Os números da semana: O “Programa Novos Idosos” - Envelhecer em casa, nos Açores
O “Programa Novos Idosos” já está a decorrer em Ponta Delgada e na Praia da Vitória, integrando, nas suas casas, 94 idosos (além destes, mais 4 aguardam conclusão do processo de Estatuto do Maior Acompanhado e mais 2 instrução documental).
Com notório impacto na vida dos idosos, este inovador Programa açoriano permitiu também a criação de emprego qualificado, com a contratação de 7 técnicos para as “Equipas Técnicas Locais” de Ponta Delgada e Praia da Vitória e de 86 cuidadores domiciliários. Um caso de sucesso, para as famílias, os beneficiários, os técnicos e as IPSS parceiras.
Na 2ª fase do Programa Novos Idosos abriram mais 150 vagas – 50 por concelho na Lagoa, Vila Franca do Campo e Horta. Para estas 150 vagas houve 327 candidaturas: 102 na Lagoa, 162 em Vila Franca do Campo e 63 na Horta.
Decorre o recrutamento dos membros das Equipas Técnicas Locais na Lagoa, Vila Franca do Campo e Horta, 4 elementos para cada Instituição de Enquadramento, num total de mais 12 oportunidades de trabalho para quadros técnicos especializados de Serviço Social, Psicologia, Enfermagem e Fisioterapia.
Quando em 2024 este Programa for um projeto com carácter regional, albergando todas as ilhas dos Açores, a Região estará num patamar de excelência na forma como lida com a população idosa, um exemplo civilizacional, num mundo frio onde o idoso é tantas vezes esquecido e ignorado.
Os dados científicos da semana: cada vez mais idosos
Num artigo intitulado “Falta de gente é deveras preocupante”, de Manuel Rodrigues, lido esta semana, pudemos constatar que as projeções da população residente, para os próximos anos, segundo o Instituto Nacional de Estatística, no que toca aos Açores, mostram que os atuais 242 mil habitantes passarão para 170 mil, até 2080. Daqui a 50 anos, a população açoriana:
- entre os 0 e os 14 anos, que atualmente se situa nos 38 mil, passará para cerca de metade (17 mil);
- a entre os 15 e os 64 anos, dos atuais 169 mil, passará para 83 mil;
- mas, a com mais de 65 anos, que atualmente é de cerca de 35 mil, passará para o dobro (70 mil).
Algumas ilhas perderão metade da sua população!!!
As alterações demográficas na população portuguesa, que se traduzem num envelhecimento populacional, coloca às instituições, às famílias e à comunidade novos desafios, designadamente pensar o envelhecimento ao longo da vida, numa perspectiva cada vez mais preventiva e promotora de saúde e de autonomia, visando uma maior qualidade de vida.
Devido ao envelhecimento progressivo da população, a sociedade civil e o Estado têm que se organizar e criar medidas para acolher o número crescente de população idosa e promover a sua qualidade de vida, fomentando um envelhecimento ativo e bem-sucedido.
As respostas às necessidades desta população são insuficientes, tendo em conta a conjuntura actual da nossa sociedade, nomeadamente ao nível do aumento de famílias disfuncionais, famílias monoparentais, famílias de dupla carreira profissional, famílias com dificuldades económicas. Este facto conduz à falta de uma rede de apoio familiar com capacidade para responder à autonomia e bem-estar do idoso, onde a solidão passa a ser uma realidade e onde a velhice é encarada como uma doença social, levando também ao aumento do número de idosos institucionalizados.
É também por diminuir o isolamento social dos idosos que vivem nos Açores que o Programa “Novos Idosos” é notável, e mereceria ser replicado em todo o país. É uma pena que a República portuguesa não copie a excelência do que é feito nos Açores, nesta matéria.
A homenagem da semana: a Dona Maria de Lourdes Laranjeira e a Solidariedade Social nos Açores
A Sr.ª D.ª Maria de Lourdes Laranjeira é uma simpática cidadã açoriana, cujo testemunho pude ver há dias, nesta hiperligação https://fb.watch/k6AApUR2Fq/
A Sr.ª D.ª Maria de Lourdes Laranjeira vive na sua casa, onde viveu sempre com o seu marido. Depois do falecimento deste, a solidão marcava a sua vida. O Programa “Novos Idosos” possibilitou à família a contratação de uma cuidadora já conhecida, para apoiar a idosa nas atividades presentes no “Plano Individual de Cuidados”: auxílio na higiene e conforto pessoal, incentivo à mobilidade, apoio ao tratamento de roupa, organização e higiene habitacional, realização de atividades de estimulação cognitiva, vigilância e acompanhamento, companhia e conversação e auxílio na supervisão da medicação. Para além disto, a cuidadora sugerida pela família é uma pessoa proativa que estimula bastante as capacidades físicas e cognitivas que a idosa ainda possui, através de caminhadas e fichas lúdicas fornecidas pela “Equipa Técnica Local”.
A Sr.ª D.ª Maria de Lourdes Laranjeira é agora uma pessoa alegre, satisfeita e agradecida pela presença da cuidadora, Délia Machado. A família estará decerto mais aliviada e grata por a saber acompanhada todos os dias.
Isto é de facto um exemplo fabuloso de um Programa que cria Humanidade.
Por tudo isto, é da mais elementar Justiça homenagear a Solidariedade Social nos Açores, pelo seu trabalho inexcedível, e pioneiro, na pessoa do seu titular, e mentor, o vice-presidente do Governo Regional, Dr Artur Lima.
Nota breve: hoje, 28 de Abril, comemora-se o Dia Mundial da Segurança e da Saúde no Trabalho. Num país, e numa região autónoma, em que grosseiramente o Estado não cumpre a Lei que impõe aos privados, mentes mesquinhas destroem o que está bem, porque tal é bem mais fácil do que construir, ou corrigir o que está mal. A Saúde no local de trabalho é algo que, se não está melhor, é por clara falta de vontade política. (Ponto). Hei-de voltar a este assunto.
Mário Freitas*
*Médico consultor (graduado) em Saúde Pública, com a competência médica de Gestão de Unidades de Saúde