Coração do povo açoriano dominou Toronto durante dois dias
Diário dos Açores

Coração do povo açoriano dominou Toronto durante dois dias

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70 anos da Imigração Portuguesa no Canadá

A 13 de maio de 1953, o navio “Saturnia” atracava no porto de Halifax, na Nova Escócia, com emigrantes portugueses a bordo, inaugurando a emigração oficial de Portugal para o Canadá.
Passados 70 anos, em boa hora, um Comitê decidiu homenagear e dar destaque aos chamados pioneiros, que outrora “abriram as portas a milhares e milhares de portugueses que aqui, no Canadá, ambicionavam sonhos de vida e sucesso pessoal e familiar”.
18 desses pioneiros são açorianos e um deles é do Pico – deixaremos essa história para outra reportagem.
Assim, durante sábado (13) e domingo (14) viveram-se momentos contagiantes e emotivos que começaram com a cerimónia do “Passeio da Fama para Luso-Canadianos”, um projecto liderado pelo empresário Manuel da Costa, reconhecendo quatro líderes comunitários: José Carlos Teixeira, professor catedrático da Universidade da Colúmbia Britânica; Jack Oliveira, líder do sindicato da construção LiUNA Local 183; Ema Dantas, empresária e alpinista; e a título póstumo, o antigo presidente do Centro Cultural Português de Mississauga, Tony de Sousa.
“Esta é uma forma de dizermos aos pioneiros muito obrigado pelo seu contributo em prol destas comunidades. Este reconhecimento é dedicado a todos os pioneiros que ajudaram a construir estas comunidades portuguesas de costa a costa”, afirmou o professor José Teixeira na altura em que lhe foi entregue o prémio de reconhecimento.
Por seu turno, o dirigente sindical, Jack Oliveira, caracterizou este como “sendo um dia muito especial para a comunidade portuguesa, daí que seja importante “desfrutar as oportunidades que os pioneiros deram a estas gerações”.
“Este reconhecimento veio também [com] uma mensagem muito especial, pois quando as pessoas trabalham todas juntas, no fim há sucesso, não só para uma pessoa, mas para todos”, realçou Jack Oliveira, dedicando o galardão a todos.
Ema Dantas, a alpinista que subiu às sete montanhas mais altas do mundo, alertando para questões da saúde mental, “muito notadas nos dias de hoje”, quer inspirar outros “a não desistirem dos seus sonhos” e a família de Tony Sousa, ex-presidente do Centro Cultural de Mississauga, mostrou-se orgulhosa pelo trabalho no voluntariado, desde 1970.
“Tony Sousa, o meu pai, sempre trabalhou em vários locais, fez parte do Centro Cultural Português de Mississauga, sempre muito orgulhoso da comunidade”, disse a filha.
Uma das presenças mais apreciadas e notadas neste momento importante foi a do Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, dizendo em plena Praça de Camões, na College Street, que “a comunidade portuguesa no Canadá é um exemplo contra o fervor ultra-nacionalista”.
“Isso de ter duas pátrias é uma coisa boa, não é uma coisa má. No momento em que um pouco por todo o mundo, há esta febre ultra-nacionalista das pessoas acharem que para serem patriotas têm que denegrir a pátria dos outros”, afirmou.
O deputado, eleito pelo círculo fora da Europa, clarifica que o exemplo português “é sempre um exemplo de quão errada é essa concepção”, porque as pessoas “podem estar em todo o mundo à vontade, nos países em que estejam, sem perderem nada da sua ligação à pátria portuguesa”.
“São cerca de meio milhão de pessoas portuguesas no país, que têm duas características essenciais. Uma integração perfeita na sociedade que os acolhe, o Canadá, uma contribuição notável, para a economia canadiana, também para a vida pública do Canadá. Por outro lado o profundo enraizamento em Portugal, uma ligação muito forte à sociedade portuguesa, são pessoas que muitas delas têm muitas pátrias”, sublinhou.
