Diário dos Açores

A RAMPA das reservas pesqueiras da UE

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Se as expetativas relativamente à sessão de 12 de Setembro da Blue Azores não eram grandes, menores ficaram quando foi logo explicado que era só no sentido mesa-ouvintes e sem direito sequer a perguntas de esclarecimento.
Mas, passando à frente, se bem percebi tudo, ou quase tudo, era sobre a área grande à volta das ilhas (o que realmente interessa à UE) e as costeiras nem iam ser abordadas, correspondiam a menos de 1% do total e teriam a mesma gestão que antes, mais ou menos, mas com o turismo a tentar “ajudar”.
Passou-se aos milagres da ciência, que tudo permite explicar; deviam chamar Science ou melhor “Bluescience” e tem aquelas imagens lindas de coisas longe, longe a preservar e muito bem, e que eles agora vão com mais um navio de 30 milhões, fora os emprestados e alugados fora, explorar durante uns 20 ou 30 anos, sem terem de dar satisfações ou resultados aos cidadãos, porque, claro, são coisas que estão muito longe dos olhos ou dos conhecimentos dos Açorianos.
É a vantagem da “Bluescience”,  poderão publicar quase tudo o que quiserem sem esperar perguntas ou contraditórios.
Como estava lá para as áreas costeiras, que são as que impactam mais com a vida das pessoas normais, nem vou dar (nem poderia) opinião sobre toda aquela “Blue Science”, mas registo a colaboração dos “Stakeholders” (não traduzo porque alguns Açorianos pensariam logo que estavam a ser roubados por estrangeiros) e tudo parecia muito bem organizado e apresentado com qualidade e muito trabalho de mare, só posso desejar a melhor das sortes a este programa e que faça esquecer tudo de mau que Portugal e a Autonomia dos Açores fizeram nos últimos 30 anos nos nossos mares, desde o massacre dos tubarões e a colaboração ignóbil com os chineses na venda das barbatanas, apenas para dar um exemplo que me enojava todas as vezes que via descargas no Faial e pensava quantos teriam sido, pura e simplesmente, descartados para o mar, e as barbatanas escondidas para venda aos olhinhos traçados.
É apenas um exemplo, poderia dar mais 3 ou 4,  mas tudo que venha será sempre melhor, seja da “bluescience “ ou da colaboração voluntária (mais ou menos).
Quanto às áreas costeiras fiquei com a impressão que era o turismo que iria “gerir”, se calhar o turismo de massas, que tem uma perspetiva de pilhagem que não augura nada de bom.
A informação é um caos total, possivelmente de propósito, como de costume, em que aquilo que realmente interessa aos Açorianos é submerso em milhares de páginas de lixo informativo, cheio de boas intenções aparentes, mas muitas vezes escondendo sinistras discriminações , favoritismos e pseudo intenções de proteção.
E há indícios preocupantes nestas áreas, depois de um renascimento tímido com a pandemia e melhorias visíveis em recursos como as lapas, os polvos e os crustáceos, que agora estão a ser chacinados a toda a velocidade, quase sem fiscalização (embora com honrosas excepções), para encher as mesas dos restaurantes, para que nada típico falte aos turistas, seja a que preço for para os habitantes.
Vemos nas ruas sacos de polvos, alguns quase acabados de nascer, pessoas com 10,15 Kg de lapas e o principal que seria a rastreabilidade destes recursos nos locais de consumo, os restaurantes, é nada, ou menos que nada, aquários atafulhados de lagostas, algumas muito abaixo do mínimo, isto apenas para dar um exemplo.
No ano que vem devemos voltar nas ilhas da pilhagem (que algumas vão-se protegendo felizmente) à situação de antes da pandemia.
Nas “reservas turísticas”, com letra pequena, não sei mas vou descobrir se a regulamentação já foi expurgada das ilegalidades e inconstitucionalidades que continha, com o crime de discriminação aos Açorianos incluído, e outras espertezas pseudo-administrativas para iludir e disfarçar o mesmo crime.
Mas como o orador falou de um conflito no Ambrósio entre a pesca e não percebi quem, vou falar de outro conflito nessa “reserva”, entre um iatista Açoriano de S. Miguel e um alemão supostamente dono de uma MT em Santa Maria, que gritava, no pouco que ele percebia, que a Reserva era dele e que ia chamar a PM para o expulsar.
Mas alguém daquela ilha lhe deve ter metido essa ideia, peregrina e perigosa, na cabeça unidirecional de alemão, mas,enfim, o meu amigo acho que lhe disse em Português o que pensava dele e ignorou-o.
Gostava de ver um conflito destes chegar a Tribunal, mesmo dos normais, que no Constitucional os direitos, liberdades e garantias violados poderiam dar uma grande asneira.
Para terminar com um exemplo das reservas mais antigas, pequenas e acessíveis, temos a do Dori, navio afundado desde 62 ou 63 junto á praia do Pópulo, centro de uma reserva com 800m de diâmetro (quase chega a terra), onde tenho mergulhado desde há mais de 50 anos.
Uma avaliação do local, no ano passado, confirmou centenas de exemplares de peixe porco, lírios, enxaréus, grandes bicudas e até atuns pequenos foram filmados, tudo isto está bem documentado, até uma espécie de lírio rara nos Açores lá fotografamos.
Claro que este ano a situação é diferente com a alga invasora a estragar a experiência do local algumas vezes e muito pouco peixe em água livre, embora os mergulhadores da MT, ao nível do fundo, a 18m, continuem a achar os destroços do navio interessantes e com vida suficiente.
Nos poucos peixes em água livre foram vistos vários com ferimentos, o que pode indiciar pesca furtiva, provavelmente noturna.
Se não se consegue proteger uma pequena reserva à vista de todos, o que acontecerá a centenas de milhas?
Muitas vezes, nos últimos 15 anos, encontrei navios grandes, claramente a pescar à noite com grandes luzes na linha direta entre S. Miguel e a Terceira, principalmente na zona antes do banco D. João de Castro.
Com a nova Lei do Mar do PS todas estas belas intenções ficam no papel e, francamente, o que gostaria era de uma lei com partilha e poder de veto da República e da Região, assim talvez se protegesse qualquer coisa.
Para terminar, e ainda dentro da “Bluescience“, que tudo resolvel gostaria imenso de conseguir saber quantos, de entre acho que quase uma centena de investigadores, estarão a estudar a alga invasora da Autonomia?

João Paim

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