“Temos que começar a discutir que tipo  de unidades de alojamento devemos aprovar no futuro”
Diário dos Açores

“Temos que começar a discutir que tipo de unidades de alojamento devemos aprovar no futuro”

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Gilberto Vieira, Presidente da Associação de Turismo Rural

O stand das Casas Açorianas na BTL teve enorme procura, pelo que foi dado observar por muita gente. Que balanço é que faz?
A Bolsa de Turismo de Lisboa é a grande feira de turismo a nível nacional, por lá passam milhares de pessoas nos cinco dias do evento, entre profissionais do turismo e público que vai conhecer as novidades dos destinos e comprar de forma antecipada as suas férias.
Por isso, é muito importante que a nossa Associação marque presença na BTL, como aconteceu mais uma vez este ano inserida no standdos Açores, onde facilmente somos encontrados por quem já nos procura, mas também por muitos que lá vão para fazerem contactos ou simplesmente à procura de algo de novo.
É de salientar que o stand dos Açores se situou na entrada do pavilhão 1, um lugar privilegiado no espaço de exposição, possibilitando que quer nos dias para profissionais de turismo, quer nos dias em que a feira abriu ao público, o espaço recebesse milhares de pessoas interessadas em saberem mais sobre o produto que temos para oferecer.
O mercado nacional é fundamental para o nosso turismo, e tem um peso muito determinante no sucesso ou insucesso de um ano turístico, em especial no caso dos Açores.
Neste sentido, tudo o que se puder fazer para promover a região no Continente deve ser feito e contará sempre com a presença e o apoio das Casas Açorianas.
A feira correu dentro daquilo que tínhamos perspetivado, com uma boa afluência de público interessado em viajar e muitos contactos com os profissionais das viagens que ainda ultimavam contratação ou buscavam oportunidades. Por isso, posso considerar que a nossa presença teve um saldo muito positivo.

Perspectiva-se um ano para o turismo rural nos Açores? Já no primeiro mês deste ano o turismo em espaço rural teve um aumento considerável...
É ainda muito cedo para ser demasiado afirmativo sobre o ano turístico, para os Açores em geral e para as Casas Açorianas em particular. Mas as perspetivas são positivas.
Vivemos tempos de incerteza e não nos podemos esquecer que na Europa se vive uma guerra. Daí que, como é costume dizer-se,o que hoje parece ser uma verdade sobre termos um bom ano turístico, amanhã pode não o ser.
De qualquer forma nas reuniões que temos realizado com agentes de viagens o que nos dizem é que as vendas de viagens estão em crescendo, não se fazendo sentir os efeitos da inflação ou o aumento das taxas de juros, o que é um bom sinal.
Os Açores são um território descontinuado, pelo que o ano pode correr muito bem numas ilhas e não tão bem noutras, por isso os resultados não são forçosamente da mesma índole em todas as unidades de alojamento pertencentes à Associação de Turismo em Espaço Rural nas diferentes ilhas.
Pelas razões que adiantei, e por estarmos ainda muito no início do ano, é prematuro ser muito direto nessa resposta, mas com os elementos que já recolhemos posso adiantar que estou otimista e espero que no final deste ano tenhamos um número de dormidas e receitas superior a 2022.

Fala-se muito agora em turismo sustentável e de natureza. Como observa as novas tendências, comparando com os longos de anos de experiência que tem nesta área?
Os Açores são um território cheio de virtudes, mas ao mesmo tempo frágil, que “tem de ser tratado com pinças”, até para honrarmos a certificação de “Destino Turístico Sustentável” que a região obteve e é isso que sempre defendemos.
Não quero dizer com isso que os Açores tenham que parar no tempo, que a região tenha de parar o seu desenvolvimento.
O ambiente e a sustentabilidade têm que ser encarados por todos os açorianos como uma mais valia, mas não pode implicar que os locais não possam viver melhor, ter emprego condigno, educação ou bens e equipamentos que lhes tornem a vida mais agradável.
A região tem de procurar um equilíbrio nesta matéria, sem que a sustentabilidade deixe de estar na primeira linha das prioridades, e em muitos casos quem toma decisões tem de se optar, tem de se fazer escolhas.
Deixo um exemplo em relação às escolhas e opções pelo ambiente: nos últimos tempos, a propósito do rally dos Açores, gerou-se alguma polémica com várias vozes a defenderem mais verba para a realização do rally da sua ilha.
A questão que deixo é se os custos face aos dividendos que deixa um rally se justificam, tendo em conta a poluição que acarreta e o contributo negativo que pode dar ao nome de uma região que quer ser um exemplo em matéria de sustentabilidade ambiental.

