Ao chegarmos ao fim do ano de 2023, continuamos a constatar que nos Açores grande parte da população não lê, e, simultaneamente, verificamos que, por insuficiência pedagógica, com a introdução da digitalização dos manuais escolares, ou devido à acção de diversos tipos de captação e entretenimento, o livro esse alicerce maior da nossa cultura e da liberdade, corre sérios riscos de subalternização, ou pior, de ser olhado como objecto cultural ultrapassado e supérfluo.
Conhecedor e consciente desta situação, entendo como dramático, a falta de sensibilidade e o total desinvestimento nesta área por parte dos decisores políticos. Continuamos a constatar que grande parte dos açorianos nunca usufruíram do prazer da leitura, nunca tocaram, ou folhearam um livro novo que se dispõe a ser lido e a retribuir generosamente o fascínio ao seu leitor.
Para a sua concretização, torna-se fundamental criar hábitos de leitura. Quer fazendo chegar o livro a todos os lugares onde residem os seus potenciais leitores, quer desenvolvendo múltiplos processos de sedução que valorizam sempre o livro com uma misteriosa riqueza espiritual partilhável, positiva em todas as suas vertentes.
Urge criar, empenhadamente, linhas programáticas, e estabelecer um vasto e muito imaginativo programa, capaz de explorar todos os estímulos, desenvolver processos, envolver entidades, ganhar espaços com o objectivo último de incentivar e universalizar o gosto e o prazer da leitura.
A base deste manifesto – que se deseja o mais ambicioso e eficaz possível – surge de uma certeza irrefutável: é confrangedor para todos chegarmos até aqui com pessoas que raramente ou nunca leram um livro.
Não quero ser neutro. Não quero ser cúmplice de tamanha injustiça cultural, por isso, com o meu humilde contributo, convido a sociedade civil a não ficar indiferente a este assunto.
Por tudo isto, proponho as seguintes medidas que podem ser apoiadas por todos nós, e devem, com responsabilidades acrescidas por parte das identidades publicas responsáveis levadas à prática:
1) Realização de uma grande campanha de marketing à promoção da leitura, com imagem e slogan apelativo, difundida nos órgãos de comunicação, tais como jornais, televisão e rádio. Uma campanha publicitária eficiente de ampla divulgação, sendo, por sua vez, uma forma de apoiar esses mesmos meios de comunicação.
2) Atribuir verbas do Orçamento do Governo Regional e das Câmaras Municipais para a compra de livros para as bibliotecas escolares, bibliotecas públicas, bibliotecas municipais (estas compras feitas em livrarias locais com sede nos Açores).
3) Cheque Livro; distribuição de um cheque livro anual pelas crianças /jovens, até aos 18 anos de idade, a ser trocado nas livrarias locais com sede no nosso arquipélago (com valor a estudar).
4) Criação de horário escolar para leituras de prazer extracurriculares.
5) Criação de Bibliotecas de freguesia, equipamentos de proximidade das populações ao livro. Atividades de promoção da leitura para famílias.
6) Ações de formação para mediadores à leitura, tais como, pais, professores, educadores de Infância, bibliotecários, livreiros, entre outros.
7) Exposição interativa de incentivo à leitura a percorrer as escolas da região.
8) Um dos principais agentes mediadores, responsáveis pela distribuição e promoção do livro e da leitura, são as livrarias. Só com a alteração no acesso aos livros e nos hábitos de leitura se pode ajudar a que estas empresas livrescas cresçam saudavelmente, por isso, devem ser ouvidos os livreiros e os editores da região, para que se encontre soluções à sustentabilidade das livrarias locais.
Cada vez mais a evolução das sociedades futuras, nas suas mais várias dimensões, devem ter como linha progressiva o desenvolvimento cultural e científico das populações.
José Carlos Frias