Acabo, mais uma vez, de ter alta do hospital (extensão funcional do HH no edifício do Centro de Saúde da Madalena). É o lugar onde me sinto melhor como doente internado pelo tratamento, não exclusivo, que me é dispensado por parte de todos os cuidadores: médicos, no caso médica internista, enfermeiros e pessoal auxiliar. Digo-o há muito: o Pico deveria orgulhar-se desta pequena conquista mais que merecida e destes profissionais que poderão ser exemplo em qualquer parte. Fala a voz da experiência e a todos eles me sentirei sempre imensamente grato, especialmente à dedicada e jovem médica, Drª. Ana Carolina Silveira.
Desde a inauguração deste edifício, e como acontece com todas as construções públicas edificadas na ilha do Pico, nota-se que o Centro de Saúde da Madalena não tem qualidade, apresenta deficiências nas paredes, teto, etc... É a nossa sina de picarotos como já escrevi algumas vezes. Mas esta construção recente é por demais sinal da nossa discriminação negativa, São fissuras, deslocação de materiais, humidade vincada... Enfim, um edifício pessimamente mal construído e certamente mal fiscalizado durante a sua construção visto haver deficiências que se começaram a notar logo desde a inauguração. Mas, como sabem, o picaroto contenta-se com pouco... Os vários pátios interiores, então, parece que nunca foram acabados. São ervaçal perdido a caminhar para floresta.
Desta vez o meu internamento deparou-se com uma péssima situação, até para mim que não me dou nada com ar condicionado. É que o nosso Centro de Saúde, incluindo a ala de internamento, está sem ar condicionado. Certamente não serei dos que têm maior razão de queixa nesse aspeto, mas creiam que é insuportável a um doente e, até mesmo a alguém saudável, ficar enjaulado por dias dentro de um edifício daqueles construído, certamente, com materiais sem qualidade, tetos de chapa a absorver constantemente o calor do dia, todos os quartos e divisões transformados em gabinetes de sauna... E, depois, as noites longas num vira-vira, para quem ainda se pode virar evidentemente, as horas a passar e o sono que nunca chega porque não há condições. Ninguém nos vale porque não há maneira de poder fazê-lo. Todos sofrem com o mesmo: os funcionários com a vantagem de não estarem doentes, os doentes com a vantagem de não terem que trabalhar e, assim, não despenderem esforços que os levem a uma maior transpiração...Uns e outros a sofrer.
Passam-se as noites em claro. Apenas consegui dormir um pouco durante uma das noites em que lá fiquei. Depois, só ouvindo o silêncio ou os ruídos do tempo, os pingos de chuva que caem compassadamente e penetram na estrutura recente e já tão degradada.
Dizem-me que as coisas estão assim desde há algum tempo, mas não há dinheiro....Para o Pico nunca há dinheiro. Para os doentes do Pico muito menos. Dinheiro só para festas, ralyes, campanhas, propagandas... E hão de vir os barcos elétricos que nos continuarão a levar para o Faial com bom e mau tempo, com mais ou menos doença, com mais ou menos, cada vez menos, coragem e disposição...
Será que alguma vez se fará alguma coisa de jeito no Pico? Um porto? Um terminal? Uma escola? Uma rampa? Um pavimento?
Ou estamos destinados a que tudo nasça torto à nascença?
Albino Terra Garcia