Diário dos Açores

Civismo precisa-se

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O tormento das festas da nossa senhora do rosário da lomba da maia voltou, pendular como cometa Halley.
Nota prévia: nada tenho contra festas e tradições, antes pelo contrário, espero que se perpetuem e mantenham o tecido de que é feito o povo insular. Discordo do assenhorear-se musicalmente do pimba e música brasileira que se tem verificado nas últimas décadas, mas admito que é para satisfazer o gosto da populaça.
Infelizmente discordo de foguetes e roqueiras que nos atormentam e aos nossos animais domésticos entre as 7 da manhã e as duas ou três da manhã seguinte, sem respeito pelo descanso dos que não têm nem saúde, nem idade nem propensão para as festividades.
Habito mesmo em frente a um improvisado bar, desses que nascem como cogumelos em todas as festas populares. Dali vêm sons que nem são demasiado altos em decibéis e onde as libações gastronómicas e de bebidas nem são incomodativas. O que me apoquenta são os jovens entre os 12 e os 20, em especial elas, que são histéricas, em alto tom e risos estrídulos cheios de hormonas, para impressionar os jovens cheios de testosterona.
São esses que me preocupam, bebem cá fora, urinam e vomitam nas escadas da minha casa, fazem demasiado barulho, chegam ao cúmulo de bater à porta.
Dantes, quando a saúde nos permitia, íamos passar esta semana a outra ilha, agora é mais difícil. Mas depois de 2023, vamos pensar em AL ou turismo rural noutra localidade durante este tormento das festas.
É raro o ano em que não escreva sobre este tema, no resto do ano não me incomodam nem eu incomodo ninguém, salvo o suplício das roqueiras por tudo e por nada.
Ora a RTP-Açores decidiu no sábado de festas repetir um magnifico concerto que a Ana Paula Andrade (excelente maestrina e nossa pianista residente nos colóquios da lusofonia desde 2008) deu no Teatro Micaelense em 2017 e ao qual assistimos in loco. Deliciados com esse néctar musical mal sabíamos o tormento que se seguiria durante a noite, mas antes ainda deu para tecer este poema ….
741. pianíssimo (à Ana Paula Andrade) 26.8.2023

as tuas mãos são poemas
que dedilhas no teclado
pianíssimos versos que invejo
umas vezes a solo
outras com solfejo
seja com violino ou violoncelo
a métrica rigorosa
desenha o bailado dos teus dedos
as teclas calcorreiam desertos
montanhas, mares e vulcões
impérvios a ciclones ou furacões
compões obras maiores que a ilha
mais altas que a montanha do pico
mais fundas que a fossa das marianas
poemas que dançam na partitura
vibrações únicas numa só leitura
o sentir e a alma açorianas

Chrys Chrystello*

*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713

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