Diário dos Açores

Quanto tempo vai durar a intervenção?

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Opinião

Decorridos treze anos sobre a data em que assinei a diretiva n.º 2/2010 sobre a forma como os agentes da polícia municipal de Ponta Delgada deveriam intervir na problemática dos “sem-abrigo”, eis que a Câmara de Ponta Delgada decide repor em prática os procedimentos.
Depois de tudo o que se disse, se escreveu e das considerações e das falsidades propagadas pelos inqualificáveis do costume, foram precisos 13 anos, um estudo dirigido pela associação Novo Dia para se chegar à conclusão que a forma adequada de intervenção na problemática era o que estava estampado na referida diretiva.
É discurso fácil dizer-se que a problemática dos sem-abrigo não é de cariz policial. É discurso fácil dizer-se que os técnicos de intervenção social nada conseguem fazer contra quem não quer ajuda. É discurso fácil dizer-se que as ambulâncias não são para transportar sem-abrigo embriagados. É discurso fácil dizer-se que os sem-abrigo têm direito a estar na rua. É discurso fácil argumentar-se tudo quanto se quiser para justificar a omissão da ação.
Tal como diz o provérbio: “quem quer faz, quem não quer arranja desculpas.”, foi exatamente o que se passou durante mais de uma década em Ponta Delgada relativamente à questão dos sem-abrigo.
Como sempre, bem no timbre da arte de ser português, como diria Teixeira de Pascoais, é preciso que uma problemática atinja uma dimensão expressiva, para se encontrar motivação para intervir. Foi o que se passou e com a particularidade de alguns dos responsáveis pela ação, ou melhor pela omissão, terem lavado as mãos, jurando a pés juntos que nada podiam fazer.
Como se ousa dizer, mais vale tarde que nunca, contudo não basta o anunciar na comunicação social a assinatura de um protocolo e o arranque da intervenção. Importa sobretudo, que agora se faça um trabalho robusto, monitorizado, com relatórios periódicos das ações, dos resultados, e com capacidade de se reavaliar e ajustar as estratégias. É fundamental que os intervenientes tenham a convicção de que estão a seguir a estratégia correta, de contrário, será mais uma iniciativa, com os dias contados e com resultados aquém do desejado. 
É pena que a PSP não se tenha também associado ao protocolo como entidade parceira do projeto, até porque está “condenada” a fazer parte da intervenção sempre que se verificar uma alteração da ordem pública, com a intervenção dos técnicos, o que, infelizmente, por vezes acontece.
Na realidade tudo não passa de uma questão de sentido de dever de ação, de responsabilidade e de comprometimento com a “coisa pública”, porque em matéria de intervenção social, para mudar comportamentos e atitudes, todos somos sempre poucos.
Resta-nos esperar pelos futuros atores, porque alguns já passaram à história sem honra nem glória…


Alberto Peixoto

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