Diário dos Açores

Cenários em Saúde A medicina e a saúde do futuro (I)

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Conselhos de médico

1 - Do 24º Congresso da Ordem dos Médicos saiu uma publicação intitulada Cenários em Saúde para 2040. Neste documento, que teve a participação de diversos especialistas de muitas áreas do conhecimento científico, são projetadas recomendações sobre o presente, mas em especial sobre como será o futuro da medicina e da saúde daqui a 17 anos (que é já ali ao virar da esquina).
2 – As novas tecnologias, a inteligência artificial, al alterações climáticas, as novas dinâmicas sociais, a demografia, as migrações, a instabilidade das relações internacionais (como se vê agora com a invasão da Ucrânia pela Rússia) e muitos outros aspetos irão condicionar a medicina e a saúde no futuro.
3 – Estes 17 anos que nos faltam para chegar a 2040 dão-nos algum tempo para pensar na reestruturação do Serviço Nacional de Saúde e no nosso Sistema Regional de Saúde nos Açores. A formação de um médico demora cerca de 10 a 12 anos (6 anos de curso e 4 a 6 de especialidade). Mas um médico após concluir a sua especialidade ainda demora alguns anos (5 a 10) a ter uma capacidade técnica e clínica para ser de alto nível.  A qualidade da formação é fundamental. É cada vez maior o grau de exigência na prestação dos cuidados de saúde. Hoje em dia não se aceitam erros, deficiências ou omissões dos profissionais de saúde. Muito menos se aceitam casos de negligência. É por isso que a formação e a qualidade em saúde (vide o meu último artigo no Diário dos Açores do mês de abril) são tão importantes. É por isso que é necessário projetar a medicina com toda esta antecedência, obviamente sem deixar passar os desafios imediatos que, diga-se de passagem, são muitos e complexos.
4 – Calcular o número de médicos de cada especialidade que o país irá necessitar é uma base para se projetar o futuro. Não se pode estar “sempre” a prometer médicos de família para todos e depois vir com a desculpa que … não há médicos para preencher todas as necessidades. O mesmo se aplica para os outros profissionais na área da saúde. “Isto” é como jogar xadrez, tem que se pensar com muitas jogadas de antecedência, caso contrário “levamos” um xeque-mate rapidamente.
5 – A falta de cobertura Nacional e Regional de médicos de família (e de outras especialidades), o excesso de afluência às urgências hospitalares agravado pelas “falsas urgência”, a má resposta nos cuidados continuados e na assistência ao idoso e ao doente crónico com multipatologias, deve ter em conta todo este processo evolutivo da nossa sociedade.
6 – Em vez de se discutir até à exaustão questões que não nos levam a lado nenhum (ministro Galamba, roubo de computador, agressões e casas de banho, CEO da TAP, demissões e indeminizações, dissolução ou não da Assembleia, comissões de inquérito para a direita e para a esquerda, opiniões e mais opiniões de comentadores e até do Presidente da República e ainda pior de antigos Presidentes, etc., etc., etc. …!!!) o que nos deveria ocupar e preocupar deveria ser projetar o futuro do nosso país e da nossa região para diminuir a nossa pobreza e o nosso atraso em relação à média europeia em muitos aspetos da nossa sociedade. Isso sim. Isso é que valeria a pena. Ao nosso povo pobre e sem acesso a cuidados de saúde de alta qualidade, estas questões atrás referidas não lhes interessam nada, refiro não lhes interessa mesmo nada.
7 – É preciso refletir e ter consciência dos possíveis cenários no futuro. Isso irá permitir-nos ter capacidade para projetar o futuro e influenciar as escolhas políticas que são necessárias fazer hoje para depois se poder alcançar bons resultados. Se não fizermos isso, como se diz na “gíria” futebolística iremos “correr atrás do prejuízo”. Nada é mais certo do que a mudança, mas conhecendo o ponto de partida, sabendo onde queremos chegar e avaliando os diferentes caminhos possíveis, podemos mudar para um futuro melhor (Alexandre Valentim Lourenço).
Nota:
1 – Continua. Ler “cenas dos próximos capítulos”.
2 - Haja saúde. Haja saúde. Haja saúde.

António Raposo*

* Médico fisiatra e especialista em Medicina Desportiva

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