Ainda neste primeiro dia, e antes da recepção para convidados especiais e do concerto da artista que veio de Portugal, Mariza, em Vaughan, foi dado a conhecer o monumento “Anjo da Guarda”, da autoria do escultor Pedro Neves, junto à praça Camões.
A obra foca-se nos “70 anos de Canadá-Portugal”, sendo “composta por sete pedras de mármore diferentes”, adiantou o escultor.
Na altura, Manuel da Costa referiu que “para o futuro da nossa comunidade é uma lembrança que vai perdurar para sempre na nossa história. Eles há 70 anos foram os nossos anjos da guarda”.
De referir, ainda, que antes da subida ao palco da fadista, Joseph Mancinelli, Vice-Presidente internacional da Liuna, Ana Bailão, ex-autarca de Toronto, agora candidata à presidência da Câmara de Toronto e Ahmed Hussen, Ministro da Imigração, Refugiados e Cidadania do Governo do Canadá, discursaram na recepção à porta fechada, tendo os três se focado no poder de Portugal em solo canadiano, e no “quanto a comunidade portuguesa ajudou a construir o Canadá de hoje em dia”.
A esclarecer, entusiasticamente, que a Casa dos Açores do Ontário esteve presente e a doçaria açoriana, mais propriamente, as típicas malassadas, foram alvo de grandes apreciações durante a tarde. Para termos uma ideia, foram o primeiro doce a esgotar.
 No domingo (14), “Portugal: The Festa” marcou o programa das comemorações que decorreram em pleno coração de Toronto, sendo que foram, é justo afirmar, uma clara demonstração inequívoca da mobilização da comunidade luso-canadiana.
Nathan Philips Square foi o espaço escolhido para acolher uma verdadeira amostra da nossa cultura e tradição, onde os sabores lusos estiveram presentes, artistas portugueses com obras de arte, e a componente musical esteve a cargo da Banda Sagres, do bem conhecido Peter Serrado e de Ruby Anderson.
Pelo palco principal, passaram ainda Tony Gouveia com a sua banda e os artistas de renome internacional Bárbara Bandeira e Pedro Abrunhosa que encantaram os presentes.
De destacar ainda no campo musical a actuação de ranchos folclóricos da comunidade portuguesa, que nas palavras de Laurentino Esteves “são uma componente essencial da nossa identidade cultural”.
Merecendo ainda nota de reportagem o facto dos elementos da Banda Sagres, depois de 35 anos em que muitos dançaram ao som da sua música, abandonarem os palcos, e por isso, em honra aos primeiros portugueses a chegarem ao Canadá com o estatuto de imigrantes oficiais, a Banda Sagres apresentou-se ao público pela última vez.
E por nesse domingo ser Dia da Mãe, a organização preparou um tributo especial que esteve a cargo de Sofia Câmara.
Em palco pela primeira vez, dedicou os seus temas à mães presentes, referindo que “devemos correr atrás dos nossos sonhos, mas nunca esquecer que as mães são o nosso abrigo, a nossa maior garantia, a nossa casa e o nosso ninho”.
De referir ainda as intervenções políticas de António Leão Rocha, Embaixador de Portugal no Canadá; de Jennifer McKelvie, Presidente Interina da Câmara Municipal de Toronto; de Alejandra Bravo, Vereadora na Câmara de Toronto; de Julie Dzerowicz, deputada federal; e do luso-canadiano Charles Sousa, deputado federal que conseguiu “arrancar lágrimas da plateia”.
Pela praça central de Toronto passaram mais de cinco mil pessoas, e as apresentações das bandas musicais e dos acontecimentos programados estiveram a cargo de Francisco Pegado (jornalista da Rádio/TV Camões), de Rómulo Ávila (jornalista do Sol Português e do canal de televisão FPTV) e de Angie Câmara (membro do Comitê da organização).
Durante as comemorações, várias foram as vezes em que foi lembrada a construção de uma casa de cuidados continuados dirigida à população mais idosa da comunidade, o Lar Magalhães, que “precisa da ajuda de todos para ver a luz do dia”.
Vamos a mais 70 anos, para que os bombos do Minho ou a chamarrita açoriana nunca parem de ecoar no Canadá.

por Rómulo Ávila,
Correspondente em Toronto *

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