrantes é o Continente Americano e a aproximação às fronteiras é feita de autocarro ou mesmo a pé.
Os países mais desenvolvidos do Hemisfério Norte estão pois confrontados com um problema seriíssimo, pela sua dimensão humana, antes de mais nada, e até agora não se encontrou solução satisfatória para ele.
É certo que a baixa da natalidade, o envelhecimento e a subida das condições de vida e de cultura das populações desses países impõe o recurso a gente vinda de fora. Mas o que se desejaria era apenas mão de obra, para fazer afinal aquilo que os nossos já não aceitam fazer... Ora, as leis vigentes e os próprios conceitos humanistas largamente partilhados, apontam para a reunião familiar e por isso atrás dos trabalhadores são acolhidas as suas famílias, mulheres, crianças e idosos, todos a incluir nos mecanismos de apoio e protecção  próprios do Estado do Bem Estar, isto é Educação, Saúde e Segurança Social.
As vagas de imigrantes clandestinos que nos defrontam são promovidas e transportadas por traficantes de pessoas humanas, que não merecem qualquer compaixão. Mas as próprias pessoas em causa, sim! E é isso que torna o problema de resolução muito difícil.
Todos estaremos de acordo em acolher bem quem nos procura, por vezes fugindo a guerras e perseguições de vário tipo. E por isso as notícias sobre naufrágios e mortes, sobretudo de crianças inocentes, tanto nos perturbam. Também nos indigna o comportamento de autoridades nacionais e europeias que na prática erguem muros e blindam o acesso ao território europeu, como se de uma fortaleza se tratasse. São deveras censuráveis alguns comportamentos da Agência Europeia Frontex, que ao se diz reboca para países sem tradição de respeito pelos clandestinos os barcos que encontra carregados deles, para     que não cheguem à Europa. 
O Governo do Reino Unido tem sido muito criticado por estar detendo preventivamente quem chega ás suas costas sem os documentos devidos e enviando tais pessoas para o Uganda, em pleno coração da África, enquanto decorre a apreciação do respectivo pedido de entrada, sem qualquer urgência, presume-se... Mas não são afinal muito diferentes os procedimentos correntes noutros países, incluindo os Estados Membros da União Europeia.
Diz-se que há acampamentos de imigrantes clandestinos espalhados pelo centro das próprias cidades capitais, abrigando do frio e da chuva pessoas que se candidatam a obter os papéis necessários e que são atendidas nos serviços competentes com burocrática lentidão. Ou seja, a situação verificada em tempos em algumas ilhas gregas, onde surgiram de repente autênticos campos de concentração de infelizes em busca de melhores condições de vida, está a ser replicada noutros locais e já começa a ser vista com gélida indiferença.
Mas para chegar aí é preciso enfrentar viagens longas, perigosas e caras, muitas das quais acabam em naufrágios e na morte dos clandestinos. Há estimativas fiáveis de mais de 25 mil desaparecidos nas águas do Mar Mediterrâneo, assim transformado em verdadeiro cemitério de pessoas desesperadas. Esta horrível carnificina, iniciada há décadas na imediação das Ilhas Canárias, onde começou todo o drama da imigração clandestina para a Europa, está chegando também às costas portuguesas do Algarve, e ainda ao Canal da Mancha, uma vez esgotadas as vias de travessia através do túnel que liga as duas margens, agarrados os imigrantes ao comboio ou às trelas dos camiões porta-contentores.
Entretanto, não se consegue definir uma política europeia de imigração. E bem necessária é ela! Está a instalar-se uma certa mentalidade de cada um por si e salve-se quem puder... Mas isto é o oposto do espírito de entendimento e de solidariedade que constitui a marca de água do projecto de unidade europeia!
Manter abertas as portas, sem qualquer limitação, não se afigura possível, sem se agravarem as tensões já detectáveis em alguns lugares. Por outro lado, a indiferença perante os riscos óbvios de um multiculturalismo acéfalo também não aporta elementos positivos para a solução do problema. Exigir o conhecimento da língua, ou pelo menos a sua aprendizagem para a legalização dos trabalhadores já por cá instalados levanta dificuldades práticas de diversa ordem, inclusivamente a organização dos competentes cursos.
A Pandemia e a Guerra na Ucrânia têm concentrado as atenções da opinião pública europeia nos últimos tempos, ao que agora acresce a inflação galopante e as dificuldades de manutenção do nível de vida de muitas famílias. No entanto o problema da imigração clandestina assume importância cada vez maior e não pode passar sem uma abordagem cautelosa e eficaz. 

João Bosco Mota Amaral*
* (Por convicção pessoal, o Autor não respeita o assim chamado 
Acordo Ortográfico)     

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