Diário dos Açores

O Tempo revela o mais obscuro

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Saúde Pública e a Saúde do público, semana a semana (25):

A Ciência da Semana: 8 dias seria a medida certa para o isolamento de pessoas infectadas com o vírus da COVID-19? 

Os doentes com COVID19 exalam uma grande quantidade de vírus nos primeiros 8 dias de infecção, após o início dos sintomas, chegando a 1.000 cópias por minuto, confirmou o primeiro estudo longitudinal com análise directa do número de cópias virais de SARS-CoV-2 exaladas por minuto, ao longo da infecção (desde o primeiro sintoma até 20 dias depois), da “Northwestern Medicine”. Os investigadores testaram amostras de ar respiratório durante a infecção, para determinar quando é que uma pessoa é mais infecciosa. A partir do 8. dia  os níveis de vírus exalados caem drasticamente, até perto do limite de detecção – média de duas cópias exaladas, por minuto. O estudo mostra que doentes com sintomas leves e moderados exalam grandes quantidades de vírus; os casos gravemente sintomáticos exalam níveis mais elevados. Doentes vacinados e não vacinados exalam níveis semelhantes de vírus, ao longo da infecção. A quantidade de vírus exalado durante a infecção é a mesma, independentemente da variante com a qual a pessoa estava infectada.
As descobertas deste estudo podem ser usadas para calcular quanto tempo demora para um indivíduo exalar uma dose infecciosa de SARS-CoV-2. Por exemplo, se assumirmos que a dose infecciosa para COVID é de 300 cópias, então uma pessoa que exala 1.000 cópias virais por minuto exalaria uma dose infecciosa em 20 segundos (altamente arriscado viajar com ela num elevador, por exemplo). Ao saber “quantos vírus alguém exala por dia, após o início dos sintomas”, peças críticas do quebra-cabeça de como evitar a propagação do COVID-19 encaixam. Esta informação diz-nos quando alguém com COVID-19 deve ser isolado; quando é mais provável que infecte outras pessoas, ao exalar o vírus no ar ao seu redor; e quando se torna muito menos propensos a espalhar a infecção. Estas informações são muito importantes para o controle de infecções, e para as recomendações de saúde pública.
Para já, parece demonstrar-se que baixar o tempo de isolamento dos infectados abaixo dos 7 dias foi um erro, agravado por tal ter sido decidido no alvor de uma nova variante, a omicron. Um erro. 
A COVID-19 foi um dos 5 piores eventos de mortalidade em massa, nos últimos quase 200 anos, a par da primeira guerra mundial, da pandemia de gripe de 1918, da grande depressão e da segunda guerra mundial. Será que todos já perceberam o que estamos a viver? Estarão disponíveis para assumir as consequências da inércia (e das acções disparatadas) perante tudo isto?
A COVID acabou. Mas, a COVID está em todo o lado, à nossa volta. Não precisamos de nos preocupar. Excepto aquelas pessoas que devem preocupar-se. Um mundo esquizofrénico.

Os dados para análise: assistimos ao fim do Serviço Público de saúde? 

No início de Setembro um grupo de médicos enviou ao ministro da Saúde uma carta aberta, com mais de 1.000 assinaturas, a avisar da sua indisponibilidade para fazerem mais horas-extra, a partir de 12 de Setembro. Desde então houve problemas na elaboração da escala do serviço de urgência em muitos hospitais, de Viana do Castelo ao Garcia da Orta (Almada), de Braga, Matosinhos e Aveiro a Portimão e ao Hospital de Santa Maria. O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, veio avisar que “alguns hospitais terão dificuldade em garantir o funcionamento do seu serviço de urgência, com todas as consequências que isso poderá ter para a saúde das populações”, acrescentando que “existe uma possibilidade real de termos dificuldades para assegurar alguns serviços de urgência”. No seu entender, estar a utilizar o risco de encerramento de urgências para “tentar impor uma solução para as negociações das grelhas salariais e da organização do trabalho médico” com a tutela não é adequado. (…) Numa visão de curto prazo, o que nós gostaríamos é que as pessoas tivessem bom senso, percebessem aquilo que está em causa, o direito à saúde por parte das populações e que, no fundo, não optassem por esse caminho, que é um caminho perigoso que pode de facto repercutir-se na saúde das pessoas”. A médio e longo prazo, defendeu que “o que faria sentido era que as urgências fossem estruturadas, organizadas em função de equipas dedicadas”, com várias especialidades, em que a pessoa presta serviço de urgência em horário normal, com um regime de incentivos próprios, como tem vindo a ser defendido por diretores de serviços da urgência de vários hospitais e pelos administradores hospitalares.

A homenagem da semana: a satisfação dos médicos do “Internato Médico”, em 2021 e 2022. E Israel.

1. O Internato Médico é a base da formação médica pós-graduada, sendo um período formativo no qual a Ordem dos Médicos (OM) desempenha um papel fundamental. 

Por isso, a própria OM tudo faz para conhecer a realidade dos Médicos internos, nas diversas especialidades, e nos mais diversos locais formativos de Portugal. Deste modo, na continuidade do trabalho iniciado com os “Inquéritos de Satisfação com o Internato Médico” referentes a 2021, foram os mesmos novamente aplicados, para avaliação do ano de 2022. O Estudo foi feito a nível nacional (e está disponível em https://inqueritos.cnmi.pt/frontend/general-satisfaction-institution/0/2022).
Nos resultados deste inquérito da OM constatamos que, entre 2021 e 2022, o HDES de Ponta Delgada subiu 6 posições. 
Verificamos que, em 2022, o HDES de Ponta Delgada ficava à frente do Hospital Central do Funchal, do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, E.P.E. (Hospital de São Francisco Xavier), Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, E.P.E. (“Os Civis” de Lisboa), do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho, E.P.E., do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, E.P.E. (Hospital de Santa Maria), do Instituto Português Oncologia de Coimbra Francisco Gentil, E.P.E., do Hospital da Senhora da Oliveira - Guimarães, E.P.E., ou do Instituto Português Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, E.P.E.! Extraordinário.
Atente-se: falamos da satisfação dos médicos internos, avaliada por um questionário anónimo, por iniciativa da OM. O leitor desta crónica está confuso ao ler isto, recordando as múltiplas intervenções das 2 responsáveis da Ordem dos Médicos nos Açores, em 2021 e 2022…? Poderá tirar as suas conclusões. Todas.
Saliento: em 2021 os médicos internos davam 13,32 valores ao HDES (numa escala de 0-20) e em 2022 davam 13,84, subindo assim 1 valor e 6 lugares, no todo dos hospitais nacionais. Em lado algum do mundo consideraríamos 14 valores uma má nota. Todos concordamos neste ponto. Por isso, é sempre tempo de felicitar quem tudo fez para atacar uma Pandemia e combater vergonhosas listas de espera, enquanto (como agora a própria Ordem dos Médicos demonstra) era alvo de injustos e permanentes ataques, onde ódios sem explicação negavam a lógica de uma realidade, silenciosa. A política é um jogo de visibilidades. E de ilusões. É uma pena quando a gestão de Saúde, sobretudo nos poucos locais onde se coloca de facto o cidadão no centro do sistema, se torna um jogo político. Algo nunca visto, como vimos então.
2. Israel. As nossas preces e orações estão com todas as vítimas de ataques terroristas, sem sentido, como é a lógica do terrorismo. É inimaginável o sofrimento das famílias das centenas de crianças e jovens, decapitados, vítimas de raptos e de sevícias insanas.

Mário Freitas*

*Médico  consultor (graduado) em Saúde Pública, com a competência médica de Gestão de Unidades de Saúde

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