Diário dos Açores

Instalações Desportivas nos Açores: A importância do saber ver mais longe

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Após assumir as funções de Director Regional de Educação Física e Desportos (1982), na Secretaria Regional da Educação e Cultura, fui confrontado com a existência de instalações desportivas construídas sem grande rigor, quer na sua localização, quer no seu conteúdo funcional. Numa região com imensas carências de espaços para a prática desportiva era imperioso fazer o seu máximo aproveitamento, tanto nas actividades curriculares (ensino desportivo) e extra curriculares (desporto escolar), assim como no treino e competição na área do associativismo desportivo. Nessa perspectiva, os pavilhões desportivos e os campos exteriores deveriam passar a ser localizados, prioritariamente, nas escolas preparatórias e secundárias e, simultaneamente, possuir condições regulamentares de prática desportiva escolar e federada.
No âmbito desta orientação, a Secretaria Regional da Educação e Cultura, através da DREFD, passou a elaborar os programas das instalações desportivas dos novos estabelecimentos de ensino e a trabalhar em estreita colaboração com a Secretaria Regional das Obras Públicas. Como resultado das inúmeras reuniões de trabalho realizadas com os gabinetes projectistas e permanente acompanhamento das obras pela equipa de fiscalização (arquitectos, engenheiros e profissionais de educação física) obtivemos excelentes resultados. O complexo desportivo da Escola Secundária das Laranjeiras, na cidade de Ponta Delgada, é um excelente exemplo à escala regional e nacional, na diversidade e qualidade das  instalações desportivas. Complexo desportivo pioneiro no país ao nível do ensino secundário e, até superior, à maioria das instituições de educação física e desporto do ensino superior.
A Escola Secundária das Laranjeiras foi um marco histórico na construção escolar em Portugal e deu-nos uma perspectiva futura, de ver mais longe, no âmbito do ensino e aperfeiçoamento desportivo e consequente valorização da nossa juventude. O programa de referência aprovado na construção das instalações desportivas da Escola das Laranjeiras manteve-se relativamente aos novos estabelecimentos de ensino que foram, posteriormente, construídos nos Açores. As escolas secundárias da Praia da Vitória, Angra do Heroísmo, Horta e Madalena do Pico são alguns bons exemplos dessa realidade. De igual modo, foi proporcionado ao desporto federado a utilização regular e gratuita (treino e competição) das instalações desportivas após o horário escolar. Assim, o associativismo desportivo local, carente de instalações desportivas adequadas,  passou a desfrutar sem encargos de um apoio fundamental no desenvolvimento desportivo a nível concelhio.
 A conjugação do trabalho de equipa realizado entre a Secretaria Regional das Obras Públicas e a Secretaria Regional da Educação teve um efeito imediato. As Obras Públicas então chefiadas pelo Secretário Regional, Eng. Germano Domingues, e os seus colaboradores mais próximos, Eng. António Calado (Director Regional) e Eng. Rui Camilo (Director de Serviços) foram os grandes vencedores desta mudança. A eles se deve a concretização dos projectos inicialmente propostos.

O Desporto e o Plano de Recuperação e Resiliência
Tenho lido muita coisa sobre o PRR e onde as respectivas verbas vão ser aplicadas. Contudo, ainda não vi ninguém falar ou escrever sobre a inclusão do desporto neste Plano. As duas mais emblemáticas instalações desportivas açorianas, construídas há umas décadas atrás, nas cidades de Ponta Delgada e Angra do Heroísmo continuam a necessitar de serem intervencionadas. Por sua vez, as escolas mais antigas também necessitam de serem recuperadas. Será uma enorme desconsideração para com o associativismo desportivo (clubes e associações de modalidade), assim como, para com as crianças e jovens desportistas das duas principais cidades açorianas, se não for aproveitada esta ocasião para a solução definitiva desta problemática situação.

Estádio de Ponta Delgada
Os problemas relacionados com a modernização do Estádio de Ponta Delgada, a renovação do sistema de drenagem do relvado e a construção de campos relvados para treino são um problema que se arrasta há muitos anos. A manutenção da equipa do S. Clara na Liga Profissional de Futebol passa, essencialmente, pelo apoio concedido em matéria de instalações desportivas. A utilização do campo relvado da Escola das Laranjeiras deve ser considerada uma situação provisória, porque só pode ser efectuada após as actividades curriculares. Soluções provisórias não resolvem definitivamente o problema. O S. Clara merece melhores condições de trabalho.

Parque Desportivo de Angra do Heroísmo
No que diz respeito ao Parque Desportivo de Angra do Heroísmo, que foi construído para colmatar a enorme falta de instalações desportivas (desde o meu tempo de aluno do Liceu), numa cidade com enormes tradições no desporto, continua a aguardar há décadas a sua conclusão. Para além do Estádio João Paulo II e da respectiva pista de atletismo, foi construído um pavilhão sem medidas regulamentares. Um parque desportivo com aquela dimensão tem que dar resposta às solicitações (treino e competição) das diversas modalidades do associativismo desportivo juvenil do concelho.  Os Açores necessitam de uma piscina olímpica como meio de aperfeiçoamento e preparação dos nossos jovens nadadores para as competições nacionais e internacionais. Uma piscina olímpica é uma mais valia porque também permite a organização de eventos a nível regional, insular, nacional e internacional. O Parque Desportivo de Angra do Heroísmo, pela centralidade da ilha Terceira, é o local apropriado para a sua localização. Os nossos amigos madeirenses têm uma piscina olímpica a funcionar desde 2004. Só estamos atrasados 20 anos.

Instalações Desportivas Escolares
Nas diferentes ilhas dos Açores existem Escolas do Ensino Secundário que estão em  estado de degradação. Se verificarmos o que se passa com as instalações desportivas, que são utilizadas pelos alunos durante o período escolar e pelo associativismo desportivo ao fim do dia, então a degradação é mais acentuada. Quanto mais tarde encetarmos a sua recuperação maior será o prejuízo para os alunos e mais onerosa a sua recuperação. Estamos perante um dilema que merece um levantamento da situação e uma solução urgente. Já chamei a atenção, em diversos artigos, da necessidade de encaminhamento dos jovens para a prática desportiva, como meio de combate ao álcool, droga e tabaco e, nesse sentido, as instalações desportivas são fundamentais.
Haja Saúde para se ver mais longe.

Eduardo Monteiro

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