Diário dos Açores

Cavaco e a coligação nos Açores

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Os autarcas açorianos que estiveram no passado fim de semana no encontro nacional de autarcas, promovido pelo PSD, devem ter aplaudido efusivamente a parte do discurso em que Cavaco Silva sugere a Luís Montenegro para não fazer coligações pré-eleitorais.
É que este é o sentimento generalizado dos militantes sociais-democratas nos Açores, mas no que se refere à coligação de cá.
 “Na minha opinião, o PSD não deve cometer o erro de anunciar qualquer política de coligações tendo em vista as próximas eleições legislativas”, recomendou Cavaco perante a plateia que o aplaudiu de imediato.
É um conselho que serve, também, a José Manuel Bolieiro, que vai ouvindo reacções, no mesmo sentido, por parte de muita gente do PSD em várias ilhas.
A última reacção, em termos bastante arrasadores, foi há cerca de uma semana, numa Assembleia de Ilha do PSD, na Terceira, com a presença de Bolieiro, coisa que não acontecia já há algum tempo.
Entre a meia centena de militantes presentes, Bolieiro saiu de lá com as orelhas a arder, depois de ouvir fortes críticas de vários militantes, insatisfeitos com o rumo que o PSD está a tomar nos Açores - “cada vez mais capturado pelos seus parceiros de coligação”, alguém disse  - e, em especial, com o PSD na Terceira, em que acusam António Ventura de usar a sua liderança de ilha para favorecer amigos e familiares no governo.
Foi uma reunião bastante tensa, segundo as nossas fontes, em que Clélio Meneses e o histórico Joaquim Ponte assumiram os discursos mais críticos, com o primeiro a não esconder a sua amargura por, segundo disse, até haver no interior do PSD da Terceira quem celebrasse festivamente a sua demissão...
É conhecida a profunda divisão interna entre os sociais-democratas terceirenses, que levou Costa Neves a avançar para a Comissão Política de Ilha como forma de apaziguar as divisões entre as facções de António Ventura e Clélio Meneses, acabando por se demitir, certamente por ver tanta coisa que não gostou.
As feridas mantêm-se e se Bolieiro não meter mão no partido, na escolha de deputados por aquela ilha, a coligação vai ter um mau resultado, como tem sido costume nos últimos anos, em que o PSD não consegue qualquer vitória nas legislativas.
O descontentamento é de tal forma que o conhecido militante Paulo Ferraz da Rosa, que não pôde estar presente na reunião, enviou uma carta para ser lida, mas a mesa recusou o pedido.
A carta é uma denúncia arrasadora sobre a forma como António Ventura tem conduzido o partido naquela ilha e com críticas a Bolieiro por se ter desligado da actividade partidária na Terceira, levando à demissão de vários elementos dos órgãos do partido e do presidente da concelhia de Angra.
 “(...) Estavam em causa diversas questões, nomeadamente a forma de actuar do presidente da CPI, que se pautava por uma postura autoritária e muito pouco democrática com elementos da estrutura  do partido, nomeadamente na questão relacionada com a escolha dos candidatos a deputados pelo círculo da ilha, que levou aos pedidos de demissão já referidos e um consequente virar de costas ao partido”, lê-se na referida carta.
O descontentamento com a forma como o PSD lida com a coligação também é manifesto: “A impressão que este governo está a deixar é a de que é refém da “minoria CDS” e de meia dúzia de votos do PPM e do Chega e que Bolieiro não tem “mão” no governo”.
E há críticas mais duras, como o ter deixado cair “o melhor secretário regional, elogiado por todos”, o “continuar refém” dos outros parceiros e “nomeações após concursos e desistência em nome sei lá do quê; algo está a correr muito mal e, perdida esta oportunidade agora, já não sei se serão mais 20 anos de oposição ou 30 na escuridão”.
Este sentimento de algum abandono por parte das estruturas regionais do PSD é comum a outras ilhas, onde há muita gente descontente, sobretudo em S. Miguel, com a ausência de liderança em assuntos relativos à ilha e à falta de diálogo com instituições locais onde predomina gente do PSD.
A firmeza de Bolieiro em manter a estratégia de ir a eleições em coligação deixa muitos militantes desmotivados, que agora vêem, nas palavras de Cavaco, um exemplo de recomendação para o PSD regional.
Só que os amigos mais próximos de Bolieiro já fizeram saber aos mais críticos que não vale a pena apresentarem moções de cariz contrário em futuros Conselhos ou Congressos Regionais, porque Bolieiro não estará disponível para outra fórmula de estratégia eleitoral.
Faltam apenas 17 meses para as eleições regionais e vai ser interessante assistir ao comportamento da coligação daqui para a frente, sendo certo que Bolieiro está a querer demonstrar quem é o verdadeiro líder da coligação, aparecendo, ultimamente, em tudo o que é cerimónia pública nas várias ilhas.
O resultado das eleições na Madeira, este ano, em que o PSD renova a coligação com o CDS, também poderá ter alguma influência entre os mais críticos no PSD açoriano.
É esperar para ver.

Osvaldo Cabral *
osvaldo.cabral@diariodosacores.pt

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