Os Açores estão no bom caminho nesta área ou ainda tem muito a percorrer?
Estamos no bom caminho – as distinções que a região tem recebido dão boa nota disso – mas isso não significa que não tenhamos ainda trabalho a fazer, porque temos.
A riqueza e diversidade natural dos Açores são um dos nossos grandes atractivos turísticos pelo que a preservação e defesa da nossa natureza, dos nossos recursos, continuará sempre a ser primordial.

  Quais as maiores dificuldades que perspetiva no futuro turístico? Falta de capacidade de resposta? Falta de mão de obra? Falta de formação? Massificação?
Num contexto alargado, os Açores têm de se consciencializar que a concorrência entre destinos na captação de turistas é cada vez maior em termos mundiais, são cada vez mais os países que vêem no turismo um forte contributo para a sua economia e um setor económico com grande capacidade de empregabilidade.
No caso dos Açores, o crescimento do turismo tem sido equilibrado, com um ou outro período em que a oferta ultrapassa a procura mas nos anos consequentes a esse pico da oferta voltamos a atingir um equilíbrio.
No entanto, temos que começar a discutir que tipo de unidades de alojamento devemos aprovar no futuro.
 Na minha perspetiva devemos procurar que as novas unidades, em especial os hotéis, sejam cada vez mais qualificados por forma a com eles podermos captar um turista que deixe mais valor na região.
Com um turista mais exigente e com melhores unidades de alojamento, teremos de ter trabalhadores da hotelaria mais qualificados, por isso é muito importante a formação e mesmo o apoio para que se requalifiquem funcionários que estão na hotelaria mas não tiveram formação profissional na área.
Quanto à massificação do turismo nos Açores, sejamos realistas: esse é um problema que não se coloca nos Açores.
É verdade que têm surgido alguns comentários injuriosos à actividade económica do turismo, nomeadamente durante alguns picos de procura ou quando chega um navio de cruzeiros de maior capacidade a São Miguel, em que milhares de turistas “invadem” a cidade por umas horas. Mas são apenas casos pontuais.
Se olharmos para os números de turistas que nos visitam em meses como Janeiro, Fevereiro, Outubro e Novembro entre outros, notamos que as taxas de ocupação nas unidades de alojamento são baixas, e que temos muito espaço para crescer nas chamadas épocas média e baixa do turismo.
Quero mesmo salientar que a sazonalidade turística com que os empresários do turismo açoriano se debatem é um problema grave, e o governo deveria criar vários programas específicos, e até apoios financeiramente para alguns mercados emissores que poderão enviar turistas nesses períodos.  

Finalmente, quanto a promoção, o que nos falta fazer?
A promoção turística de um destino é sempre uma obra inacabada, nunca é demais e deve ser planeada e organizada para dela se extraírem os maiores proveitos possíveis, quer em número de turistas quer, principalmente, ao nível das receitas que podem deixar no nosso território. Nós, nas Casas Açorianas, temos bem a noção que o dinheiro para investir não é infinito, antes pelo contrário, e é por isso que para a promoção turística cada cêntimo aplicado deverá ter um retorno que se avalia no número e na qualidade dos turistas que nos visitam.
Resolvida que parece estar a criação do organismo que vai dirigir a promoção turística dos Açores, oVisitAzores, com a participação o Governo que assume a sua responsabilidade em parceria com o setor privado, deveremos aguardar e acreditar que parte dos problemas recentes na nossa promoção poderão estar resolvidos.
Sempre defendi que o Governo e as empresas que dependem diretamente do Executivo como é o caso da SATA, nunca deveriam ter saído da extinta ATA.
Se tal não tivesse acontecido, por ventura não teríamos passado este período menos claro sobre os caminhos da nossa promoção turística.    

jornal@diariodosacores.pt

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