Muita gente como eu está de acordo que não devem ser só os membros das religiões, confissões cristãs ou espiritualidades que devem pensar e dizer Deus nos nossos dias. Todos podemos e devemos falar de Deus sempre. E nestes dias de festa também.
O mundo para muitos está vazio de Deus, mas para outros está bem tocado pela Incarnação de Jesus Cristo que fez dela a sua transparência.
Todos devemos entrar no diálogo sobre Deus falando bem Dele. Como Igreja expressamos a nossa fé e convicção, corrigindo o que temos a corrigir na nossa comunicação.
A questão de Deus coloca hoje a do homem e vice-versa. Assim acontece também na devoção ao Santo Cristo como fala de Deus.
A devoção ao Santo Cristo fala de Deus. A devoção ao Santo Cristo explode todos os anos nas festas numa junção de religiosidade popular, piedade popular e fé. Falamos de Deus, expressando-nos e captando o seu rosto.
Devemos submeter o tocar e expressar a nossa devoção ao Santo Cristo às interrogações vitais que ela traz para dizer ou falar de Deus hoje.
Celebramos estas festas com grande expressão externa num mundo que no dia a dia é cada vez mais secularista e até mesmo pagão.
Esta fé que expressamos e em multidão é um “resto” em que se poderá tornar o religioso cristão hoje?
Esta maioria que fala de Deus e a Deus, será uma “minoria” no resto do ano tornando-se uma fala quase muda de Deus? Não teremos de visibilizar nos lugares públicos e normais da vida este falar e dizer quem é Deus?!
Deus para nós que acreditamos e aqui queremos falar Dele, afirmamos por gestos e palavras que Ele é o Senhor da nossa vida e das nossas ilhas. As realidades de vida da nossa cidade de Ponta Delgada, das outras cidades, vilas e aldeias dos Açores, demonstram o seu reinado evangélico. Apesar de tudo,e para além de tudo serão ainda muito do Deus de Jesus Cristo as nossas ilhas. São cristãs e expressam Deus as realidades de vida do nosso povo?
A Deus nunca ninguém o viu. Mas, todos gostaríamos de ver e tocar em Deus hoje. Como fazemos? A imagem do Santo Cristo, que no dizer de alguém é uma “página evangélica esculpida em madeira”, leva-nos à compreensão do amor imenso de Deus por nós ou ficamos só na sua beleza, comoção artística e religiosa?
Deus não castiga ninguém nem carrega as pessoas crentes ou não crentes para que sofrendo façam a apologia do sofrimento. Não fala bem de Deus na devoção ao «Ecce Homo» quem faz dela um pacote de sofrimentos físicos e espirituais. Amar sim, integrando o sofrimento na vida, mas não fazer da vida uma ladainha de sofrimentos.
Fala-se bem de Deus quando se procura a sua presença no fundo do ser humano ou quando se mobilizam os crentes e não crentes numa ação social meritória e concertada na luta contra a pobreza e no caminho árduo do desenvolvimento humano integral. A fé em Deus não envenena a vida, mas torna-a mais humana.
Finalmente procuramos, falamos bem Dele e encontrámo-Lo, quando à pergunta sempre atual, quem é Deus?; respondemos com o estudo da vida e projeto de Jesus Cristo, procurando Nele Ressuscitado o Crucificado e visibilizando a sua presença em comunidades que testemunhem a justiça, a caridade e a paz mesmo no nosso meio.
Boas Festas para todos!
Pe. José Constância *