Diário dos Açores

Reitor do Santuário da Esperança deve ser substituído

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Sou cristão e católico por formação e convicção, embora não participe com frequência em actos litúrgicos. Ausente dos Açores há mais de 30 anos, embora visite de vez em quando a ilha natal de São Miguel, sinto no culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres uma forte referência, acima de tudo religiosa, mas também histórica e cultural.
Dito isto, tenho vindo a verificar, como muitas mais pessoas, uma série de iniciativas e ações desencadeadas pelo reitor do Santuário de Nossa Senhora da Esperança, cónego Adriano Borges, que me deixam perplexo. Até mais do que isso: chocado, indignado e revoltado. Toda a gente sabe a que me refiro. Até elementos da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres já manifestaram publicamente discordância face a polémicas actuações do reitor Adriano Borges.
O culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres é sério demais, por todas e compreensíveis razões. É uma das expressões mais profundas e mais sentidas da açorianidade. Mexe com o íntimo de toda a gente, crentes e até não crentes. Não se compadece, de modo algum, com amadorismos e voluntarismos. Não, não pode ser!  Não queremos!
Com todo o respeito que merece e lhe é devido, penso que o cónego Adriano Borges deve ser mais humilde e reconhecer que a sua actuação está a causar muita celeuma, muita polémica e até sofrimento em crentes, que não aceitam o que tem sido feito no Santuário onde se venera a bela e secular imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, desde logo no adro. Ele poderá dizer que teve autorização da Direção Regional da Cultura e da Câmara Municipal de Ponta Delgada, mas a opinião mais válida é a dos crentes, que se têm manifestado contra descaracterizações impensadas e inadmissíveis.
É uma boa pessoa e um empenhado servidor da Igreja Católica, não é isso que está em causa, mas já se percebeu que o cónego Adriano Borges está no lugar errado. Perante o que já aconteceu, sou levado a concluir que ele não estava e não está preparado para gerir o Santuário da Esperança, tudo o que representa e tudo o que está associado, a começar pelo culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
O cónego Adriano Borges fez tudo o que soube e tudo o que pôde, naturalmente com boa intenção, o que é de realçar, mas com polémicas e sem consenso na nossa comunidade católica. Em face disso, deve ser substituído o mais rapidamente possível. A palavra cabe, obviamente, ao bispo da Diocese de Angra ou dos Açores, D. Armando Esteves Domingues.
Arrastar a situação que se verifica no Santuário de Nossa Senhora da Esperança é um erro, não faz qualquer sentido. O bispo dos Açores tem que perceber isso, possivelmente já compreendeu. Agora tem que actuar, sem hesitações nem delongas. Compreendo que o assunto é melindroso, mas tem que ser resolvido. O culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres tem que continuar a ser um importante factor de unidade religiosa e social: sem polémicas, desinteligências e precipitações. E, como tal, tem que ser defendido em tudo o que lhe diga respeito, quer em termos religiosos, quer em termos patrimoniais.  

Tomás Quental Mota Vieira *

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